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Bolha de IA: o que é revolução tecnológica e o que é especulação?

Bolha de IA: o que é revolução tecnológica e o que é especulação?

Nos últimos anos, a inteligência artificial deixou de ser apenas um tema técnico para se tornar o eixo central da economia global. Desde que a OpenAI lançou seu modelo de linguagem de larga escala (LLM), o mundo corporativo mergulhou em uma corrida trilionária por poder computacional.

Mas o que parecia ser uma revolução tecnológica vem despertando, cada vez mais, o temor de uma possível bolha de IA — um fenômeno em que os investimentos crescem em ritmo acelerado e passam a se sustentar uns aos outros, criando uma economia circular difícil de justificar em termos de retorno financeiro.

Para Marink Martins, analista internacional da EQI Research, o atual ciclo de euforia em torno da inteligência artificial apresenta semelhanças notáveis com a bolha das pontocom vivida no final dos anos 1990 e início dos anos 2000. Segundo o especialista, há uma “narrativa muito interessante” que conecta ambos os períodos, tanto pela dinâmica dos mercados quanto pelos protagonistas que simbolizam cada era.

Bolha de IA e paralelos com a bolha das empresas pontocom

Ele lembra que o ciclo das pontocom teve início em 1995, com o IPO da Netscape, liderada por Mark Andreessen — que mais tarde se tornaria um dos maiores investidores de venture capital por meio da Andreessen Horowitz. No atual ciclo da inteligência artificial, o papel simbólico é ocupado por Sam Altman, CEO da OpenAI e figura central no desenvolvimento do ChatGPT.

“Assim como Andreessen representava a virada tecnológica dos anos 90, Altman é hoje o rosto da revolução da IA”, observa Martins.

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Outro paralelo apontado pelo analista envolve as empresas de infraestrutura tecnológica. Nos anos 90, a Cisco, sob comando de John Chambers, era a principal fornecedora de infraestrutura de rede e símbolo da expansão da internet. Hoje, a Nvidia (NVDA; NVDC34), liderada por Jensen Huang, ocupa papel equivalente na corrida da IA.

“São paralelos muito relevantes”, comenta Martins, citando estudo da Datatrack Research que compara a trajetória do mercado desde o IPO da Netscape até o auge da bolha das pontocom, em março de 2000, com a atual onda de valorização das companhias ligadas à inteligência artificial.

Embora reconheça que o movimento atual possa ter características de uma bolha, o analista pondera que ainda há fundamentos sólidos impulsionando a revolução tecnológica em curso. Ele ressalta, contudo, que o fenômeno do “vencedor leva tudo” — observado em outros setores, como o de streaming — também pode se repetir na IA.

“É possível que empresas como Nvidia e AMD continuem dominando, enquanto outras acabem apenas pegando carona nesse hype”, afirma.

Marink Martins, analista internacional da EQI Research
Marink Martins, analista da EQI Research. Divulgação/EQI

Riscos de exageros nos valuations de empresas ligadas à IA

Para Marink Martins, identificar exageros nas avaliações de mercado das empresas de inteligência artificial é uma tarefa complexa — e qualquer resposta simples tende a ser equivocada. Segundo o analista, o próprio funcionamento desse novo ciclo tecnológico desafia as métricas tradicionais usadas para medir valor e lucratividade.

Martins cita como exemplo a OpenAI, criadora do ChatGPT, que se tornou o epicentro da revolução da inteligência artificial generativa. A empresa, avaliada em cerca de US$ 500 bilhões, tem um valor de mercado semelhante ao da Netflix, embora possua uma base de pouco mais de 10 milhões de usuários pagos — contra os 300 milhões da plataforma de streaming.

“A OpenAI perde dinheiro todos os anos, e mesmo assim seu valuation rivaliza com gigantes consolidadas. Usar métricas tradicionais nesse contexto é um enorme equívoco”, observa o analista.

Ele destaca ainda que a OpenAI passa por um processo de reestruturação, deixando o modelo original de organização sem fins lucrativos (non-profit) para adotar o formato de public benefit corporation, com base acionária fortemente associada à Microsoft. Esse movimento, segundo Martins, tem sido recebido de forma positiva pelo mercado e impulsionado o valor das ações ligadas ao ecossistema da empresa.

