Os Estados Unidos enfrentam novamente a ameaça de uma paralisação parcial do governo federal — o chamado shutdown. Sem acordo no Congresso para aprovar as 12 leis orçamentárias anuais até a meia-noite desta terça-feira (30), parte da máquina pública pode ser paralisada, suspendendo atividades consideradas não essenciais e adiando salários de servidores.
Embora esse cenário seja motivo de preocupação política, especialistas afirmam que seus efeitos econômicos tendem a ser limitados. O analista internacional da EQI Research, Marink Martins, avalia que, apesar do barulho em torno do tema, não há sinais de que a paralisação seja capaz de desencadear uma queda estrutural nos mercados.
“Ameaças de paralisação já tivemos inúmeras. Já aconteceram e as consequências não são nem de perto o que sugere o barulho feito pelos políticos. Paralisação vai ser catalisador para derrubar o mercado? Não”, afirma Martins.
Shutdown nos EUA: Por que o risco não preocupa tanto os investidores?
Segundo o analista, há dois fatores centrais que conferem maior conforto ao mercado neste momento. O primeiro é o saldo da conta do Tesouro dos EUA (TGA), que historicamente mantém valores entre US$ 700 e US$ 800 bilhões. Mesmo após oscilações recentes — com queda abaixo de US$ 300 bilhões —, o governo conseguiu recompor recursos por meio de leilões de títulos.
“Quando o Tesouro faz leilões, ele drena liquidez do mercado e, historicamente, isso pesa sobre as ações. Mas, desta vez, o mercado mostrou resiliência, mesmo diante desses leilões. Isso indica um sistema bastante capitalizado”, explica Martins.
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O segundo ponto é a evolução da curva de juros americana. Durante meses, os títulos de curto prazo apresentaram rendimento superior aos de longo prazo, sinal clássico de alerta para recessão. Esse quadro, no entanto, começou a mudar.
“A curva já mostra uma inclinação mais normal. O título de 2 anos, que estava em 5%, agora recuou, enquanto o de 10 anos está em 4,17%. Essa desinversão está historicamente associada a uma desaceleração do mercado de trabalho, que os últimos dados já vêm sugerindo”, completa.
Contexto político e impacto econômico
O impasse que pode levar ao shutdown envolve disputas entre democratas e republicanos sobre programas de saúde e gastos públicos. Analistas lembram que a paralisação, caso ocorra, não deve afetar a capacidade de financiamento do governo, já que o teto da dívida foi elevado recentemente em US$ 5 trilhões.
Ainda assim, o risco maior está na possibilidade de atrasos na divulgação de indicadores econômicos, fundamentais para orientar as próximas decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed). Como o banco central tem reforçado sua postura “dependente de dados”, um apagão estatístico poderia aumentar a volatilidade dos mercados.
Investidores: cautela, mas sem pânico
Para Martins, o investidor deve acompanhar os desdobramentos políticos, mas sem adotar uma postura excessivamente defensiva: “O mercado já deu sinais de que não vai reagir de forma desproporcional a essa ameaça”, conclui.
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