Compreender o cenário macroeconômico é essencial para se antecipar a possíveis crises e aproveitar os momentos de otimismo no mercado financeiro.
No evento “EQI Asset Day”, realizado na última quarta (6), Ricardo Cará, Gestor Multimercados da EQI Asset, e Victor Uebe, Gestor de Renda Variável da EQI Asset, destacaram a mudança de ciclo econômico nos EUA e no Brasil.
Eles também discutiram como os investidores podem aproveitar este cenário para potencializar seus portfólios de investimentos.
Qual é o cenário atual?
Ricardo Cará destaca que o período pós-pandemia foi um dos mais desafiadores de sua carreira. Ele afirma que não havia parâmetros históricos para este momento, uma vez que seu trabalho é baseado em analisar tendências e buscar simetrias para encontrar referências do que pode acontecer no futuro.
Este fenômeno não foi exclusivo de Cará. O gestor cita que a mesma sensação foi encontrada nos principais bancos de investimentos do mundo, que trabalharam com a sua “bússola desajustada”.
Agora, Cará reforça que estamos vivendo um momento de mudança no ciclo econômico.
Segundo o gestor da EQI Asset, após a pandemia, o mundo observou uma quantidade enorme de estímulo fiscal e monetário, com taxas de juros próximas de zero. Até mesmo no Brasil, onde as taxas costumam ser mais elevadas, a Selic chegou a 2% com o objetivo de estimular a atividade econômica em um período de restrição sanitária.
“Qual foi o efeito disso? Uma inflação descontrolada que começamos a combater em uma janela de praticamente dois meses. Os bancos centrais subiram os juros. O Brasil foi um dos primeiros e o mundo desenvolvido veio na sequência”, explicou Cará.
Para controlar a inflação, as autoridades monetárias tiveram que fazer fortes ajustes nas taxas de juros, tanto em magnitude quanto em velocidade e intensidade, para níveis que não se viam há 20 ou 30 anos.
De acordo com Cará, após esse ajuste, o ciclo está mudando. “A inflação já está dando sinais de arrefecimento. Eu acredito que já está ocorrendo essa mudança de ciclo econômico”, declarou.
Ele acredita que o mundo vai desacelerar, a inflação vai convergir e as taxas de juros retornarão para patamares mais baixos. “É uma definição de tese de investimentos que eu chamo de Pico de Atividade Global e Pico de Taxa de Juros”, define Cará.
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Como operar nesse ambiente?
Para investir no ambiente descrito por Cará, o gestor sugere que é preciso analisar a curva de mercado, buscar simetrias e se posicionar adequadamente. Nesse cenário, o ativo preferido para se posicionar é a taxa de juros.
“Eu ainda acredito que o mercado reage de maneira razoavelmente lenta e gradual, dada a incerteza, observando os dados econômicos que vão surgindo. E os dados têm surpreendido para baixo. Estou falando principalmente dos EUA e do Brasil”, disse Cará.
Continuando com a tese de analisar os dados econômicos, ele aponta que o mercado de trabalho, especialmente nos EUA, tem se mostrado bastante resiliente em 2023. No entanto, está começando a mostrar sinais de arrefecimento e a tendência é que esse processo continue.
“Qual é a regra do jogo? A regra é que uma atividade econômica forte gera emprego e inflação fortes. O Banco Central precisa aumentar os juros para controlar a atividade econômica e gerar algum desemprego para conseguir fazer com que a inflação venha para a meta”, explica.
Embora os bancos centrais trabalhem para atingir o objetivo de controlar a inflação, Cará explica que as ações das autoridades monetárias não ocorrem de forma instantânea. O gestor informa que os efeitos aparecem de seis a nove meses para frente. Dessa forma, ele faz a seguinte provocação:
“Essa é a grande dúvida, esses 5,5% de juros americanos foram o suficiente? Foi demais ou de menos? Os sinais que estão aparecendo agora parecem indicar que o Banco Central está confortável em parar para observar. Deixar essa taxa de juros atuar sobre a economia, fazê-la esfriar e gerar um pouco de desemprego”, diz.
Com este cenário, Cará revela que a inflação deverá chegar na meta de 2% nos EUA ao longo de 2024 ou até mesmo em 2025.
Mas ainda há uma dúvida na cabeça do Federal Reserve (Fed): o medo de não fazer demais. Quando o BC aperta demais, passa do ponto, ele só vai descobrir trimestres à frente. Com isso, há o risco de colocar a economia em recessão, alerta Cará.
“Gostamos de estar posicionados para uma queda na curva de juros nos mercados em geral, mais especificamente nos EUA e Brasil, onde achamos que ainda há espaço para o mercado precificar nosso cenário base, que é uma desaceleração um pouco mais acentuada”, cita Cará ao concluir a sua leitura do cenário atual.
Dito isso, Cará destaca que isso terá um reflexo na bolsa de valores, que já sofreu bastante nos últimos dois anos, com uma taxa de juros muito alta e restritiva.
“Esse ambiente futuro, ao longo de 2024 e 2025, como mencionei que é a virada do ciclo econômico que pode durar de um a dois anos, pode favorecer a bolsa de valores que está com preços muito descontados”, refletiu Cará.
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Cenário macro está favorável para a renda variável
Victor Uebe destaca que o cenário macroeconômico atual é bastante favorável para o mundo da renda variável. Ele enfatiza a importância de se concentrar na construção do portfólio, olhando para o longo prazo e para os detalhes operacionais das empresas, a fim de navegar em ambientes completamente diferentes.
O gestor de Renda Variável observa que a queda dos juros favorece os títulos de risco e, consequentemente, a lucratividade das empresas, uma vez que elas terão menos dívidas para pagar.
Ele ressalta que todas as crises geram desigualdade e a pandemia não foi diferente.
“Após a pandemia, tivemos três tipos de empresas: aquelas que não estão mais aqui; aquelas que foram enfraquecidas e estão tentando se recuperar; e aquelas que conseguiram se reinventar e atingir um patamar mais alto de eficiência”, explica.
Neste cenário de mudança de ciclo econômico, Uebel vê oportunidades na Localiza (RENT3), uma empresa líder com mais de 600 mil veículos de frota, operando no Brasil e na América Latina. Ele também destaca a Rumo (RAIL3) como uma empresa extremamente diferenciada para entregar o escoamento do Brasil de forma eficiente para o consumo externo, principalmente da China.
No setor de celulose, no qual o Brasil tem uma vantagem competitiva muito grande, Uebe destaca a Suzano (SUZB3), que hoje é uma das líderes do setor após a fusão com a Aracruz e a TCP em 2008.