Investidores brasileiros que buscam diversificação internacional ganharam uma nova ferramenta que promete maior eficiência tributária e sucessória: os ETFs UCITS. Conhecidos popularmente como “ETFs irlandeses“, esses fundos, regulamentados na União Europeia, estão se tornando a opção preferida para quem investe fora dos Estados Unidos, e agora estão acessíveis no Brasil através de plataformas como a Avenue.
O lançamento foi um dos “mais bem-sucedidos” da história da corretora, atraindo 8 mil clientes e quase US$ 100 milhões (cerca de R$ 500 milhões) em apenas um mês, um sinal de que “o investidor brasileiro está cada vez mais sofisticado e aberto a soluções globais”, como destacou Alexandre Artmann, COO da Avenue.
O que são os ETFs irlandeses e por que são diferentes?
Para entender os UCITS, é preciso primeiro saber o que é um ETF (Exchange Traded Fund). Trata-se de um fundo de investimento negociado em bolsa, semelhante a uma ação, que replica um índice de referência. Com um único ativo, o investidor consegue diversificar sua carteira em centenas ou milhares de empresas, geralmente com taxas de administração muito baixas.
A sigla UCITS (Undertakings for Collective Investment in Transferable Securities) refere-se a um sistema regulatório adotado na União Europeia. Embora muitos desses fundos sejam estruturados na Irlanda, o que lhes rendeu o apelido de “ETFs irlandeses”, eles podem ser baseados em outros países europeus.
A grande diferença é que essa estrutura foi projetada para oferecer maiores vantagens a investidores não residentes nos EUA, como os brasileiros, sul-americanos, asiáticos e outros investidores ao redor do mundo.
Segundo Caio Tuca, head de Internacional da EQI Investimentos, a busca por eficiência tributária e sucessória sempre foi uma prioridade na empresa, que historicamente já optava por veículos como fundos e bonds offshore para proteger o patrimônio de seus clientes. Ele aponta que muitos investidores não tinham conhecimento dos riscos envolvidos em investir diretamente nos EUA.
“Muitos investidores desconheciam o risco de exposição ao imposto sucessório americano ao deter ativos de origem nos EUA acima de US$ 60 mil, ou a ineficiência tributária de investir diretamente em ETFs listados nos Estados Unidos. Nesse contexto, o lançamento dos UCITS […] representa um avanço relevante”, avalia Tuca.
As duas grandes vantagens: sucessão e tributação
Os benefícios dos UCITS para o investidor brasileiro são claros e impactam diretamente o bolso e o planejamento patrimonial.
Eficiência sucessória (isenção do “Imposto sobre Herança”):
Ativos de origem americana detidos por estrangeiros, incluindo ETFs listados nos EUA, estão sujeitos ao estate tax, um imposto sucessório que pode chegar a 40% sobre valores que excedem US$ 60 mil.
No caso de um investimento de US$ 100 mil em um ETF americano, os herdeiros poderiam perder até US$ 40 mil para o fisco americano.
Por serem estruturados na Europa, os UCITS não entram nesse cálculo, garantindo que 100% do valor seja repassado aos sucessores.
Cristiano Castro, head de business development da BlackRock (BLK; BLAK34), resume a situação: “A gente tem duas verdades na vida, né? A morte e os impostos. Nesse caso, as duas coisas estão juntas”.
Eficiência tributária (acumulação de dividendos)
ETFs americanos geralmente distribuem dividendos, sobre os quais incide uma tributação de 30% na fonte (withholding tax) para não residentes. Isso significa que, antes mesmo de receber o dinheiro para reinvestir, o investidor já perdeu quase um terço do provento.
Os UCITS oferecidos no Brasil são do tipo “acumulação”: em vez de distribuir os dividendos, o fundo os reinveste automaticamente no próprio patrimônio, sem a mordida do imposto de 30%. Esse mecanismo gera um efeito de juros sobre juros muito mais potente ao longo do tempo, o que Artmann compara ao antigo problema do come-cotas no Brasil.
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O impacto nos retornos: a “boca de jacaré”
A diferença de rentabilidade entre um ETF americano e um UCITS que investem nos mesmos ativos pode ser gritante. Em um encontro com jornalistas do mercado financeiro, Castro apresentou gráficos da BlackRock que mostram o efeito “boca de jacaré”: com o tempo, a linha de retorno do UCITS se descola cada vez mais da do seu par americano.
Os exemplos são impressionantes:
- Em um ETF de renda fixa de curta duração, a diferença foi de 5,3% em seis anos, o que representou 50% a mais de rentabilidade.
- Em um ETF de títulos de alto rendimento (high yield), o ganho extra foi de 5,1% em apenas três anos.
- O caso mais extremo foi um ETF de ações de dividendos de mercados emergentes: em 13 anos, enquanto o ETF americano rendeu 2%, o UCITS rendeu 16%. A diferença de 14,4 pontos percentuais significou um retorno 800% maior para quem escolheu o veículo europeu.
“É o mesmo ativo, você só está escolhendo o veículo mais eficiente”, explica Artmann.
“É a mesma coisa que pegar uma estrada de São Paulo a Santos. Eu posso ir com um carro 1.0 ou com um carro esportivo. Vou chegar no mesmo lugar, a diferença é que tenho um veículo mais eficiente”, complementou.
Um mercado global em expansão
O mercado de UCITS é um gigante de € 3 trilhões, com a BlackRock sendo a maior gestora, respondendo por mais de um terço desse total, com € 1,2 trilhão em ativos. Apenas este ano, a plataforma de UCITS da BlackRock já captou € 102 bilhões.
O desafio para disponibilizar os UCITS não foi regulatório, mas sim operacional, exigindo um esforço pioneiro da corretora. A empresa precisou se conectar diretamente ao mercado europeu, um processo que, segundo Artmann, foi literal: “a gente foi pra Europa, né, literalmente, tipo, a gente foi na bolsa de Londres, a gente conectou com executores em Londres, com custodentes antes em Londres”.
Toda essa complexidade, justificada pelo fato de a infraestrutura financeira global ser majoritariamente desenhada para os EUA, fez com que o projeto levasse cerca de seis meses para ser implementado do início ao fim.
Como investir nos ETFs irlandeses
Para os investidores interessados em aproveitar os benefícios dos ETFs irlandeses, o acesso foi simplificado. Os ativos podem ser negociados diretamente pelo aplicativo da Avenue, que disponibiliza uma prateleira com quase 80 opções de UCITS, com investimento inicial acessível. Os ativos são negociados em dólar na Bolsa de Londres, cujo pregão ocorre das 4h da manhã ao meio-dia e meia (horário de Brasília).
Já os clientes da EQI Investimentos podem procurar seus assessores para uma análise aprofundada. Como Tuca destacou anteriormente, a empresa, que historicamente já prioriza veículos com maior eficiência tributária e sucessória, vê o lançamento como um “avanço relevante” para proteger e otimizar o patrimônio de seus clientes no exterior.