A escalada na tensão comercial entre Estados Unidos (EUA) e China voltou a acender alertas nos mercados globais nesta sexta-feira (11). Em resposta às novas tarifas anunciadas pelo governo norte-americano, Pequim reagiu aumentando de forma significativa as tarifas sobre importações dos EUA, elevando-as de 84% para 125%. A retaliação chinesa foi vista como um contragolpe à decisão do presidente Donald Trump, que na última quarta-feira (9) anunciou uma pausa de 90 dias nas tarifas para parceiros comerciais — com exceção da China, que teve suas taxas ajustadas para agressivos 145%.
Segundo o comunicado oficial da Casa Branca, divulgado na quinta-feira (10), a estratégia visa “aliviar tensões” sem perder o foco na pressão contra o governo chinês. Para os demais países, inclusive o Brasil, uma tarifa universal de 10% foi definida.
A resposta do mercado não demorou: Wall Street reagiu com pessimismo, refletindo temores de inflação e recessão global. A volatilidade disparou, e o dólar recuou.
Para o analista internacional Marink Martins, da EQI+, o momento revela muito mais do que um embate tarifário: “Esse dólar fraco mostra uma certa fragilidade dos Estados Unidos”, comentou. Ele explica que, em tese, o enfraquecimento da moeda americana pode beneficiar o S&P 500, já que boa parte da receita das grandes empresas vem do exterior, mas alerta: “Só falta um detalhe — o custo do dinheiro ainda está alto, o que preocupa Trump e Scott Bessent, secretário do Tesouro.”
Martins chama atenção para o recente comportamento da taxa dos títulos do Tesouro americano de 10 anos, que caiu no início da semana e rapidamente voltou a subir, num salto de 60 pontos-base. “É um movimento importante, que pode ter sido um dos gatilhos para o ‘meia-volta volver’ promovido por Trump ao longo da semana”, avalia.
Tensão entre EUA e China: liderança imprevisível e riscos geopolíticos
A condução das políticas comerciais americanas também levanta incertezas entre investidores. O risco maior está no comportamento errático do próprio presidente americano: “Trump pode, a qualquer momento, anunciar em suas redes sociais que teve uma ligação promissora com Xi Jinping — e isso faz os mercados dispararem, para logo depois desabarem de novo”.
Na análise de Martins, essa volatilidade está tornando o mercado americano “mais parecido com um mercado emergente”, não apenas pelos indicadores econômicos, mas também pelo estilo de liderança. “Trump abusa dos decretos presidenciais, utiliza tarifas como instrumentos de pressão e vende narrativas sobre os déficits comerciais que não se sustentam economicamente”, critica o analista.
Ele explica que o papel dos EUA como emissor da moeda de reserva global implica naturalmente em déficits comerciais, já que o país importa produtos e exporta dólares — que acabam retornando em forma de investimentos. “Essa é a famosa reciclagem de dólares, um privilégio americano que Trump prefere pintar como problema”, diz.
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Apple e a fragilidade das gigantes
Encerrando sua análise, Marink Martins aponta para o que considera um sintoma silencioso da fragilidade americana: a situação da Apple. Avaliada em quase US$ 3 trilhões, a gigante tecnológica tem um patrimônio líquido de apenas US$ 50 bilhões, inferior ao de concorrentes como Microsoft e até mesmo à Petrobras.
“Apesar de gerar 100 bilhões de dólares por ano em fluxo de caixa livre, a Apple reinveste pouco. Praticamente todo esse montante é usado para recompras de ações e dividendos”, observa. Isso, segundo ele, limita a capacidade da empresa de realizar grandes investimentos estratégicos — como uma eventual relocação de sua cadeia produtiva para os Estados Unidos, caso exigido pelo governo.
“Isso expõe uma fragilidade incômoda, especialmente para uma das maiores representantes do S&P 500”, conclui.
Cenário volátil, liderança instável
Em meio a um cenário cada vez mais turbulento, a combinação de liderança imprevisível, decisões econômicas controversas e tensões externas desenha um quadro preocupante para os EUA — e, por consequência, para os mercados globais. “O mundo está mais instável. Mas é a fragilidade americana que salta aos olhos”, finaliza Martins.
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