Para o especialista da EQI Research, além da OpenAI, outras companhias como Gemini, Perplexity e a xAI — de Elon Musk — continuarão no centro das atenções dos investidores, atraindo grandes volumes de capital e especulação.

Martins, contudo, faz um alerta: o risco maior pode estar nas empresas que “pegam carona” no hype da inteligência artificial, sem de fato terem envolvimento real com a tecnologia.

“Estamos vendo casos de empresas de stablecoins, corretoras e até companhias de criptomoedas se promovendo como parte da revolução da IA, o que lembra muito o comportamento da bolha das pontocom, quando empresas adicionavam ‘.com’ ao nome apenas para inflar sua avaliação de mercado”, explica.

Na visão do analista, o entusiasmo atual com a IA é sustentado por inovações reais e transformadoras, mas também carrega sinais de euforia excessiva — o que exige discernimento dos investidores para diferenciar revolução tecnológica de especulação financeira.

A “economia circular” da IA

Tradicionalmente, o termo economia circular está ligado à sustentabilidade e ao reaproveitamento de recursos. No entanto, no universo da IA, o conceito ganhou outro significado. As grandes empresas do setor — Microsoft, Google, Amazon, Meta, Nvidia e OpenAI — criaram uma rede interligada de investimentos que alimenta a si mesma.

O primeiro movimento relevante veio da Microsoft, que investiu US$ 1 bilhão na OpenAI antes mesmo do lançamento do ChatGPT. Em troca, a startup comprometeu-se a utilizar o serviço de nuvem Azure, da própria Microsoft. Assim, o dinheiro investido voltava à companhia na forma de gastos com poder computacional.

O sucesso dessa estratégia inspirou outras gigantes. Google, Amazon e Meta seguiram o mesmo caminho, investindo pesado em IA e, simultaneamente, ampliando suas receitas de cloud computing. Cada anúncio de parceria ou novo aporte resultava em valorização imediata das ações, reforçando o ciclo de otimismo do mercado.

Nícolas Merola, analista EQI Research
Nícolas Merola, analista EQI Research. Dviulgação/EQI

Nvidia e a IA

Entre todas as empresas envolvidas nessa corrida, a Nvidia se destaca como o principal símbolo da possível bolha de IA. Mesmo sem participar diretamente dos acordos circulares, a fabricante de chips se tornou essencial para todo o ecossistema.

Os modelos de IA, como os desenvolvidos pela OpenAI e pela Anthropic, dependem fortemente das GPUs da Nvidia. Isso fez com que a empresa crescesse em ritmo vertiginoso, ultrapassando Apple e Microsoft e alcançando, em 2025, o posto de companhia mais valiosa do mundo, com valor de mercado acima de US$ 4 trilhões.

O curioso é que, à medida que acumulava capital, a Nvidia passou a alimentar os mesmos ciclos de investimento que antes a beneficiavam. Em setembro de 2025, a empresa anunciou um investimento de US$ 100 bilhões na OpenAI. Pouco depois, a startup encomendou US$ 300 bilhões em poder computacional da Oracle, que, para atender à demanda, comprará centenas de bilhões em GPUs da própria Nvidia — fechando mais um ciclo de dependência mútua.

Risco da bolha de IA: retornos ainda não acompanham ritmo dos aportes

De acordo com Nícolas Merola, analista da EQI Research, o problema não está no conceito da economia circular em si, mas na escala que esses investimentos alcançaram.

“A Google já fez algo parecido em 2008, quando financiou startups que usariam sua nuvem. Mas agora falamos de cifras bilionárias, em proporções nunca vistas”, explica.

A questão é que os retornos ainda não acompanham o ritmo dos aportes. A OpenAI, por exemplo, já conta com mais de 800 milhões de usuários semanais e uma receita anualizada de US$ 12 bilhões. Mesmo que dobrasse o número de usuários, dificilmente isso compensaria os custos trilionários de infraestrutura e pesquisa.

Nesse cenário, as margens de lucro ficam cada vez mais estreitas. Para que a equação feche, seria necessário que o consumo de IA crescesse em larga escala — não apenas entre usuários individuais, mas principalmente entre empresas dispostas a pagar pelo uso intensivo de tokens e serviços corporativos.

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