Após a eleição de Donald Trump à presidência dos EUA, a cotação do dólar disparou, atingindo um dos valores mais altos da história, chegando a R$ 5,86. Esse movimento não se limitou ao Brasil, pois a valorização da moeda americana também foi observada em relação a outras moedas ao redor do mundo.
A alta do dólar ocorreu em função das expectativas de que Trump adotaria medidas protecionistas e reduzisse impostos, criando um ambiente mais inflacionário na maior economia do mundo. Em resposta, o Federal Reserve (Fed) adotaria uma política monetária mais hawkish, com aumento de juros.
Com isso, os analistas projetam um dólar mais forte no mercado internacional.
Atualmente, a moeda opera próxima de seu valor máximo, em torno de R$ 5,80. Em 2024, o dólar já acumula uma valorização de quase 20%.
Para entender melhor o atual cenário do dólar, o portal EuQueroInvestir conversou com especialistas para analisar as perspectivas em meio ao ambiente conturbado.
Dólar e Trump: cenário com “onda vermelha”
Além da eleição de Trump, o Partido Republicano obteve uma vitória expressiva, conquistando não só a presidência, mas também a maioria no Congresso.
Vale destacar que os republicanos têm maioria no Senado e na Suprema Corte, com tendência conservadora.
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, destaca que a ascensão dessa “onda vermelha” aumenta as chances de Trump implementar suas promessas de campanha.
Essa opinião é compartilhada por Nicola Tingas, economista-chefe da ACREFI (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), que acrescenta que o novo mandato de Trump ganhou força para conduzir o seu novo mandato.
Imposição de tarifas e protecionismo
Com um cenário político favorável, Trump terá mais espaço para implementar suas políticas.
Alexandre Viotto, Head de Banking da EQI, aponta que uma das primeiras ações de Trump pode ser o aumento das tarifas de importação, com expectativas de elevação de 10% a 20% para a maioria dos produtos e até 60% para itens provenientes da China.
“Se ele implementar essas tarifas, terá respaldo para seguir adiante, já que conta com maioria nas duas casas do Congresso, algo raro em governos republicanos”, comenta Viotto.
Ele ainda destaca a provável implementação da política “America First” durante o segundo mandato de Trump, uma medida que busca favorecer empresas que fabricam seus produtos nos Estados Unidos.
“Vou dar o exemplo. Pense em uma empresa como a Mercedes-Benz, que fabrica carros em diversos países e os exporta para os Estados Unidos. Se houver uma política semelhante à do Brasil, onde as montadoras precisam produzir localmente, os investimentos que seriam destinados a países como México, Brasil, Alemanha e outros da Europa Oriental poderiam ser redirecionados, forçando a Mercedes-Benz a investir no mercado americano para estabelecer uma fábrica local. Com mais investimentos indo para os EUA, a tendência é que o dólar se valorize”, explica Viotto, head de banking da EQI.
Castro Alves observa que essa estratégia reflete a proposta de crescimento econômico com o lema “Make America Great Again”.
Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, reforça o argumento ao dizer que a proteção comercial é um dos três pilares da política econômica que será implementada por Trump.
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Corte de gastos e risco inflacionário
Outra medida de estímulo à economia americana seria a redução de impostos.
“Pela questão dos cortes de impostos que ele vinha prometendo. Ele passou aquela Tax Cuts and Jobs Act em 2016, e ela vence em 1º de janeiro de 2025. Ele falou que iria renová-la, então os impostos continuariam mais baixos, a carga tributária seria menor, o que agrada as empresas, mas também acentua ou gera a percepção de risco fiscal”, comenta Castro Alves.
Viotto acrescenta que, embora a questão fiscal não seja amplamente discutida, é um tema importante em publicações como Bloomberg, Yahoo e The Economist. “É um ponto relevante, considerando que a dívida pública americana é gigantesca, a maior do mundo”, comentou.
A combinação de tarifas de importação e cortes de impostos pode gerar um ambiente inflacionário. “Esse cenário [aumento das tarifas dos produtos importados] tende a trazer uma inflação de produtos. E inflação não é algo positivo para a economia local e para o resto do mundo. Essa inflação tende a ser gerada pelo aumento do custo das mercadorias”, destaca Viotto
Outro fator que pode alimentar um ambiente mais inflacionário é a possibilidade de deportações em massa. Embora Viotto considere esse cenário pouco provável, ele ressalta que tal medida poderia prejudicar o mercado de trabalho, já que imigrantes ilegais, em geral, aceitam salários mais baixos.
