O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, em reunião concluída nesta quarta-feira (30), manter a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano. A decisão foi unânime entre os nove membros do colegiado e reflete um cenário de elevada incerteza tanto no ambiente externo quanto no doméstico, com destaque para pressões inflacionárias persistentes e uma conjuntura econômica internacional mais adversa.
Segundo comunicado divulgado pelo Copom, a conjuntura global, especialmente nos Estados Unidos, tem gerado impactos relevantes sobre os mercados financeiros. As políticas comercial e fiscal norte-americanas, ainda envoltas em incertezas, contribuíram para uma maior volatilidade em diferentes classes de ativos e para o endurecimento das condições financeiras globais. O comitê ressalta que esse ambiente requer “particular cautela por parte de países emergentes”, num contexto já tenso devido à conjuntura geopolítica.
Decisão do Copom: inflação segue acima da meta
No cenário interno, os dados recentes indicam moderação no crescimento da atividade econômica, como era esperado, mas o mercado de trabalho continua mostrando força. A inflação, por sua vez, segue acima da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), tanto nos dados atuais quanto nas projeções futuras.
As expectativas de inflação medidas pela pesquisa Focus situam-se em 5,1% para 2025 e 4,4% para 2026, ambos acima da meta de 3%. A projeção do próprio Copom para o primeiro trimestre de 2027 está em 3,4%, ainda acima do centro da meta, mas dentro do intervalo de tolerância.
O Comitê alertou para riscos elevados nos dois sentidos: de alta, como uma possível desancoragem prolongada das expectativas de inflação, resiliência maior do que a esperada na inflação de serviços e impactos inflacionários vindos de políticas econômicas nacionais e internacionais; e de baixa, como uma desaceleração econômica mais acentuada ou quedas nos preços das commodities.
Copom e as tarifas comerciais
O Copom também demonstrou preocupação com os recentes anúncios de tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, que podem afetar a economia nacional e, indiretamente, o controle da inflação. Além disso, o comitê destacou que os desdobramentos da política fiscal continuam sendo acompanhados de perto, dada sua relevância para a política monetária e os ativos financeiros.
A manutenção da Selic em um patamar elevado foi justificada como necessária para “assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas”. O comunicado afirma que a política monetária deve permanecer “significativamente contracionista por período bastante prolongado”.
Apesar de interromper o ciclo de alta de juros iniciado anteriormente, o Comitê não descartou uma eventual retomada dos aumentos, caso considere necessário. “O Comitê enfatiza que seguirá vigilante […] e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, diz o texto.
A decisão sinaliza que, diante da complexidade do cenário atual, o Banco Central pretende manter uma postura firme e conservadora, buscando equilíbrio entre o combate à inflação e a preservação do crescimento econômico.
Entenda a Selic
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira e serve de referência para outras taxas cobradas por bancos em empréstimos e financiamentos. Uma Selic mais alta encarece o crédito, reduz o consumo e, consequentemente, ajuda a conter a inflação.
Trajetória da Selic até aqui
Para chegar aos atuais 15%, a Selic sofreu sete altas consecutivas, após um ciclo de sete cortes sequencias que havia reduzido a Selic de 13,75% para 10,50%.
Lembrando que a Selic ficou por cerca de um ano fixada no antigo patamar de 13,75%. A paralisação dos juros por tempo prolongado veio após um ciclo de 12 altas, subsequentes ao piso histórico da taxa (2%), ao longo da pandemia de Covid.

A sinalização é que a Selic deve permanecer neste patamar de 15% por longo período. A EQI Asset acredita que os juros serão mantidos até pelo menos o primeiro trimestre de 2026.
Para Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, a decisão do Copom veio sem novidades. “A projeção de inflação para o horizonte relevante, agora o primeiro trimestre de 2027, permaneceu em 3,4%. O BC indicou que o cenário de crescimento mostra moderação, como esperado, mas com o mercado de trabalho ainda resiliente. Ainda, as tafiás impostas pelos EUA estão sendo acompanhadas, mas trazem maior incerteza ao cenário”, afirma.
Para os próximos passos, o BC manteve a projeção de patamar contracionista por período “bastante prolongado” e a afirmação de que não hesitará em prosseguir com o ciclo de ajuste, se julgar apropriado. Com isso, a EQI Asset mantém a projeção de Selic está em 15% até o final do ano.
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