O presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, anunciou na quarta-feira (9) uma nova configuração tarifária para seus parceiros comerciais: uma pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas, com exceção da China, que agora enfrenta uma tarifa recorde de 145% (revisados de 125% anunciados inicialmente) sobre seus produtos. A medida, segundo a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, visa “aliviar tensões comerciais com aliados” ao mesmo tempo em que mantém “pressão sobre Pequim”.
Para o analista internacional Marink Martins, esse novo capítulo da guerra comercial revela uma mudança de postura por parte dos Estados Unidos que, embora previsível, levanta questões intrigantes: “O que parecia uma estratégia isolacionista — uma briga contra todo o mundo — virou algo mais concentrado, dos Estados Unidos contra a China. A dúvida é: foi planejado, ou é resultado da pressão dos mercados?”, provocou Marink em sua análise no aplicativo EQI+.
Mercados estão sem proteção
Segundo ele, há indícios de que os mercados, por um período, ficaram “sem hedge”, ou seja, sem proteção contra riscos, criando um vácuo que afetou o comportamento dos investidores.
“Os americanos gostam de uma carteira diversificada. Desde o fim dos anos 1990, enfrentamos bolhas, como a das empresas “pontocom”, do subprime, e até o flash crash (queda relâmpago) de 2012, com a Apple despencando e voltando no mesmo dia. O que vimos ontem foi mais expressivo do que muitos desses eventos históricos”, diz
Para Marink, o anúncio de Trump ecoa as ideias já conhecidas do ex-presidente, mas com uma reviravolta que remete às negociações da Parceria Transpacífica (TPP), abandonada por ele no início do mandato. “Trump volta a flertar com o Sudeste Asiático e demais parceiros do Pacífico. É como se ele buscasse agora um bloco comercial anti-China, sob um novo rótulo.”
Ainda assim, a China não deve ficar inerte. O analista aponta que o país asiático pode responder com sua tradicional diplomacia econômica, intensificando investimentos em infraestrutura global e — talvez — abrindo parcialmente seu próprio mercado para ganhar aliados.
Indicadores financeiros mostram tensão
No pano de fundo, indicadores financeiros acenderam o alerta: “O VIX, o ‘índice do medo’, caiu de 50 para 30 após o anúncio, mas já nesta manhã voltou para 36, o que mostra que os investidores seguem tensos. A bolsa americana segue volátil.”
“A pergunta que paira é se essa parceria Estados Unidos-China está morrendo ou já morreu”, avalia.
Enquanto isso, o mundo observa, em compasso de espera, como os agentes econômicos e os governos irão digerir um cenário em que a antiga lógica de cooperação global pode estar dando lugar a um novo capítulo de rivalidade estratégica.
Você leu sobre a guinada na disputa dos EUA e da China.