O gestor Luis Stuhlberger, da Verde Asset, afirmou nesta segunda-feira (29) que a eleição presidencial de 2026 deve ser uma das mais polarizadas das últimas décadas e tende a provocar forte volatilidade nos mercados, em nível semelhante ao observado em 2014, quando Dilma Rousseff venceu Aécio Neves por margem apertada.
Em evento promovido pelo Itaú BBA, em São Paulo, Stuhlberger avaliou que o risco eleitoral já começa a ser incorporado nos preços, mas o pleito caminha para um cenário de “cauda longa” e de resultado “binário”.
“É diferente de 2002, quando Lula já tinha a vitória praticamente assegurada antes da votação. Agora parece ser um jogo 53 a 47, algo muito dividido. Isso mexe com os preços e com a forma de se proteger”, disse.
Stuhlberger e eleição 2026: Opções caras até a reta final
Segundo o gestor, em disputas desse tipo, os prêmios de proteção permanecem elevados até a véspera da eleição, já que não há “time decay” — a perda natural de valor das opções até seu vencimento. Ele lembrou que, em 2014, opções de dólar e índice chegaram a precificar volatilidade de 150% diante da incerteza sobre o resultado.
Apesar da tensão, Stuhlberger ressaltou que a continuidade de Lula em 2026 é vista como relativamente previsível.
“A impressão hoje é que Lula 4 não seria muito pior que Lula 3. Não é um cenário de pânico”, afirmou. Um gesto de responsabilidade fiscal, como atrelar reajustes da Previdência ao IPCA em vez do salário mínimo, poderia, segundo ele, acalmar investidores já na noite da vitória.
O gestor comparou ainda um eventual ajuste pós-eleitoral a uma “versão Joaquim Levy 2”, em referência ao choque fiscal anunciado após a reeleição de Dilma Rousseff.
“O maior estelionato eleitoral da história foi Dilma 2, que fez tudo o que fez e depois colocou o Joaquim Levy. Vejo algo nesse sentido como possível de acontecer de novo.”
Ceticismo sobre “rali Tarcísio”
Stuhlberger também rebateu duas hipóteses correntes no mercado. A primeira é a de que a eventual consolidação da candidatura de Tarcísio de Freitas poderia disparar um rali nos ativos. Para ele, apenas a definição do nome não seria suficiente para uma valorização expressiva.
“Não vai mudar muito. Há até um risco de confusão no primeiro turno, com a possibilidade de surgir um candidato competitivo fora do eixo Lula-Bolsonaro, que poderia alterar a dinâmica e favorecer o atual presidente”, avaliou.
A segunda leitura descartada foi a de competitividade de Pablo Marçal, considerado por parte do mercado como um risco relevante no início do ano. “Está fora do jogo por estar inelegível”, resumiu.
Posições da Verde
Em meio às incertezas, a Verde Asset mantém estratégia global com posição vendida em dólar, expressa em ativos como ouro, criptomoedas, euro e yuan offshore. No Brasil, a casa mantém exposição modesta, concentrada em títulos de inflação longos e em uma estrutura de derivativos ligados ao índice EWZ.
Stuhlberger destacou que essa estratégia tem “grande potencial de valorização”, já que os derivativos vencem seis meses antes da eleição e ainda pagam prêmio considerado interessante.
Dólar em xeque
Além da pauta eleitoral, Stuhlberger reforçou a visão de que o dólar deve passar por um ciclo de desvalorização nos próximos anos, em meio à queda dos juros nos Estados Unidos e à busca global por ativos reais.
“Daqui a um ano ou dois, os Fed Funds podem estar, por exemplo, em 2,5%. Na hora que isso acontecer, o hedge para sair do dólar, se não acontecer antes, vai ser forte e vai desvalorizar mais. Eu acredito isso”, afirmou.
Apesar da queda de cerca de 10% em 2025, o dólar ainda opera acima de sua média histórica, observou o gestor. Para ele, o movimento de migração para ativos reais, como ouro, Bitcoin, cobre, urânio e ações de infraestrutura, já está em curso, mas envolve o risco de “entrar tarde demais na corrida”.
“No problema de você comprar ouro a US$ 10 mil ou Bitcoin a US$ 500 mil, você se dá um autocalote para sair do dólar. Só que quanto você está pagando a mais nessa corrida, ninguém sabe”, disse.
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