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Proteção do FGC não deve excluir análise de risco dos títulos, aponta analista

Proteção do FGC não deve excluir análise de risco dos títulos, aponta analista

Em entrevista, João Neves, da EQI Research, analisa a liquidação extrajudicial do Banco Master e os impactos para os investidores.

A liquidação extrajudicial do Banco Master, decretada pelo Banco Central nesta terça-feira (18), encerra uma trajetória de expansão agressiva que há meses despertava apreensão no mercado. O banco havia se tornado conhecido entre investidores pessoa física por ofertar Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com remuneração muito acima da média — algumas chegando a 140% do CDI — e captado bilhões em poucos anos. Essa estratégia, contudo, vinha acompanhada de uma carteira de crédito considerada de alto risco e de um nível de alavancagem que, segundo especialistas, ultrapassava o aceitável para instituições do porte do Banco Master.

O cenário se agravou após o Banco de Brasília (BRB) tentar adquirir o Master e ter a operação vetada pelo Banco Central. A partir dali, o futuro do banco passou a ser monitorado quase diariamente por casas de análise, mesas de renda fixa e departamentos de risco. A liquidação veio menos de 24 horas depois de um novo interessado — o Grupo Fictor — manifestar intenção de compra, movimento que não chegou a sensibilizar o regulador.

Para compreender as implicações desse episódio, tanto para investidores quanto para o próprio Fundo Garantidor de Créditos (FGC), o EuQueroInvestir conversou com João Neves, analista da EQI Research, que explica por que a situação não oferece risco sistêmico, mas deve desencadear mudanças regulatórias importantes.

FGC tem liquidez e vai honrar pagamentos do Banco Master

A principal dúvida dos investidores se concentrava em saber se o FGC teria capacidade de absorver o impacto. Neves é categórico: o pagamento está garantido, e o fundo tem liquidez para arcar com a demanda gerada pelo colapso do Master. Ele explica que os CDBs do banco deixam de render a partir do dia da liquidação e que o valor a ser recebido é aquele registrado exatamente na data do decreto do Banco Central.

“O FGC já confirmou que vai arcar com os pagamentos. Os títulos param de render hoje, e o valor vigente será pago integralmente assim que a base de credores for enviada pelo liquidante. Não há risco de o FGC não honrar essa garantia”, afirma. De acordo com o analista, o fundo dispunha de cerca de R$ 120 bilhões em liquidez antes do episódio. “O Master compromete cerca de R$ 41 bilhões. É um percentual relevante, mas longe de ameaçar a estrutura do FGC. A liquidez é confortável.”

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O processo, no entanto, não será imediato. O liquidante indicado pelo Banco Central precisa consolidar os dados e enviar a lista completa de credores, o que pode levar cerca de 30 dias úteis. O pagamento, por sua vez, pode demorar ainda mais, devido à quantidade de investidores afetados.

“Talvez seis meses, talvez um pouco menos, mas certamente não será rápido. É um volume enorme de clientes e de operações para organizar”, explica Neves.

Ele reforça que, embora a demora prejudique a rentabilidade dos investidores — o dinheiro fica parado, sem correção —, ainda assim a situação é considerada favorável diante do que poderia ocorrer em um cenário sem FGC.

“Quem tem até R$ 250 mil vai receber integralmente. Quanto mais demorar, pior para o investidor, mas é melhor do que não receber nada.”

Modelo de negócios arriscado e crescimento alavancado aceleraram a queda

Ao analisar o colapso do banco, Neves destaca que o Master cresceu apoiado em uma estratégia considerada “perigosa” para seu porte. A carteira de crédito, segundo ele, era concentrada em operações arriscadas e sensíveis a ciclos econômicos. Além disso, o banco dependia fortemente da emissão de CDBs com taxas muito acima do mercado, recurso que atrai investidores rapidamente, mas pressiona a estrutura financeira da instituição.

“O volume de capital alavancado era muito grande. Quando um banco menor cresce rápido demais e usa produtos de captação com taxas tão acima da média, isso já é um sinal de alerta”, afirma.

O analista também avalia que o episódio deve acelerar uma guinada regulatória. “O Banco Central e o FGC já vinham demonstrando preocupação e apertando regras. Limites de alavancagem mais restritos, exigência de garantias mais robustas e restrições mais claras para bancos menores devem ganhar força agora. Para essas instituições, o custo de funding ficará mais alto.”

Investidores não podem olhar apenas para a proteção do FGC

Neves faz ainda uma ponderação importante sobre o comportamento do investidor brasileiro. Para ele, a percepção distorcida sobre o FGC criou uma sensação de segurança que desencoraja a avaliação de risco adequada.

“O FGC existe para evitar risco sistêmico, não para substituir a análise de risco. Muitos investidores, quando compram CDBs, pensam apenas na cobertura do FGC. Isso não deveria acontecer”, analisa.

Ele reforça que, antes de adquirir produtos de renda fixa, o investidor deveria observar indicadores como nível de alavancagem, taxa de inadimplência e solidez do modelo de negócios. “Como analista, sempre orientamos a olhar o risco do emissor”.

O que significa a liquidação extrajudicial e o que acontece agora com o Master

Com a liquidação, todas as operações do banco foram interrompidas, e a diretoria foi afastada. O liquidante nomeado pelo Banco Central passa a ser responsável por levantar todos os ativos — como carteira de crédito, imóveis e reservas — e também todas as dívidas do banco. Após esse levantamento, começa o processo ordenado de venda de ativos para pagamento de credores que não estão cobertos pelo FGC.

Enquanto isso, investidores com CDBs elegíveis aguardam a organização da base de dados que permitirá a liberação dos pagamentos. O processo não possui prazo definido; depende inteiramente da eficiência do liquidante em organizar as informações.

E os investidores do Willbank?

O Willbank, instituição do mesmo grupo econômico, não foi liquidado. As autoridades avaliam que ele ainda é vendável e que possui condições operacionais para seguir em atividade. Dessa forma, clientes com CDBs emitidos pelo Willbank não acionam o FGC neste momento.

Como reaver o dinheiro investido em CDBs do Banco Master

  1. Baixe o aplicativo do FGC e faça o cadastro
    • Pessoa física: CPF e documento com foto.
    • Pessoa jurídica: CNPJ, documentos societários e documentos autenticados dos representantes legais.
  2. Aguarde a inclusão na base de credores enviada pelo liquidante
    A instituição em liquidação envia ao FGC a lista de todos os credores e os valores a serem pagos. Esse processo leva, em média, até 30 dias úteis.
  3. Solicite o pagamento no próprio aplicativo do FGC
    Após o processamento, o valor a receber aparece no app. O investidor deve validar a biometria, enviar os documentos solicitados e assinar o termo de sub-rogação.
  4. Receba o depósito
    Com tudo aprovado, o FGC deposita o valor na conta indicada em até 48 horas úteis.
  5. Prazo máximo para solicitar a garantia
    O investidor tem cinco anos, contados da data da liquidação. Neste caso, até 18 de novembro de 2030.
  6. Se o CPF não constar na base
    É necessário contatar o liquidante — o Banco Central — e apresentar comprovantes do investimento, como nota de negociação, extrato ou comprovante de débito.

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