Na Money Week, o painel “Estratégia: o que muda no portfólio dos gestores quando o mercado vira?” colocou frente a frente três profissionais que lidam diariamente com mudanças bruscas de cenário para falar sobre estratégias dos grandes gestores: Katherine Olga Kardos, líder de crédito estruturado na Tivio Capital; Bruno Carvalho, CIO na Safra Asset, e Alexandre Muller, CEO e sócio fundador da JGP Crédito, sob mediação de Paulo Filipe, Head Sales Products na EQI Investimentos.
O Brasil, lembraram, tem um “longo prazo” que dura poucos meses. Mudanças na política monetária, no cenário fiscal ou em eventos externos podem exigir reposicionamentos rápidos.
Katherine abriu o painel destacando que, no crédito estruturado, a reação começa sempre na análise profunda da empresa — fluxo de caixa, garantias e sensibilidade às variáveis macro — enquanto Alexandre reforçou que, muitas vezes, o verdadeiro diferencial na gestão de capital é identificar empresários com capacidade de adaptação para atravessar crises.
Por outro lado, Bruno trouxe a perspectiva dos multimercados: decisões nascem de uma visão macro global e vão se afunilando até chegar ao preço e ao posicionamento técnico.
Volatilidade, liquidez e oportunidades
Quando o mercado balança, liquidez se torna a chave apontam as estratégias dos grandes gestores. Na Money Week, Katherine explicou que fundos híbridos, com prazos de resgate mais longos, permitem assumir papéis menos líquidos e capturar o prêmio de liquidez, sem perder flexibilidade para se ajustar.
Mas o momento atual, com Selic elevada, cria um paradoxo: empresas sólidas evitam tomar crédito caro, enquanto quem quer tomar pode não ter perfil de risco adequado. O crédito estruturado, segundo ela, é a solução para montar operações sob medida que resolvam o problema da empresa e tragam retorno ao investidor.
Alexandre traz um exemplo vivo de como estresse pode se converter em oportunidade. Durante as enchentes no Rio Grande do Sul, investidores estrangeiros se desfizeram em massa dos bonds do Banrisul, temendo impacto severo. “Parecia cena de desenho, segurando o trem nos trilhos enquanto todo mundo vendia”, brincou. A JGP aproveitou para comprar, certa de que a economia local se recuperaria, e colheu ganhos quando o mercado voltou ao equilíbrio.
Em períodos assim, segundo Bruno, não basta esperar que a turbulência passe — é preciso estruturar proteções. Ele prefere o uso de opções e derivativos para limitar perdas, escolhendo cuidadosamente quais riscos vale a pena neutralizar. Essa escolha depende tanto de aspectos macro como de fatores técnicos, como mercados excessivamente posicionados que podem se mover violentamente em um gatilho inesperado.
O fim do ciclo de juros no radar
A queda da Selic é vista por todos como um divisor de águas. Katherine projeta que, com juros mais baixos, volta o apetite das empresas por projetos, e o crédito estruturado direto ganha espaço nos portfólios, enquanto posições em FIDCs podem diminuir para abrir margem. Alexandre relembrou o último ciclo, quando o fim da alta de juros abriu janela para aumentos de capital que permitiram a empresas reduzir dívidas caras rapidamente — casos como HapVida (HAPV3) e Localiza (RENT3), que viram spreads cair de CDI +6% para CDI +1% em poucos meses.
Bruno lembrou que a reversão do ciclo atual é global: depois de anos de estímulos e alta de juros, a inflação começa a ceder e países desenvolvidos devem iniciar o movimento, puxando emergentes como o Brasil. Para ele, é hora de introduzir risco de forma gradual, seja via multimercados, previdência ou posições long and short, aproveitando setores que se beneficiam do afrouxamento monetário.
Posicionamento para o próximo movimento
Na hora de projetar o que fazer agora, as abordagens se complementaram. Katherine aposta no “crédito alternativo” como nova classe de investimento, conectando o investidor à economia real e oferecendo descorrelação das oscilações de mercado, com estruturas que ajustam risco conforme o perfil.
Visando entender a amplitude do corte de juros, Alexandre prefere manter cautela, priorizando empresas com forte poder de repasse de preços ou operações garantidas por ativos sólidos.
Bruno já começou a reduzir posições pós-fixadas e a colocar “o primeiro pé” em produtos de maior geração de alfa, alinhando o portfólio ao novo cenário.
Mais do que fórmulas prontas, o painel da Money Week mostrou que as estratégias dos grandes gestores são construídas na combinação de leitura de cenário, gestão de risco e capacidade de agir antes que a mudança se consolide — porque, no Brasil, ela nunca demora a chegar.
Leia também: