Americanas ($AMER3) a R$ 0,90 e Weg ($WEGE3) a R$ 35. Qual dessas ações, afinal, pode ser chamada de “barata”?
O exemplo acima, comparando papéis de duas empresas de realidades completamente diferentes, serve apenas para ilustrar o quanto o valor nominal é o de menos para justificar se uma ação está cara ou barata.
Vale lembrar, a Americanas é uma empresa em processo de recuperação judicial e tentando se reerguer após um rombo contábil de R$ 40 bilhões. A Weg é uma multinacional líder de segmento, reconhecida no mundo todo por produzir sistemas elétricos industriais completos, e com recomendação de compra pelas principais casas de análise do país.
Em outras palavras, a ação barata não é aquela que custa menos de R$ 1. O verdadeiro bom negócio é encontrar ações de empresas de qualidade – com crescimento constante, margens de lucro sólidas e baixa alavancagem (endividamento) – sendo vendidas a um preço mais baixo do que elas realmente valem.
E é aí que está o grande desafio do investidor que pensa na construção de patrimônio no longo prazo.
Afinal, comprar bons papéis a preço abaixo do que valem é uma excelente maneira de construir patrimônio no longo prazo.
Mas, com tantos outros querendo fazer a mesma coisa, o problema é encontrar esses papéis disponíveis no mercado.
Vamos falar mais sobre o tema. Acompanhe e descubra como saber se uma ação está cara ou barata!
Ação está cara ou barata: como descobrir?
O que faz uma ação ser considerada barata é o fato de ela estar sendo vendida com desconto em relação ao verdadeiro valor da empresa. Em outras palavras: é comprar algo por um preço mais baixo do que realmente vale.
Benjamin Graham, economista que inspirou Warren Buffett, considerado o maior investidor da atualidade, dizia que o bom negócio era “comprar uma nota de US$ 1 com uma moeda de US$ 0,50”.
A estratégia de investimento elaborada por Graham, o Value Investing ou Investimento de Valor, consiste justamente nesse ponto: saber quanto realmente vale uma ação e aproveitar para comprá-la em momentos de oportunidade.
Mas isso é mesmo possível? É e a fortuna de Buffett está aí para confirmar.
Quando Buffett e seu sócio e braço-direito, Charlie Munger, falecido recentemente, começaram nos investimentos, era muito mais fácil encontrar boas ações subalorizadas, porque poucos prestavam atenção nessas distorções do mercado.
Hoje em dia, avaliar a qualidade da empresa como fator de investimento é algo amplamente utilizado, o que faz ficar mais difícil encontrar essas boas empresas sendo negociadas a bom preço. Mas ainda assim é possível achá-las.
De vez em quando, por diversos fatores, micro ou macroeconômicos e de segmento, inclusive, o mercado faz com que o preço de uma ação fique diferente do seu valor real. Isso cria uma oportunidade de o investidor comprar ações mais baratas, conhecidas como “barganhas”.
Luís Moran, head da EQI Research, ensina que o preço nominal da ação, por si só, não diz nada. E que é sempre preciso ter algum parâmetro de comparação: a ação está barata comparada com o quê? Com o valor antigo da mesma ação? Com seus pares no segmento?
Fora isso, ele diz, é preciso avaliar em detalhes a empresa, sua capacidade de crescimento no longo prazo, e a resiliência de que é capaz em períodos de crise.
Para Moran, olhar apenas o preço geralmente leva os investidores a errarem em suas escolhas. O correto, afirma, é fazer uma análise fundamentalista da empresa, para saber se o preço da ação é o correto ou se há uma distorção positiva para o investidor.
Se a empresa é líder no seu setor e está sendo vendida descontada, vale a pena ter em carteira, ele indica, mesmo que o preço nominal não seja classificado de “barato”, como, por exemplo, uma ação de uma líder de segmento com bons fundamentos a R$ 100.
Já as estatais, ele alerta, são vendidas mais “baratas” e isso não acontece por acaso, mas porque existe um custo político embutido no preço. “As estatais podem ser ‘value trap’ (armadilha de valor), apesar de negociadas com desconto”, aponta.
Quais ações estão baratas hoje?
O portal EuQueroInvestir pediu para Moran selecionar, então, algumas ações que ele considera que, pelos fundamentos, podem ser chamadas de “baratas” na atualidade. Confira abaixo a seleção.
Prio (PRIO3)
“Para quem gosta de investimento no longo prazo, a Prio tem um potencial muito interessante, não refletido no preço do mercado”, analisa.
A casa de análise tem recomendação de compra para a Prio, com preço-alvo de R$ 68 para dezembro de 2024, o que representa um potencial de valorização de 46%.
A Prio é a maior operadora independente de petróleo do Brasil e a segunda ação mais líquida do setor, perdendo apenas para a gigante estatal Petrobras. Para a Research, o investimento neste papel é uma opção no setor de petróleo, com grande potencial de crescimento, e sem incorrer em riscos de governança estatal e exposição a refino.
Minerva (BEEF3)
“O frigorífico fez uma transação recente e o mercado acabou por punir o preço da ação. Na Research, nós acreditamos que o mercado está sendo excessivamente rigoroso”, revela Moran.
A casa de análise considera este o melhor papel no setor de proteína, atualmente, e tem recomendação de compra para a ação, a preço-alvo de R$ 15,50, representando um potencial de valorização de 93%.
