O que esperar do cenário de juros daqui para a frente em todo o mundo?
Segundo os especialistas convidados para a Money Week, evento online e gratuito da EQI Investimentos, a tendência é de juros altos ainda por um bom tempo, com desaceleração relevante da economia.
“Para onde vai a taxa de juros? É a inflação que vai dizer. O trabalho daqui para a frente será mais difícil. O Federal Reserve (Fed) deve encerrar o ciclo de alta de juros em breve. A Europa ainda deve demorar um pouco mais e o Japão nem começou”, avalia Daniel Weeks, economista-chefe da Garde Asset Management.
“Mas daqui em diante é a fase da desinflação, que é a mais difícil, por isso acredito que teremos taxas de juros altas ainda por um bom tempo”, complementa.
Para Weeks, uma recessão mais forte pode acelerar a queda de juros, mas ele enxerga o mundo como um todo crescendo menos daqui em diante. Com isso, alerta, o movimento deve ser de desvalorização do dólar, ao contrário do que aconteceu até aqui.
Vale lembrar, os EUA elevaram os juros em 4,75 pontos percentuais m um período de um ano. A zona do euro foi de juros zero a 3%-3,75%. E o Brasil foi do piso de 2% para 13,75%.
PARTICIPE TAMBÉM DA MONEY WEEK! CLIQUE AQUI E GARANTA SUA VAGA
Independência do BC e mudança da meta da inflação
Para André Senna Duarte, economista sênior e estrategista da Occam Gestora de Recursos, é fundamental que a população e o próprio Governo entendam que um Banco Central independente significa inflação mais baixa.
“Se o BC cede aos ataques que vem sendo feitos, o resultado é que nós teremos inflação permanentemente mais alta”, avalia.
“Perder as expectativas de inflação, ter desancoragem, é ter descontrole. Até aqui as pessoas estão vivenciando a inflação como algo passageiro, então falar de desancoragem é algo distante, quase acadêmico. Mas a inflação pode não ser passageira”, alerta.
Para Duarte, se mexer na meta da inflação, o Governo deixará ainda mais distante o momento da queda de juros.
“Se você jogar a meta de 3,5% para 4%, a credibilidade foi afetada. A minha expectativa não vai para 3%, nem 4%. Ela vai para 5%, 6%. Por isso que a taxa de juros vai subir. O governo achou um bode expiatório que o grande problema do Brasil são os juros. Mas a taxa de juros é consequência”, complementa o professor Roberto Dumas.
“Quanto mais o Governo grita, mais assustados ficam os agentes econômicos, e piores ficam as expectativas”, conclui.
Cenário para commodities
Para entender o que vai acontecer com os juros no mundo e com o crescimento daqui em diante, aponta Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, é preciso entender o cenário para commodities na China.
Sobre o tema, Roberto Dumas tem amplo conhecimento, já que é Mestre em Economia Chinesa pela Universidade de Fudan (China).
“A China, hoje, tem o que chamamos, de ‘crescimento brasileiro’. Ou seja, de 2%. Já cresceu 8%, mas agora é 2%, 3%. A expectativa para este ano é de 5,5%, segundo o Congresso do Povo. Mas o que está acontecendo agora? Por que não cresce no mesmo ritmo? Porque, quando teve a crise de 2008, o governo chinês soltou um programa de estímulo de US$ 500 bilhões. Após a pandemia, fez a mesma coisa, mas em valores inferiores. E com tanta gastança, a dívida chinesa explodiu. Hoje você tem uma dívida pública da ordem de 320 % do PIB”, explica.
Outra questão – e ele frisa que fala como economista e não como médico – é que a China fez uma reabertura atabalhoada pós-pandemia. Primeiro, errou com o confinamento total, mas também errou com a liberação do dia para a noite, sem que as pessoas estivessem com esquema completo de vacinação. “Estudos apontam que, até junho, haverá 1,5 milhão de mortes na China por Covid. Até aqui, a China informa, oficialmente, apenas 7 mil vítimas”, diz.
“Com isso, você já começa a pensar se não haverá um novo lockdown ou se as pessoas não vão, voluntariamente, se isolar”, analisa. E isso poderá impactar o consumo e a demanda por commodities.

Nova Guerra Fria e hegemonia do dólar
Os economistas também avaliaram o papel da moeda americana no novo cenário geopolítico que se apresenta.
“Cada vez mais a gente está voltando a uma Guerra Fria. Dessa vez, entre China e EUA. A diferença é que a China é mais forte que a União Soviética. E a URSS não era um grande parceiro comercial de todo o mundo”, aponta Weeks.
“Não acredito no yuan no lugar do dólar, mas como uma alternativa ao dólar. Na virada do século, pós-guerras, os EUA viraram a maior potência e a Libra esterlina continuava invencível até então. Mas dólar se tornou absoluto. A gente está vendo a ascensão do yuan, mais claramente com Rússia, Irã, Arábia Saudita, os parceiros do eixo-chinês. A coisa está avançando, e se os EUA tiverem grandes crises, isso será acelerado”, complementa.
André, ao contrário, se diz cético quanto ao tema. “Essa discussão de yuan substituir dólar vem de anos. Eu acho que os EUA continuam como potência global ainda por décadas”, diz.
Dumas vai na mesma linha. “O yuan não vai substituir o dólar, porque a conta capital da balança de pagamentos da China é fechada”, diz, afirmando que os próprios exportadores tendem a recusar a moeda.
Quer acompanhar estas e outras discussões relevantes sobre o cenário de juros para Brasil e mundo? Não perca a Money Week!
FAÇA AGORA MESMO SUA INSCRIÇÃO!