A crise operacional da Enel em São Paulo voltou ao centro do debate regulatório e político após um ciclone extratropical que atingiu a Região Metropolitana de São Paulo deixar cerca de 2,2 milhões de clientes sem luz elétrica.
Este fato reacendeu, nos bastidores do mercado, a seguinte questão: quem teria condições de assumir a maior concessão de distribuição de energia da América Latina caso a italiana deixe o ativo.
Após declarações do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, indicando a possibilidade de abertura de um processo de caducidade pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) — ainda em fase preliminar —, o mercado já passou a discutir cenários alternativos. Entre eles, ganha força a hipótese de uma venda negociada da concessão, alternativa vista como mais racional do que um embate regulatório prolongado.
A distribuidora da Enel em São Paulo atende cerca de 18 milhões de consumidores, opera em uma área de altíssima densidade urbana e exige CAPEX elevado, execução operacional complexa e forte coordenação regulatória, fatores que restringem o universo de potenciais compradores a um grupo bastante seleto de empresas.
O caminho regulatório e a saída mais provável
Embora a caducidade seja o instrumento mais extremo previsto no marco regulatório, segundo o Brazil Journal, fontes avaliam que a alienação do ativo seria o desfecho mais plausível caso a pressão avance. Pela legislação, a venda da concessão suspende o processo de caducidade, desde que o novo controlador seja aprovado pela ANEEL.
Além do desgaste político e reputacional, pesa contra a Enel o curto horizonte do contrato — que vence em 2028 —, o que reduz os incentivos para investimentos pesados na rede sem uma definição clara sobre renovação. Nesse contexto, monetizar o ativo pode ser financeiramente mais racional do que enfrentar um processo longo, incerto e potencialmente litigioso, segundo leituras de mercado.
Quem o mercado vê na linha de frente
Com base em critérios como histórico operacional, capacidade financeira, apetite regulatório e experiência em concessões complexas, o mercado aponta alguns nomes como mais bem posicionados para assumir a concessão paulista, caso o cenário evolua para uma troca de controle.
Equatorial Energia (EQTL3)
A Equatorial Energia (EQTL3) aparece com frequência no topo das listas informais. A companhia construiu reputação ao longo da última década ao assumir distribuidoras em situação crítica e entregar ganhos relevantes de eficiência, redução de perdas e melhoria nos indicadores de qualidade.
Além disso, a Equatorial vem ampliando sua exposição estratégica ao estado de São Paulo. Em 2024, a empresa desembolsou cerca de R$ 6,8 bilhões para adquirir 15% da Sabesp, tornando-se acionista de referência da companhia de saneamento no processo de desestatização, com direito a indicar o presidente e membros do conselho e assumir a gestão da ex-estatal — um movimento que reforça sua disposição de investir em ativos regulados no estado.
CPFL Energia (CPFE3)
A CPFL Energia (CPFE3) também surge de forma recorrente nas discussões de mercado, sobretudo pela forte sinergia geográfica e operacional com São Paulo. Com sede em Campinas, o grupo já atua de maneira relevante no interior paulista e na região da Grande Campinas, o que reduz riscos de execução em uma eventual transição de controle na capital e na Grande SP.
Atualmente, a CPFL opera quatro distribuidoras, atendendo 687 municípios em São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais, em uma área de aproximadamente 300 mil km², com 17,2 milhões de clientes — o equivalente a cerca de 22 milhões de habitantes.
No segmento de geração, a companhia possui 4,53 GW de capacidade instalada, sendo 95,6% de fontes renováveis, o que reforça sua capacidade financeira e operacional para sustentar um ativo intensivo em CAPEX e de elevada exigência regulatória.
Neoenergia (NEOE3)
A Neoenergia (NEOE3) também aparece nas análises setoriais pelo porte e pela musculatura financeira do grupo controlador, a espanhola Iberdrola. No entanto, o contexto atual impõe uma ressalva relevante: a Iberdrola protocolou na CVM uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) para adquirir os cerca de 16% restantes da Neoenergia, com o objetivo de fechar o capital da subsidiária brasileira.
A operação, anunciada em novembro de 2025, ainda depende de aprovação regulatória, mas, se concluída, pode reduzir o apetite por grandes movimentos inorgânicos no curto prazo.
Âmbar Energia
Em um campo mais oportunístico, a Âmbar Energia, braço de energia do grupo J&F Investimentos, também é citada como potencial interessada. A empresa atua nos segmentos de geração, comercialização e transporte de gás, com um portfólio diversificado que inclui termelétricas a gás, carvão e biomassa, hidrelétricas, solares e gasodutos.
A Âmbar vem expandindo sua presença por meio de aquisições estratégicas de ativos térmicos e de distribuição, consolidando-se como um dos principais geradores privados de energia a gás do país.
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