O Banco Central da Argentina vai ser fechado? E quais as consequências dessa ação? Essa é uma pergunta que tem rondado a cabeça dos investidores que têm acompanhado a economia da Argentina, principalmente depois da eleição de Javier Milei no último dia 19.
Entre as plataformas políticas do presidente eleito estavam algumas medidas vistas por muitos como radicais, como a dolarização da economia do país e também o fechamento da autoridade monetária do país. O próprio Milei propôs, durante as eleições, que sem o banco central de lá, os argentinos poderiam escolher o sistema monetária ao qual se adaptassem melhor.
Após o pleito, o novo presidente – que toma posse já no próximo dia 10 de dezembro – tem buscado suavizar o próprio discurso. Mas a decisão de fechar a instituição foi reiterada pelo próprio presidente eleito no dia seguinte à eleição.
Antes de entender como pode se dar o fechamento da autoridade monetária argentina e quais sua suas possíveis consequências, é preciso entender qual o papel de um banco central e qual o peso que ele tem na economia de cada nação.
Qual o papel do Banco Central da Argentina?
Em um cenário econômico global, os bancos centrais desempenham um papel crucial na estabilidade e no funcionamento eficiente de uma economia. Suas funções abrangentes e responsabilidades estratégicas são fundamentais para garantir um ambiente econômico saudável e sustentável.
O principal propósito de um banco central é manter a estabilidade financeira e controlar a inflação. Esses objetivos muitas vezes se complementam, visando criar condições propícias para o crescimento econômico sustentável e a manutenção do poder de compra da moeda nacional.
O Banco Central da Argentina, por exemplo, exerce controle sobre a oferta do peso argentino e as taxas de juros do país, utilizando ferramentas de política monetária. Ao ajustar a taxa básica de juros, eles buscam influenciar o consumo, o investimento e, por conseguinte, a inflação – que tem atingido níveis considerados alarmantes no país. Uma abordagem equilibrada é essencial para evitar tanto a hiperinflação quanto a deflação.
Além disso, os bancos centrais têm a responsabilidade de garantir a estabilidade do sistema financeiro. Isso envolve supervisionar e regular instituições financeiras para prevenir crises bancárias, assegurando que o sistema esteja robusto o suficiente para resistir a choques econômicos.
Em muitos casos, a autoridade monetária também desempenha um papel na gestão da taxa de câmbio nacional. Eles podem intervir nos mercados cambiais para evitar flutuações excessivas e manter a competitividade das exportações.
Os bancos centrais frequentemente atuam como “prestamistas de última instância”, fornecendo apoio financeiro a instituições em momentos de crise para evitar colapsos sistêmicos que poderiam ter impactos negativos significativos na economia como um todo.
A transparência e a comunicação eficaz são princípios-chave para os bancos centrais. Eles frequentemente divulgam suas decisões e análises econômicas para fornecer orientação ao mercado e ao público em geral, contribuindo para a previsibilidade e a confiança no sistema financeiro.
Em resumo, os bancos centrais desempenham um papel multifacetado na estabilidade econômica, implementando políticas monetárias, supervisionando o sistema financeiro e intervindo conforme necessário para manter a solidez e a confiança na economia de um país. Suas ações são cruciais para promover um ambiente econômico saudável e sustentável a longo prazo.
Como ficaria a Argentina sem o Banco Central?
Tendo toda essa importância citada na economia de um país, como seria então a economia do país sem essa instituição? Pode trazer uma série de consequências. Entre ela, o país abriria mão na tomada de decisão de sua própria política monetária.
Além disso, não poderia mais definir a taxa básica de juros do país – um instrumento considerado importante no combate à inflação – e ainda não teria como emitir papel-moeda, em caso de necessidade.
Outra questão é que o país ficaria sem a base de controle de uma instituição que poderia repassar recursos a outros bancos no fim de cada dia para fechar o caixa e evitar problemas que pudessem trazer consequências mais graves ao sistema financeiro, como crises de confiança.
No Brasil, o Banco Central (BC), além de fixar a taxa básica Selic, o controle da inflação, periodicamente fazer operações de swap cambial no mercado para evitar disparadas do dólar e uma consequente desvalorização do real.
Uma curiosidade: os únicos países que não possuem bancos centrais são, na verdade, nações muito pequenas: Quase todas as nações que extinguiram o banco central são, na verdade, países muito pequenos: Kiribati, Tuvalu, Andorra, Ilhas Marshall, Mônaco, Nauru, Micronésia, Palau e o principado de Liechtenstein.
A crise cambial na Argentina
Recentemente, a Argentina tem passado por uma severa crise cambial, que fez com que o chamado “dólar blue” – uma espécie de cotação paralela do dólar, entre as variadas cotações da divisa norte-americana no país – atingisse o valor de 1.000 pesos argentinos ao longo do segundo turno das eleições.
Desde o começo do ano, o atual governo, do presidente Alberto Fernandez, vem tentando conter a crise. Entre as medidas, foi assinado um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que permitiu à Argentina ter um fôlego em suas reservas cambiais.
Além disso, uma pesquisa realizada há alguns meses pelo Idec – Instituto Nacional de Estatística e Censo da Argentina – apurou que cerca de 40% da população do país estaria vivendo abaixo da linha da pobreza.
Esse levantamento mostrou que entre 31 áreas urbanas do país, de um total de 29,4 milhões de pessoas que participaram desse estudo, cerca de 11,8 milhões estariam vivendo em dificuldades extremas – o que levou à conclusão do estudo de que 40,8% estão na camada mais pobre da população.
Foi nesse contexto de grave crise que Javier Milei foi eleito, prometendo dolarizar a economia e fechar o banco central, em uma tentativa de recuperar a combalida economia do país e também tentar regularizar as finanças nacionais, além de já anunciados cortes de gastos previstos para o próximo ano.
Diante disso tudo, fica o desafio de imaginar como será para os argentinos conviverem economicamente sem o Banco Central da Argentina, em um contexto de muita pobreza e ainda de inflação galopante.