A Super Quarta deve ser marcada por uma combinação de decisões já amplamente precificadas e uma comunicação decisiva para orientar os mercados sobre o rumo dos juros em 2026.
Segundo Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Investimentos, enquanto o Federal Reserve deve realizar um corte de 0,25 ponto percentual, o Copom deve manter a Selic em 15% ao ano — e, nos dois casos, o que realmente importa é o que será dito sobre os próximos passos de política monetária.
O movimento ocorre em um dia que também traz dados importantes do mercado de trabalho americano, como JOLTS e ADP — usados para calibrar as apostas para a taxa básica dos EUA em 2026. No Brasil, o foco adicional recai sobre o IPCA de novembro, que será divulgado nesta quarta-feira (10) e deve ajudar a balizar as expectativas de inflação para o próximo ano, elemento crucial para a comunicação do Copom.
Fed: corte amplo no consenso — dúvida central está no discurso
Para Kautz, o Fed deve entregar um corte de 25 pontos-base, acompanhando a sinalização feita ao longo das últimas semanas e a precificação já dominante nos mercados.
“Normalmente o Fed evita grandes surpresas tão em cima da hora em relação ao que o mercado vem precificando”, afirma.
A incerteza maior está no que virá depois. Segundo ele, a autoridade monetária pode indicar que janeiro talvez não traga um novo corte, a depender da leitura dos próximos dados de atividade e inflação.
“O que vimos no pós-shutdown tem sido inconclusivo. Há sinais para cima e para baixo, tanto em atividade quanto em inflação. É difícil ter uma conclusão firme sobre o estado atual da economia”, diz Kautz.
Ele destaca que o foco estará nas expectativas de juros dos membros do FOMC, que podem sinalizar um ritmo mais lento de relaxamento monetário ao longo de 2026.
Copom: estabilidade na Selic, mas atenção total ao sinal para janeiro
No Brasil, o cenário é de manutenção da taxa básica:
“A decisão deve ser pela estabilidade. A inflação continua próxima do teto da banda e as expectativas seguem desancoradas. Não faz sentido começar um ciclo de corte agora”, afirma o economista.
Apesar disso, Kautz observa que os dados divulgados desde a última reunião jogam a favor do Banco Central:
- O PIB do terceiro trimestre cresceu apenas 0,1%, mostrando perda de tração da atividade;
- Os núcleos de inflação desaceleraram;
- A inflação de serviços começou a dar sinais melhores.
Esse conjunto abre espaço para a possibilidade de início dos cortes ao longo de 2026, mas a grande dúvida é quando.
“A comunicação vai ser bastante importante. O BC pode sinalizar um corte já em janeiro ou postergar para março. A decisão em si é menos relevante — o importante é como eles vão guiar as expectativas do mercado para os próximos passos”, explicou Kautz.
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Comunicação é o elemento-chave da Super Quarta
Tanto para Fed quanto para Copom, o consenso sobre as decisões reduz o peso do anúncio em si. O que realmente deve mexer com juros, dólar e Bolsa é a leitura sobre os próximos passos.
“A comunicação é ainda mais relevante porque pode levar a mudanças nas apostas do mercado e dos economistas sobre o que virá na reunião de janeiro”, conclui Kautz.






