A paralisação do governo dos Estados Unidos, iniciada nesta quarta-feira (1º), pode atrasar as negociações para o encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Donald Trump. Segundo fontes ouvidas pela CNN Brasil, o foco da administração americana está voltado para resolver a crise orçamentária que levou ao chamado shutdown, deixando a reunião entre os dois líderes em segundo plano.
Interlocutores da diplomacia afirmaram que o tema central em Washington neste momento é a busca por uma solução que permita retomar o funcionamento da máquina pública. Até esta segunda-feira (29), não havia definição sobre o formato do encontro – se seria presencial ou virtual – e o impasse pode empurrar a conversa para a próxima semana.
Uma das fontes ouvidas pela CNN avaliou que a turbulência interna nos EUA tem consumido todos os esforços do governo Trump e, por isso, não houve resposta oficial sobre a agenda bilateral. Um interlocutor em Brasília chegou a considerar que a situação “pode até vir a calhar”, já que o Planalto também não tinha novidades concretas sobre o diálogo e pode usar o shutdown como justificativa para o adiamento.
Alckmin avança em tratativas
Enquanto o encontro presidencial não se confirma, o vice-presidente Geraldo Alckmin tem mantido as conversas com autoridades americanas. Nesta terça-feira (30), ele voltou a dialogar com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, em continuidade a uma rodada de tratativas que já havia começado na semana passada, após o aceno de Trump a Lula durante a Assembleia Geral da ONU.
De acordo com fontes da CNN, Alckmin e Lutnick trataram de pontos de interesse bilateral que devem compor a pauta da reunião presidencial. Entre eles, estão temas ligados ao comércio e a uma resolução da Anatel sobre data centers, que estaria dificultando a entrada de empresas estrangeiras no setor de tecnologia no Brasil.
A avaliação no governo brasileiro é de que a “boa química” entre Lula e Trump, manifestada nos encontros multilaterais, pode ajudar a abrir espaço para avanços em áreas como energia, tecnologia e comércio exterior. Ainda assim, a definição da reunião dependerá da capacidade da Casa Branca em contornar o shutdown.
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Contexto do shutdown
O governo dos EUA entrou em paralisação parcial após o Congresso não conseguir aprovar o orçamento dentro do prazo legal. Com isso, cerca de 750 mil servidores federais considerados “não essenciais” foram afastados, e serviços como emissão de passaportes, funcionamento de parques nacionais e liberação de empréstimos estudantis estão temporariamente suspensos.
Especialistas lembram que o shutdown não é novidade: desde a década de 1980, foram mais de dez paralisações semelhantes, algumas prolongadas, como a de 2018-2019, que durou 35 dias e foi a mais longa da história. Desta vez, o impasse envolve divergências entre republicanos e democratas em torno de medidas ligadas à saúde e à política social.
Economicamente, a interrupção pode trazer volatilidade aos mercados e atrasar a divulgação de indicadores relevantes, como o relatório de empregos, essencial para o Federal Reserve. Politicamente, o episódio reforça a polarização em Washington e aumenta a pressão sobre Trump, a pouco mais de um ano das eleições legislativas de 2026.