“Entendemos que a reação do mercado ao recente anúncio da aquisição das plantas da Marfrig foi exagerado, aumentando ainda mais o potencial de valorização que enxergamos para as ações. Além disso, vemos o momento do ciclo bovino mais favorável para frigoríficos com exposição aos mercados sul-americanos”, analise a Research.
Yduqs (YDUQ3)
“A Yduqs é um caso para o investidor que aceita mais risco. Não é todo mundo que gosta”, pondera.
A recomendação é de compra, com preço-alvo de R$ 28 para dezembro de 2024, o que representa um potencial de valorização de 36,7%.
A tese de investimento da EQI Research se baseia em alguns pilares: no mercado potencial de crescimento da penetração da educação superior no Brasil; na eficiência operacional da companhia, que conseguiu entregar resultados resilientes em meio às turbulências do mercado como a pandemia do Covid-19; na elevada competitividade nos cursos de medicina (que é um dos cursos mais rentáveis atualmente; e no histórico de sólida geração de caixa, com pagamento de proventos para os acionistas.
Como identificar ações baratas na bolsa de valores?
Investir na bolsa de valores é um desafio, mas compreender indicadores-chave pode tornar essa tarefa mais acessível.
A seguir, vamos descomplicar o indicador Preço/Lucro (P/L). Este é um número importante para entender se uma empresa pode ser um bom investimento.
Preço/Lucro (P/L)
O Preço/Lucro (P/L) é como uma “fórmula mágica” que ajuda a descobrir se uma ação está cara ou barata no mercado de ações. Vamos dividi-lo em partes para entender melhor:
- Preço das Ação (P): Este é o valor que você paga por uma ação da empresa no mercado. É como o preço de um ingresso para entrar no jogo.
- Lucro Por Ação (LPA): Aqui, olhamos para quanto dinheiro a empresa ganhou dividido pelo número total de ações. É como saber quanto de lucro cada ação recebe.
Agora, juntamos essas duas partes usando a fórmula P/L:
P/L = Preço da Ação / Lucro por Ação
O que isso significa? Imagine que o P/L é 10. Isso quer dizer que, no mercado, as pessoas estão dispostas a pagar 10 vezes o lucro que a empresa faz por cada ação que ela tem.
Se o P/L é alto, geralmente acima de 15, pode significar que as pessoas estão muito otimistas sobre o futuro da empresa e estão dispostas a pagar mais caro.
Se o P/L for baixo, abaixo de 10, talvez as pessoas estejam menos confiantes, e as ações estão mais baratas.
Assim, o P/L ajuda a responder à pergunta: “Quantas vezes o lucro anual por ação da empresa está sendo negociado no mercado?”.
Quanto menor o P/L, em geral, mais atraente pode ser considerado o investimento.
Então, ao olhar para o P/L, os investidores podem tomar decisões mais informadas sobre se vale a pena comprar as ações de uma empresa, levando em conta quanto estão pagando em relação aos lucros que a empresa gera.
Preço/Valor Patrimonial por Ação (P/VPA)
Outro indicador que pode ser usado para avaliar o preço de uma ação é o P/VPA, que representa a relação entre o preço da ação e o seu valor patrimonial por ação.
O P/VPA é uma métrica crucial para avaliar se uma ação está subvalorizada ou sobrevalorizada no mercado de ações.
Esse indicador é calculado simplesmente dividindo o preço atual da ação pelo seu valor patrimonial por ação.
Fórmula do P/VPA:
P/VPA = Preço atual da ação / Valor Patrimonial por Ação
O que o P/VPA Revela:
- Abaixo de 1: Quando o P/VPA é inferior a 1, isso sugere que o mercado está avaliando a empresa abaixo do seu valor patrimonial. Pode indicar uma oportunidade de compra, pois as ações estão consideradas “baratas” em relação ao patrimônio da empresa.
- Próximo a 1: Um P/VPA próximo a 1 indica que o mercado avalia a empresa de acordo com seu valor patrimonial. Isso pode sugerir que as ações estão sendo negociadas a um preço justo em relação aos ativos da empresa.
- Acima de 1: Quando o P/VPA é superior a 1, as ações podem ser consideradas sobrevalorizadas. O mercado está disposto a pagar um prêmio sobre o valor patrimonial da empresa.
Exemplo Prático:
Suponha que a Empresa X tem um preço atual da ação de R$ 50 e um valor patrimonial por ação de R$ 20.
P/VPA = 50/20 = 2,5
Neste caso, o P/VPA é 2,5, indicando que o mercado está disposto a pagar 2,5 vezes o valor patrimonial por ação. Ou seja, as ações desta empresa estão sobrevalorizadas.
Ao analisar o P/VPA de uma empresa, é interessante compará-lo com a média do setor. Um P/VPA abaixo da média do setor pode indicar potencial subvalorização.
Observar a variação do P/VPA ao longo do tempo também pode revelar padrões e tendências. Uma queda significativa pode sinalizar uma oportunidade de compra.
Em resumo, tais indicadores são ferramentas valiosas para investidores que buscam ações com potencial de valorização. No entanto, é crucial considerar outros fatores e usar as métricas como parte de uma análise mais abrangente antes de avaliar se uma ação está cara ou barata.