No mundo dos serviços bancários, principalmente após a popularização dos bancos digitais, é comum que uma pessoa tenha mais de uma conta corrente para aproveitar os benefícios oferecidos por diferentes instituições financeiras.
No entanto, surge a questão: será que essa mesma lógica pode ser aplicada às contas de investimento?
Segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Brasil possui 61 corretoras e 101 distribuidoras de títulos e valores mobiliários. Portanto, se você é um investidor experiente ou está apenas iniciando sua jornada, é provável que já tenha visto anúncios ou pesquisado diversas corretoras em busca daquela que oferece o melhor serviço.
Este artigo tem como objetivo apresentar os prós e contras de se investir em mais de uma corretora de valor.
Mitos e verdades sobre investir em mais de uma corretora
Ter contas em diferentes corretoras de valores pode trazer a impressão de ser uma grande vantagem para os investidores. Muitos optam por dispersar seu patrimônio por diferentes instituições por motivos que vão desde taxas melhores até a busca por diferentes insights de assessoria especializada, passando por receios com a segurança do investimento.
Mas será mesmo que esses motivos fazem sentido? Vamos falar a respeito.
Oportunidades de taxas melhores
Ao diversificar suas contas em diferentes corretoras, você pode encontrar taxas de corretagem diferentes. E essa motivação para ter mais de uma conta de investimento pode ser válida, se o seu perfil for condizente com a estratégia. Afinal deverá ser feito um acompanhamento bem detalhado de cada produto e taxas de corretagem praticadas, o que demandará bastante tempo investido.
Para Denys Wiese, estrategista da EQI Investimentos, a estratégia é aplicável, em geral, para aqueles investidores que atuam de forma independente.
“Se o investidor for bem independente, agir no modo ‘self-service’, investindo por conta própria mesmo, talvez ele consiga uma taxa um pouco melhor em uma corretora, uma para outro produto em outra corretora e assim por diante”, diz, salientando que o montante poupado nem sempre justificará o tempo investido para este controle.
Diferentes experiências de atendimento
Há também aquele investidor que gosta de testar plataformas de investimento diferentes, em busca da melhor tecnologia ou do home broker no qual se sinta mais confortável.
“Basicamente, o que vai definir qual a melhor corretora para cada um é a experiência do cliente, o atendimento que cada perfil demanda, a usabilidade da plataforma ou o serviço a mais que uma corretora ofereça e a outra não”, pondera Wiese.
Assessoria especializada
Poder contar com a assessoria de investimento de mais de uma corretora também é algo que cada investidor precisa entender se é algo que agrega ou não à sua experiência como cliente.
Ao contar com mais de uma assessoria, você pode obter diferentes perspectivas e insights, o que pode contribuir para uma tomada de decisão mais informada e assertiva. Por outro lado, há aquele investidor que acaba por considerar prejudicial ter “informação demais” e tantos assessores em contato.
Sobre este ponto, Denys Wiese faz um alerta: ao espalhar o patrimônio em diferentes contas de investimento, o investidor perde a oportunidade de vivenciar uma assessoria completa.
“Quando o assessor consegue enxergar toda a carteira do cliente e dar opinião sobre todo o patrimônio, a assessoria tende a ser melhor e as recomendações mais assertivas”, diz.
Isso porque, ao não considerar o todo, cada assessor fará uma recomendação de alocação dentro apenas do universo do qual tem conhecimento, desprezando o potencial de rentabilidade do todo.
“Para quem quer realmente uma experiência completa de assessoria, o melhor é ter tudo em uma conta só”, recomenda.
- Confira também: Saiba como contratar uma assessoria de investimento
Diversificação do risco
Alguns investidores justificam o fato de trabalharem com mais de uma corretora como uma maneira de se proteger contra uma possível falência dessas instituições financeiras.
Esse argumento até fazia sentido no passado, quando o dinheiro ficava custodiado em contas da corretora e eram elas que adquiriam os ativos. Mas, agora, esse risco não existe mais. Todo investimento fica vinculado a uma conta do próprio investidor e não mais da corretora.
Vale mencionar que, devido à regulação do Sistema Brasileiro de Pagamento (SBP) do Banco Central (BC), há uma separação entre os bens das instituições financeiras e o patrimônio de seus clientes, o que protege o dinheiro do cliente caso uma instituição entre em processo de falência.
Wiese ressalta que existe um verdadeiro “chinese wall” no mercado financeiro, termo que remete à Muralha da China e se refere às regras rígidas que garantem a segregação do patrimônio do cliente, da corretora e dos ativos financeiros.
Investir em mais de uma corretora: como fica o FGC?
Ter conta em mais de uma corretora traz uma desvantagem importante para o investidor, no que diz respeito à segurança dos títulos de renda fixa emitidos por instituições bancárias. E aqui vamos falar do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
Ao adquirir títulos bancários do mesmo emissor em mais de uma corretora, o investidor pode não se dar conta de que, se ultrapassar o limite de proteção do FGC, que é de R$ 250 mil por CPF, ele não estará resguardado.
Como assim? Alguns investidores acreditam, erroneamente, que se adquirirem, por exemplo, R$ 250 mil em um CDB do banco A na corretora B e mais R$ 250 mil do mesmo título na corretora C estarão com todo o investimento assegurado pelo FGC. Mas não é assim que funciona.
Novamente, o FGC só cobre até R$ 250 mil por CPF, independentemente da corretora que você tenha adquirido o título. Ou seja: seguindo o exemplo citado acima, você investiu R$ 500 mil, mas só terá R$ 250 mil assegurados pelo FGC.
Outro erro comum é se deixar confundir pelo nome dos produtos, que por questões comerciais, às vezes são vendidos com denominações diferentes pelas corretoras. Por exemplo, o China Construction Bank é o mesmo que CCB Brasil S/A, e o Banco Bonsucesso é o Banco Bs2 S/A. Essa falta de padronização entre as corretoras pode confundir os investidores desavisados e resultar no fato de que o FGC não irá garantir a cobertura de todo investimento.
O educador financeiro André Bona, que tem canal no YouTube, afirma que os produtos financeiros devem ser considerados como commodities pelos investidores. Mas o que isso significa? Basicamente, que as corretoras vão oferecer os mesmos produtos financeiros sempre. Porém, para diferenciá-los, cada corretora os apresentará com nomes distintos.
Então, atenção: caso você tenha conta em mais de uma corretora, é possível que invista no mesmo produto duas vezes, sem ter ciência disso.
Vantagem de ter tudo apenas em uma corretora
Por fim, a principal vantagem de concentrar todos os investimentos em uma única conta é que seu assessor de investimentos poderá, assim, ter uma visão completa da carteira.
Isso possibilita que o profissional ofereça uma opinião embasada sobre todo o patrimônio, aumentando as chances de uma análise mais precisa e certeira.
- Após conhecer as vantagens e desvantagens de investir em mais de uma corretora, saiba como ter uma assessoria internacional para investir no exterior, clicando aqui.