A sucessão do comando da Vale ($VALE3) está longe de ser definida. A reunião extraordinária do conselho de administração da mineradora, realizada ontem (15), terminou sem um consenso sobre a permanência ou não do atual CEO, Eduardo Bartolomeo.
O conselho tinha duas opções na pauta da reunião: reconduzir Bartolomeo ou iniciar um processo competitivo para escolher um novo executivo, com a participação do atual CEO. Esse processo seria conduzido por uma empresa especializada em recrutamento de executivos, que apresentaria uma lista com três nomes para o conselho decidir.
No entanto, nenhuma das opções obteve maioria na votação do conselho, que ficou empatada. Isso revela uma divisão no órgão máximo da Vale. De um lado, estão os conselheiros que apoiam a continuidade de Bartolomeo. De outro, os que defendem a abertura de um processo competitivo para eleger um novo presidente.
Segundo o Valor Econômico, a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil ($BBAS3), e a Bradespar ($BRAP4) foram favoráveis ao processo competitivo. O jornal também informa que a holding do Bradesco ($BBDC4) teria mudado de posição nos últimos dias e se juntado a esse grupo, mas o banco não confirmou essa informação.
A Cosan ($CSAN3), que antes era favorável a Bartolomeo, se absteve na votação.
Já a japonesa Mitsui votou pela recondução do atual CEO.
Acionistas de referência não têm maioria no conselho
O conselho da Vale é formado por 13 integrantes, sendo 12 eleitos em assembleia de acionistas e um representante pelos empregados. Os acionistas de referência, caso de Previ, Mitsui e Cosan, têm peso, mas não decidem sozinhos. A Bradespar, que hoje tem menos de 5% da Vale, é acionista histórica da mineradora e por ser do Bradesco também tem muita influência.
Com a divisão entre as empresas, o Valor relata que há um grupo de oito conselheiros considerados independentes no colegiado da mineradora, cujos votos valem o mesmo dos acionistas de referência.
Entre eles, há três estrangeiros e cinco brasileiros. Todos os três estrangeiros votaram pela recondução. Um dos brasileiros independentes é Luis Guimarães, ligado a Rubens Ometto da Cosan. O seu nome é ventilado para ser o CEO da Vale no futuro.
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Presidente do conselho tem a palavra final
Diante da indefinição, a resolução deste impasse fica a cargo do presidente do conselho da Vale, Daniel Stieler, que é indicado pela Previ. Ele tem o voto de minerva e pode desempatar a situação. No entanto, ele também pode optar por convocar uma nova reunião ou levar o assunto para a assembleia de acionistas, prevista para abril.
A expectativa é que a decisão sobre o CEO da Vale seja tomada até o mês de maio, antes do fim do mandato de Bartolomeo, que se encerra em 26 de maio. Segundo o estatuto da companhia, as tratativas para sucessão devem começar com três meses de antecedência.
O executivo assumiu o cargo em abril de 2019, após o rompimento da barragem de Brumadinho, que matou 270 pessoas e causou um enorme dano ambiental. Desde então, ele liderou a recuperação da empresa, que voltou a distribuir dividendos e a bater recordes de produção.
Vale sem controle definido desde 2017
A Vale, que foi privatizada em 1997, deixou de ter um grupo definido de acionistas controladores em dois momentos sucessivos e graduais, em 2017 e 2020.
Antes, existia um núcleo de controle formado por Previ, Bradespar, Mitsui e BNDES, que decidia as questões estratégicas da empresa sem muita divergência no conselho. A partir de 2017, com o modelo de “Corporation”, a situação se alterou.
Durante o governo Bolsonaro, o BNDES se desfez de todas as ações que possuía na Vale e a influência direta do governo na empresa passou a ser por meio da Previ. Mas essa forma de articulação política não é mais capaz de interferir na empresa diretamente como ficou evidente no caso em que o governo tentou, em vão, fazer o ex-ministro Guido Mantega presidente da mineradora.