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Quem foi Sergei Magnitsky: entenda a origem da lei

Quem foi Sergei Magnitsky: entenda a origem da lei

A chamada Lei Magnitsky ganhou os holofotes no Brasil após ser citada no caso que envolve o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Mas afinal, quem foi Sergei Magnitsky e como surgiu essa lei que hoje tem alcance global?

Quem foi Sergei Magnitsky

Sergei Magnitsky foi um advogado tributário russo, nascido em 1972, que trabalhava para o fundo de investimentos estrangeiro Hermitage Capital Management, de propriedade do britânico William F. Browder.

Magnitsky ganhou notoriedade ao denunciar um esquema de corrupção e desvio de US$ 230 milhões envolvendo autoridades do Ministério do Interior da Rússia. Pouco depois, em 2008, ele foi preso sob acusação de evasão fiscal.

Durante quase um ano de detenção na prisão de Matrosskaya Tishina, em Moscou, Magnitsky teria sofrido maus-tratos e negligência médica. Em novembro de 2009, morreu aos 37 anos, oficialmente de insuficiência cardíaca — embora relatórios independentes tenham apontado indícios de espancamento e tortura.

Mesmo após sua morte, ele foi condenado em processo póstumo junto com Browder, o que levantou ainda mais críticas internacionais sobre o caso. A morte de Magnitsky se tornou símbolo da luta contra a corrupção e violações de direitos humanos na Rússia.

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Sergei Magnitsky: quem é o russo que dá nome à lei
Reprodução/Wikipedia

Como surgiu a Lei Magnitsky

A repercussão internacional do caso levou William Browder a pressionar governos ocidentais para que criassem mecanismos legais de responsabilização.

Em 2012, no governo de Barack Obama, os Estados Unidos aprovaram a Lei Magnitsky, inicialmente restrita à Rússia. O objetivo era punir os envolvidos na prisão e morte do advogado.

Em 2016, a norma foi ampliada para a chamada “Global Magnitsky Act”, estendendo seu alcance para qualquer país. Dessa forma, passou a permitir que os EUA sancionassem estrangeiros acusados de:

  • Graves violações de direitos humanos (como execuções extrajudiciais, detenções arbitrárias, tortura e desaparecimentos forçados);
  • Corrupção sistêmica, como esquemas de propina, desvios de recursos e obstrução de investigações.

As sanções previstas incluem:

  • Congelamento de bens e ativos nos EUA;
  • Proibição de entrada em território americano;
  • Bloqueio de transações financeiras via bancos ligados ao sistema dos EUA;
  • Proibição de empresas americanas negociarem com o sancionado.

Importante destacar que a aplicação da lei não depende de julgamento judicial — basta decisão do Executivo americano, com base em relatórios, denúncias de ONGs, investigações jornalísticas e testemunhos.

Por que Alexandre de Moraes foi sancionado pela Lei Magnitsky?

O nome de Alexandre de Moraes passou a ser discutido no âmbito da Lei Magnitsky após pressões políticas de parlamentares republicanos nos EUA.

Segundo o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, Moraes teria atuado de forma a “suprimir a liberdade de expressão” e “autorizar detenções arbitrárias”, especialmente em processos contra aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Na prática, o ministro pode enfrentar consequências como:

  • Bloqueio de cartões vinculados a bancos americanos;
  • Restrições em meios de pagamento digitais, como Google Pay e Apple Pay;
  • Vigilância financeira por empresas americanas, para evitar operações indiretas;
  • Proibição de negócios com cidadãos ou companhias dos EUA.

A medida é polêmica porque, até hoje, a lei vinha sendo usada contra juízes e autoridades de regimes autoritários (Rússia, Turquia, Hong Kong). Aplicar a norma contra um ministro de uma Suprema Corte democrática levanta questionamentos sobre uso político do instrumento.

STF, bancos e a polêmica sobre a aplicação da Lei Magnitsky no Brasil

No Brasil, a questão ganhou contornos jurídicos e econômicos. O ministro Flávio Dino, do STF, decidiu que empresas que operam no país não podem aplicar sanções contra Alexandre de Moraes com base apenas em decisões dos EUA, sem respaldo em tratados internacionais ou validação judicial brasileira.

No entanto, os grandes bancos que atuam no país enfrentam um dilema: se mantêm relações financeiras com Moraes, correm o risco de sofrer retaliações internacionais; se aplicam as sanções, entram em choque com a decisão do STF.

Segundo especialistas, a Lei Magnitsky transforma o sancionado em um “pária financeiro”: mesmo sem ter contas nos EUA, pode ser excluído de sistemas globais de pagamento, já que o dólar e a rede Swift conectam bancos do mundo inteiro.

A disputa revela uma dimensão ainda pouco discutida: até onde vai o alcance extraterritorial da legislação americana? E como isso afeta a soberania de outros países quando envolve autoridades de alto escalão, como um ministro da Suprema Corte?

A resposta ainda está em aberto, mas o caso Alexandre de Moraes já coloca a Lei Magnitsky no centro de um debate global sobre direitos humanos, política internacional e limites da jurisdição americana.

Para saber mais: o que é o Sistema Swift?

O Swift (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication) é uma cooperativa internacional fundada em 1973, na Bélgica, que fornece uma rede de comunicação segura e padronizada para instituições financeiras em todo o mundo.

Ele não movimenta dinheiro diretamente, mas transmite mensagens financeiras padronizadas que instruem operações como transferências internacionais de fundos, pagamentos entre bancos, ordens de compra e venda de títulos, câmbio, derivativos e operações ligadas ao comércio exterior, como cartas de crédito e garantias.

O funcionamento do sistema é baseado em códigos específicos, conhecidos como Swift ou BIC (Bank Identifier Code), que identificam de forma única cada banco ou instituição participante. Quando um cliente realiza uma transferência internacional, por exemplo, o banco remetente envia uma mensagem Swift ao banco destinatário com todas as instruções da operação. A liquidação do dinheiro ocorre por meio de contas de bancos correspondentes, mas a comunicação e autenticação entre as partes dependem da rede Swift.

O sistema se destaca pela segurança, com altos níveis de criptografia e autenticação, pela padronização das mensagens em formatos internacionais, como os antigos MT e o mais recente ISO 20022, e pela confiabilidade e rapidez, substituindo tecnologias ultrapassadas como o telex.

Atualmente, conecta mais de 11 mil instituições financeiras em mais de 200 países, funcionando como a espinha dorsal do sistema financeiro internacional. Sua relevância vai além do aspecto técnico, pois tem também grande peso geopolítico: países, bancos ou pessoas excluídos da rede enfrentam graves restrições no acesso ao comércio e às finanças globais.