O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 1,4% no primeiro trimestre de 2025 em relação ao último trimestre de 2024, como esperado, de +0,2%, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira (30). O principal motor desse avanço foi o setor agropecuário, que apresentou uma expressiva alta de 12,2%, impulsionada pela safra recorde de soja e pelas condições climáticas favoráveis.
Na comparação com o mesmo período de 2024, o PIB registrou crescimento de 2,9%, consolidando a 17ª taxa positiva consecutiva, a expectativa do consenso era de+3,2%. No acumulado dos últimos quatro trimestres, o avanço foi de 3,5%, indicando resiliência da economia brasileira em meio a um cenário global ainda incerto.

Agropecuária lidera crescimento com safra recorde
O desempenho da agropecuária foi determinante para o resultado do PIB no primeiro trimestre. Com peso aproximado de 6,5% na economia, o setor foi favorecido por uma combinação de fatores: clima favorável e baixa base de comparação em 2024. Segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA/IBGE), produtos como soja (13,3%), milho (11,8%), arroz (12,2%) e fumo (25,2%) registraram expansão significativa.
De acordo com Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, “é esperada uma safra recorde de soja, nosso produto agrícola mais importante, o que explica o desempenho robusto do setor”.
Serviços avançam, impulsionados por tecnologia
Os Serviços, que representam cerca de 70% do PIB, cresceram 0,3% no trimestre. Dentro desse segmento, o maior destaque foi Informação e Comunicação, com alta de 3,0%, reflexo do crescimento contínuo de atividades ligadas à internet e ao desenvolvimento de sistemas.
“O grande destaque dentro dos Serviços foi a atividade de Informação e Comunicação, que cresceu mais de 38% desde a pandemia”, afirmou Rebeca Palis.
Outros setores de Serviços também avançaram: Outras atividades de serviços (0,8%), Atividades imobiliárias (0,8%), Administração pública (0,6%) e Comércio (0,3%). Por outro lado, houve queda em Transporte, armazenagem e correio (-0,6%) e estabilidade nos Serviços financeiros (0,1%).
Indústria se mantém estável, afetada por política monetária restritiva
A Indústria, que responde por cerca de 25% do valor adicionado ao PIB, apresentou leve retração de 0,1%, considerada uma estabilidade. Dentro do setor, as Indústrias de Transformação (-1,0%) e a Construção (-0,8%) registraram queda, impactadas negativamente pela política monetária restritiva, que eleva os custos de crédito e investimentos.
Por outro lado, houve crescimento nas atividades de Eletricidade e gás, água, esgoto e gestão de resíduos (1,5%) e nas Indústrias Extrativas (2,1%), puxadas principalmente pelo aumento da extração de petróleo e gás.
Demanda interna e setor externo também contribuem
Sob a ótica da demanda, o consumo das famílias subiu 1,0% no trimestre, impulsionado pelo aumento da renda e pela melhora gradual no mercado de trabalho. Já a Formação Bruta de Capital Fixo, indicador de investimentos, cresceu 3,1%, refletindo uma retomada no investimento produtivo.
No setor público, a Despesa de Consumo do Governo ficou praticamente estável, com variação de apenas 0,1%.
No setor externo, as Exportações de Bens e Serviços avançaram 2,9%, enquanto as Importações cresceram ainda mais, com alta de 5,9%, indicando uma demanda interna aquecida, mas também aumento na dependência de produtos estrangeiros.
PIB atinge R$ 3 trilhões em valores correntes
Em valores correntes, o PIB brasileiro totalizou R$ 3 trilhões no primeiro trimestre de 2025. Desse montante, R$ 2,6 trilhões correspondem ao Valor Adicionado a preços básicos e R$ 431,1 bilhões aos Impostos sobre Produtos líquidos de Subsídios.
A próxima divulgação do PIB, referente ao segundo trimestre de 2025, está prevista para o dia 2 de setembro. Até lá, o desempenho da agropecuária e a trajetória da política monetária serão fatores decisivos para manter ou alterar o ritmo de crescimento da economia brasileira.
Para Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, o resultado do PIB brasileiro no primeiro trimestre veio em linha com as expectativas, com crescimento superior a 1%.
“Ainda que o setor agro tenha avançado 12%, a abertura do PIB foi bastante boa, com serviços em expansão e a indústria recuando pouco”, destaca.
Pelo lado da demanda, o economista ressalta a recuperação do consumo das famílias, que cresceu 1%, após ter registrado queda de 0,9% no quarto trimestre do ano passado. “O que vimos no primeiro trimestre foi uma reaceleração da economia”, afirma.
Kautz lembra que esse padrão tem se repetido nos últimos anos, com um primeiro semestre mais forte, impulsionado por medidas sazonais do governo, como antecipação de gastos e transferências de renda, o que depois resulta em perda de ímpeto no segundo semestre.
“Nossa expectativa é, mais uma vez, de um segundo semestre mais fraco”, projeta. Ainda assim, ele observa que o segundo trimestre já começou bem, com taxa de desemprego baixa e consumo ainda forte.
Em relação ao cenário macroeconômico, Kautz pondera que não há, por ora, grandes sinais de desaceleração. “Isso, obviamente, é uma preocupação para o Banco Central, que precisa que a economia cresça um pouco menos para ter certeza de que a inflação vai desacelerar”, conclui.
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