A EQI Research iniciou a cobertura da Minerva ($BEEF3), como parte da análise do setor de proteínas no mercado brasileiro, com recomendação de Compra para as ações da empresa, a preço-alvo de R$ 15,50 para dezembro de 2024.
O valor representa um potencial de valorização próximo de 90% em relação ao preço de mercado atual, com fechamento da R$ 8,09 nesta sexta-feira (29), Desde o início do ano, os papéis acumulam mais de 30% de queda.

Para os analistas, o mercado apresentou uma reação exagerada à recente aquisição pela Minerva de plantas da Marfrig ($MRFG3) na América do Sul, o que aumentou mais o potencial de valorização para as ações.
“Vemos o momento do ciclo bovino mais favorável para frigoríficos com exposição aos mercados sul-americanos. Nosso preço-alvo é baseado no método de fluxo de caixa descontado (DCF). Os fluxos de caixa futuros são projetados a valor presente pela taxa de desconto equivalente ao custo médio ponderado de capital da companhia (WACC) de 15,5%. Este WACC é calculado com base no custo de capital próprio de 19,1% e no custo de capital de terceiros líquido de 13,4%. Assumimos uma estrutura de capital de 65,0% de capital próprio e 35,0% de capital de terceiros. Os fluxos foram projetados até 2033, depois disso assumimos crescimento de 5,0% a.a. na perpetuidade”, explicam os analistas sobre o preço.
Minerva (BEEF3): o ciclo da produção pecuária
Os analistas da EQI Research explicam que o ciclo pecuário é caracterizado por flutuações nos preços do gado e da carne, com períodos de baixa e alta, que se repetem de tempos em tempos. “No Brasil, historicamente o ciclo durava por volta de 5 a 7 anos, mas isso vem se reduzindo à medida que a idade de animais para abate diminui”, diz o relatório da casa.
O ciclo de alta começa com o aumento dos preços de bezerros (chamados de reposição) no mercado, estimulando a cria e consequentemente a retenção de fêmeas e o aumento da cotação do boi gordo. Essa maior retenção de matrizes, no entanto, resultará em aumento da produção de bezerros, o que faz o preço cair. Com a maior disponibilidade de animais para abate, as cotações do boi gordo são pressionadas, iniciando o ciclo de baixa.
Com a redução do número de matrizes, a produção de bezerros é prejudicada, de modo que a reposição de animais do rebanho e a futura oferta de gado para abate serão piores. Assim, alguns anos depois, a escassez de animais para abate faz o preço subir novamente.
“As ações das empresas do setor de proteínas são negociadas de forma pró-cíclica, de modo que é de suma importância para o investidor ter a leitura correta dos momentos do ciclo em que cada companhia se encontra. Os frigoríficos compram bois e vendem carne, e se beneficiam ao conseguir comprar animais para abate mais baratos. Entre 2020 e 2022, o ciclo foi especialmente positivo para frigoríficos com maior exposição operacional ao mercado norte-americano, como a JBS ($JBSS3). A combinação de alta disponibilidade de animais para abate, capacidade produtiva reduzida e oferta doméstica aquecida levou o setor a margens históricas. Por outro lado, os frigoríficos com maior concentração da capacidade produtiva na América do Sul, como a Minerva, atravessaram este mesmo período em situação oposta, sofrendo pressão de margens por baixa disponibilidade de animais para abate (preço do boi gordo em alta) e demanda por carne bovina fraca. Mas o cenário atual é de reversão nos dois mercados. Vemos maiordisponibilidade de animais para abate na América do Sul, enquanto nos EUA é momento de contração”, diz a EQI Research.
Minerva (BEEF3): tese de investimento
Segundo maior exportador de carne bovina in natura do Brasil e líder de mercado nas exportações a partir de Paraguai, Colômbia e Argentina, a Minerva é analisada pela EQI Research como em melhor posição para se beneficiar da virada do ciclo do gado na América do Sul, com custos de aquisição de boi gordo mais baixos e melhores volumes de exportação.
