Nesta quarta-feira (30), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa Selic em 15% ao ano, em linha com as expectativas do mercado. Apesar da decisão não ter surpreendido, a sinalização do BC de que os juros permanecerão nesse patamar elevado por um período prolongado traz implicações importantes para os investidores de fundos imobiliários (FIIs).
Segundo Carolina Borges, analista da EQI Research, o cenário atual exige atenção e estratégia por parte dos investidores.
“A decisão do Copom foi amplamente esperada. Qualquer mudança nesse patamar teria causado forte reação no mercado”, afirma.
Decisão do Copom e os impactos nos FIIs de papel e tijolo
Com os juros futuros ainda em níveis elevados, o mercado de fundos imobiliários segue em compasso de espera. O IFIX, índice que acompanha os FIIs na Bolsa, depois de atingir máximas históricas no primeiro semestre, passou a apresentar lateralização nas últimas semanas.
Para Borges, o impacto nos fundos imobiliários depende do tipo de ativo. No caso dos fundos de papel – aqueles que investem majoritariamente em títulos indexados ao CDI – a manutenção da Selic elevada tem garantido dividendos atrativos.
“Fundos que aumentaram a parcela de CDI no portfólio estão conseguindo entregar retornos de CDI +2% ou até CDI +3% ao ano. Isso deve continuar ao menos até o fim de 2025”, explica.
No entanto, ela alerta para um ponto crucial: o ágio sobre o valor patrimonial.
“É importante que o investidor evite comprar esses fundos muito acima do seu valor real, porque isso reduz o retorno final do investimento”, destaca.
Já os fundos de tijolo, que investem diretamente em imóveis físicos como lajes corporativas, galpões logísticos e shoppings, enfrentam outro tipo de dinâmica. Com os juros longos ainda pressionados, a valorização desses ativos no curto prazo se torna mais difícil. Ainda assim, Borges vê oportunidades:
“O mercado está oferecendo uma remuneração razoável – o famoso ‘carrego’ – enquanto o investidor espera uma potencial valorização no médio prazo”.
Segundo a analista, mesmo que o dividendo atual desses fundos esteja abaixo da Selic, a combinação entre a renda e uma eventual valorização dos ativos, quando os juros começarem a cair, pode gerar um retorno acumulado interessante.
“Faz sentido manter a exposição a tijolo pensando no médio e longo prazo”, afirma.
Juros: cortes apenas em 2026?
As projeções mais conservadoras indicam que os cortes de juros devem começar apenas no segundo trimestre de 2026. O foco agora se volta ao comportamento da inflação. Se o processo de desinflação for mais rápido que o esperado, o mercado pode antecipar esse movimento.
“Nosso foco está sendo o processo desinflacionário no Brasil. Se o cenário melhorar, quem sabe podemos ver discussões sobre cortes antes do previsto. Esse seria um ambiente muito favorável especialmente para os fundos de tijolo”, conclui Borges.
E agora, investidor?
Diante desse cenário, a recomendação é equilibrar a carteira:
Fundos de papel: boas opções no curto prazo para geração de renda, desde que sejam adquiridos com atenção ao preço (evitando ágio excessivo).
Fundos de tijolo: indicados para quem tem visão de médio a longo prazo e busca aproveitar a combinação de dividendos e possível valorização futura.
Com a Selic em 15% e os cortes ainda distantes, a palavra de ordem é paciência – e, claro, uma boa dose de seletividade.