A redução dessa mão de obra tenderia a gerar inflação salarial.
Ainda assim, Viotto e Tingas consideram improvável uma deportação em larga escala. “A política de expulsão de imigrantes ilegais será mais contida e ocorrerá ao longo do governo”, afirma Tingas.
Juros mais altos = dólar valorizado
Os especialistas concordam que um ambiente inflacionário nos EUA aumenta as expectativas de juros mais altos.
“Isso tende a ter um impacto inflacionário no curto prazo, e esse impacto inflacionário demanda juros mais altos. Portanto, o juro americano acaba subindo por conta disso”, relata Castro Alves.
Viotto enfatiza que a alta dos juros é um ponto central, pois o Fed terá dificuldade para reduzi-los, dada a inflação alta e as restrições fiscais.
“Esse cenário fiscal tende a pressionar mais nos próximos anos, restringindo a capacidade do Banco Central de baixar os juros. Com juros mais altos nos Estados Unidos, significa que mais investidores colocarão dinheiro lá, o que fortalece o dólar ainda mais”, afirma o head da EQI.
“Com esse risco fiscal, você cobra um juro de longo prazo mais elevado”, corrobora Castro Alves.
Ele explica que juros mais altos fortalecem o dólar, reduzindo o diferencial de juros em relação a outros países. Embora esse diferencial ainda seja considerável em relação ao Brasil, será necessário um prêmio maior para atrair investimentos em mercados emergentes.
“Uma vez que se tem a perspectiva de crescimento econômico e a ideia de “Make America Great Again”, juntamente com juros mais elevados, é natural cobrar um juro maior para investir em países emergentes, fortalecendo, assim, o dólar, especialmente contra moedas de mercados emergentes”, complementa.
Já Igliori aponta que os três pilares da política econômica de Trump, proteção comercial, desregulamentação e expansão fiscal, tendem a fortalecer ainda mais a economia dos EUA. Com isso, o dólar terá uma propensão de ficar mais forte.
Por outro lado, Tingas destaca que o Fed provavelmente manterá sua política monetária atual, sem a necessidade de aumentar os juros no início do governo Trump. Segundo ele, eventuais pressões inflacionárias tendem a ser postergadas devido ao ajuste inicial das políticas de investimento, gastos fiscais e redução de tributos.
“No longo prazo, isso pode não ser sustentável, pois deve haver contrapartidas para conter a inflação. Ele pode, por exemplo, reduzir impostos corporativos para baratear os produtos na ponta e implementar algumas medidas de redução de impostos locais, o que ajudaria a conter a inflação”, sugere Viotto.
E por que os juros mais altos fazem o dólar ficar mais valorizado?
Castro Alves aponta que a expectativa de crescimento econômico, com a ideia de “Make America Great Again”, e de juros elevados atrai investimentos, fortalecendo o dólar, especialmente frente a moedas de mercados emergentes.
“Mantendo os juros, então, em um patamar mais alto, isso também contribui para o fortalecimento do dólar, uma vez que a atratividade de ativos americanos também fica mais impulsionada”, comentou Igliori.
Já Tingas menciona que a incerteza manterá o dólar forte, com prêmios de risco e volatilidade até que o cenário seja consolidado.
“No Brasil a incerteza prevalece elevada na área fiscal, com mudança para pior dos indexadores financeiros (e econômicos) “chave”: inflação em firme alta e pressionada, taxa de câmbio com pressão externa e principalmente pressão interna; Selic poderá até mesmo subir 0,75% no Copom de dezembro, invés de projetado 0,5% e a política monetária apertada poderá perdurar por mais tempo nesse cenário de incertezas externas e internas”, explica Tingas.
Tingas afirmou que, nos próximos meses, que ele ainda vê como incertos e voláteis, o Real deve permanecer em um nível de desvalorização semelhante ao atual em relação ao Dólar.
“Dessa forma, nossa expectativa inicial é de que o dólar continue valorizado, com a cotação da moeda americana ainda girando em torno de R$ 6, devido às questões fiscais no Brasil e aos fatores externos que impulsionam a valorização do dólar”, concluiu Viotto.
Confira abaixo uma arte com o resumo das informações deste artigo:

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