“O exportador sul-americano puro deve aproveitar momento de reversão de ciclo. Com crescimento geográfico consistente desde seu IPO, a companhia conta hoje com 32 unidades industriais, sendo 28 localizadas no Brasil, Paraguai, Uruguai, Argentina e Colômbia e 4 na Austrália. É líder em exportações a partir da América do Sul, sendo o terceiro maior frigorífico em capacidade do Brasil, o segundo maior exportador de carne bovina in natura do Brasil e Uruguai e líder de mercado em exportações no Paraguai, Colômbia e Argentina”, avaliam os analistas.
O relatório aponta que cerca de 70% do faturamento da Minerva (BEEF3) vem de mercados externos, com acordos em mais de 100 países. O destaque é a China, o que faz com que qualquer problema que cause restrição para vendas ao cliente asiático traz grandes impactos para o resultado da empresa.
“Recentemente, a China suspendeu suas importações de carne bovina brasileira, alegando problemas sanitários ligados a casos de doença da vaca louca. Por conta disso, a Minerva sofreu forte impacto em seus resultados do 1TRI23. A China saiu de aproximadamente 40% de participação no faturamento total da companhia para menos de 20% messe período”, aponta o texto, destacando que esse cenário já está regularizado e que a China tende a ampliar suas compras no segundo semestre para preparar os estoques para o Ano Novo Lunar, que em 2024 será celebrado no mês de fevereiro.
Quanto à aquisição de 16 unidades da Marfrig, sendo 11 no Brasil, três no Uruguai, uma na Argentina e uma unidade de ovinos no Chile, ao valor de R$ 7,5 milhões, os analistas da EQI Research destacam que o negócio foi excessivamente mal avaliado pelo mercado, especialmente pela divergência de dados de produção dos ativos na divulgação das duas empresas a vendedora falou em receita de R$ 15,6 bilhões em 2022 e a compradora projetou receitas de R$ 18 bilhões.
“Mesmo considerando as estimativas de BEEF, o negócio tem impacto significativo na alavancagem, que passou de 2,7x para 3,3x Dívida Líquida/EBITDA. A Minerva era percebida como a companhia do setor apreciada por sua disciplina de capital e controle de alavancagem e os investidores tiveram frustrada a expectativa de que ela aproveitaria o ciclo favorável para focar em geração de caixa e pagamentos de dividendos. Mas, do ponto de vista estratégico, entendemos que a transação faz sentido diante do posicionamento como um eficiente exportador sul-americano. O negócio adicionará 44% de capacidade à Minerva e a transformará no segundo maior frigorífico em abates de bovinos no país, atrás apenas da JBS”, destacam os analistas.
Minerva (BEEF3): risco para o investimento
Como fatores de risco, além de eventuais reduções de compras pela China e de excessiva valorização do real frente ao dólar, o que reduziria os ganhos decorrentes das exportações, os analistas destacam eventuais dificuldades na integração das operações com os ativos adquiridos da Marfrig.
“Como em qualquer transação de aquisição, existem riscos consideráveis de integração dos ativos adquiridos, como necessidade de capital de giro além do esperado, diferenças culturais entre as companhias e a gestão da logística e abastecimento de matérias primas em mercados novos”, aponta o texto.
Por fim, os analistas da EQI Research apontam para a possibilidade de alta nos preços do boi gordo, ainda que o ciclo pareça favorável dentro do cenário do setor. “Trabalhamos com a expectativa de arrefecimento nos preços do boi gordo em função da melhor oferta de animais para abate. No entanto, variáveis exógenas, como clima, doenças e restrições comerciais, podem afetar significativamente esse cenário, o que afetaria diretamente os resultados da companhia, uma vez que 85% dos seus custos dizem respeito à aquisição de animais para abate”, aponta a EQI Research sobre a Minerva ($BEEF3).