A aquisição de 58% do Banco Master pelo BRB (Banco de Brasília), anunciada na última sexta-feira (28) por R$ 2 bilhões, reacendeu o debate sobre os limites do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Segundo cálculos do Valor Econômico, o passivo do Master, que soma R$ 45,6 bilhões em CDBs (Certificados de Depósito Bancário), equivale a 50% do patrimônio líquido do FGC, atualmente estimado em R$ 107,8 bilhões.
Segundo o Money Times, embora uma eventual quebra do banco seja considerada “improvável”, o cenário colocaria o fundo sob forte pressão, já que metade de sua liquidez seria comprometida.
A aquisição pelo BRB e os limites do acordo
A operação de venda aguarda aprovação do Banco Central (BC), que tem até 360 dias para análise, e prevê a incorporação de 49% das ações ordinárias e 100% das preferenciais do Master pelo BRB (BSLI4).
No entanto, conforme destacou o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, em entrevista ao Estadão, R$ 23 bilhões em passivos do Master ficarão de fora do negócio, incluindo ativos ligados a precatórios e empresas em situação financeira frágil.
“Isso representará um risco menor para o sistema”, disse Costa, explicando que os CDBs absorvidos pelo BRB — cerca de metade do total — passarão a ter taxas alinhadas ao mercado, abandonando os rendimentos turbinados de até 140% do CDI, que o Master usava como atrativo.
O FGC no centro da tempestade
Criado nos anos 1990 para conter crises bancárias, o FGC está no centro das preocupações. Garantindo até R$ 250 mil por CPF em produtos como CDBs, LCIs e poupança, o fundo tem sido utilizado como isca por bancos menores para atrair investidores com títulos de alto risco.
Dados do Banco Central, divulgados em junho de 2024, mostram que o Master emitiu R$ 45,6 bilhões em CDBs, valor equivalente a 42% do patrimônio líquido do FGC. A instituição também chama atenção por sua carteira atípica: 34% de seus ativos são compostos por títulos e créditos a receber, muitos vinculados a precatórios, segundo análise da Nord Research.
A falta de consolidação dos balanços de controladas como Voiter e Will Bank em 2024 dificulta a avaliação completa dos riscos, tornando incerto o real impacto dessa operação para o mercado.
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Pressão política e reação do setor
No Congresso, propostas para ampliar o limite do FGC de R$ 250 mil para R$ 1 milhão por CPF — como o PL 4.395/2024, do deputado Filipe Barros (PL-PR) — foram alvo de críticas de entidades financeiras.
Em nota conjunta, Febraban, ABBC e Acrefi alertaram que a mudança “aumentaria o custo do crédito” e beneficiaria apenas uma ínfima parcela de investidores.
O BC, por sua vez, adotou medidas para conter emissões arriscadas: desde 2021, instituições que utilizam o FGC como estratégia de marketing são obrigadas a contribuir mais para o fundo. Além disso, em 2024, o BC restringiu a oferta de CDBs com rentabilidade excessiva.
Riscos remanescentes e próximos passos
Apesar da aquisição pelo BRB, algumas preocupações continuam. Os R$ 23 bilhões em passivos não incorporados continuarão sob responsabilidade do Master, sem garantias adicionais.
De acordo com fontes do Money Times, caso o FGC precise intervir, os bancos poderão ser obrigados a aumentar suas contribuições — custo que pode ser repassado aos clientes. Além disso, não há proposta formal de injeção de capital no Master por parte de outras instituições, e o BC ainda analisa a operação.
Lições e alertas para o sistema
Enquanto o BRB projeta ganhos em áreas como crédito consignado e câmbio, a estabilidade do FGC segue sob vigilância. O caso do Master escancarou a vulnerabilidade de um sistema que permite que bancos menores captem recursos oferecendo títulos de alto risco, contando com a proteção do fundo.
Mas até que ponto o investidor pode confiar cegamente na proteção do FGC? Para investidores, a lição é clara: o fundo é uma rede de segurança importante, mas isso não elimina riscos. Como destacou uma fonte ao Money Times, “há um trabalho intenso para evitar o pior, mas o sistema ainda opera sob alerta”.
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