Os investidores brasileiros têm se deparado com uma dúvida recorrente: afinal, ouro ou dólar são melhores alternativas para proteger o patrimônio? Os dados mais recentes mostram que, apesar da solidez da moeda americana, o ouro vem se destacando como o ativo de maior valorização em reais, especialmente em períodos de incerteza global.
Ouro dispara e bate recorde histórico
O ouro chegou a ser negociado a impressionantes US$ 4.392 por onça troy, o maior valor da história, antes de recuar para perto de US$ 4.100, após uma trégua nas tensões comerciais entre Estados Unidos e China. Mesmo com essa correção, o desempenho no acumulado do ano é notável: alta de 59,68%.
Na prática, quem investiu R$ 1.000 em ouro há um ano teria hoje R$ 1.596,68.
O avanço reflete o aumento da demanda global pelo metal como ativo de proteção — em meio a uma combinação de inflação persistente, conflitos geopolíticos e sinais de desaceleração econômica nas principais potências.

De acordo com levantamento da EQI Research, o ouro acumula valorização superior a 1.600% em reais nos últimos 20 anos, muito à frente do desempenho do dólar.

O gráfico abaixo, elaborado pela EQI Research – com a performance da cotação do ouro em reais comparada à performance do dólar capitalizado pela taxa básica de juros americana (Fed Funds) -, ilustra essa diferença de forma clara: enquanto o ouro disparou mais de 1.500% desde 2004, o dólar ajustado pelos juros dos EUA apresentou ganhos próximos de 200% no mesmo período.

Nícolas Merola, analista CNPI da EQI Research, explica que, nesta comparação, utilizou a cotação do dólar rentabilizado pela taxa básica de juros americana, para a análise ficar mais fidedigna, já que a cotação do ouro contém dólar.
“Basicamente, se você compara ouro vs dólar é o mesmo que comparar ouro + dólar vs dólar. Por isso acho mais justa a comparação ouro com dólar no contexto de um bond curto, ou pelo menos rentabilizado pela taxa básica de juros”, esclarece.
Dólar: ainda essencial, mas com sinais de desgaste
Apesar da recente queda de 8,28% no ano, o dólar segue sendo a principal moeda de reserva global. Depois de atingir R$ 6,26 em dezembro de 2024, a cotação recuou para os atuais R$ 5,27.
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o dólar ainda representa cerca de 58% das reservas oficiais internacionais em 2024 e 2025, mantendo seu papel central na economia mundial — embora já haja sinais de desdolarização em alguns países.
O índice DXY, que mede a força da moeda americana frente a outras divisas fortes, tem mostrado enfraquecimento gradual, reflexo da política monetária do Federal Reserve e da crescente diversificação das reservas globais em outras moedas e ativos.
Entrevista: Nícolas Merola, analista da EQI Research
Para entender melhor o comportamento desses dois ativos, o EuQueroInvestir conversou com Nícolas Merola, analista da EQI Research, que explica as diferenças e as estratégias ideais de exposição a ouro e dólar. Confira a entrevista:
EuQueroInvestir – Comparar ouro e dólar é realmente válido?
Nícolas Merola – “Sim. Ambos são vistos como ativos de proteção para o investidor brasileiro. Entretanto, o perfil de risco e o tipo de proteção são bem diferentes. O ouro, por ser cotado em dólares, já incorpora a variação cambial em sua cotação. Por isso, tende a ter melhor desempenho que o câmbio isoladamente. Além disso, é um ativo global, enquanto o dólar é norte-americano.”
Qual garante mais proteção no longo prazo?
“De forma genérica, o ouro oferece o melhor fator de proteção. No curto prazo, porém, o dólar capitalizado pelos juros americanos pode ser uma alternativa mais estável e previsível.”
Qual é a exposição ideal a cada ativo para o investidor?
“Depende da carteira de cada investidor. Mas, de forma geral, recomendamos que todo investidor mantenha pelo menos 10% do patrimônio dolarizado, seja por meio de renda fixa americana ou em ativos reais como o ouro.”
Como investir da melhor forma?
“Hoje, o investimento em ouro pode ser feito via ETFs, como o GOLD11 na B3 ou o GLD nos Estados Unidos. Já a alocação em dólares capitalizados é possível por meio de ativos de renda fixa americana ou ETFs (Exchange Traded Funds), como o SHV.”
Ouro ou dólar: qual rendeu mais e qual protegerá o futuro?
Os números não deixam dúvidas: no horizonte de longo prazo, o ouro entregou um retorno significativamente superior ao do dólar quando ambos são medidos em reais. Contudo, essa diferença não deve ser interpretada como uma competição direta — cada ativo cumpre um papel distinto na carteira.
O ouro funciona como seguro patrimonial, valorizando-se em momentos de crise e perda de confiança nos mercados. Já o dólar oferece liquidez e acesso ao sistema financeiro mais sólido e desenvolvido do mundo, servindo como base de transações internacionais e referência para diversos ativos.
A combinação equilibrada de ambos é o que oferece maior segurança ao investidor brasileiro, especialmente diante das incertezas geopolíticas e econômicas que devem marcar os próximos anos.
A resposta para a pergunta “ouro ou dólar: qual rendeu mais nos últimos anos?” é clara: o ouro superou amplamente o desempenho do dólar, com uma valorização acumulada que ultrapassa 1.600% em 20 anos. Mas, segundo Nícolas Merola, o ideal não é escolher entre um ou outro, e sim diversificar:
“Ambos são ativos de proteção, e o investidor deve tê-los em sua carteira, respeitando seu perfil e seus objetivos.”
Em tempos de incerteza global, o equilíbrio entre ouro e dólar pode ser o verdadeiro diferencial entre preservar e multiplicar o patrimônio.
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