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Qual a hora certa de falar sobre investimentos com os filhos?

Qual a hora certa de falar sobre investimentos com os filhos?

A educação financeira infantil é um dos presentes mais valiosos que os pais podem oferecer aos seus filhos. Numa época em que as crianças crescem rodeadas de estímulos de consumo e onde as decisões financeiras definem frequentemente o futuro, compreender quando e como introduzir conceitos de investimento torna-se essencial. Mas qual é realmente a hora certa para falar sobre investimentos com os filhos? E como fazer isso de forma leve e natural?

A resposta pode surpreender muitos pais: nunca é cedo demais. Segundo Edgar Abreu, especialista em finanças e autor do livro “Pais que Educam, Filhos que Prosperam”, “por volta dos 7 a 9 anos, as crianças começam a compreender a causa e a consequência”, explica.

É nesta fase que desenvolvem a capacidade de entender que guardar dinheiro hoje pode render mais amanhã. Este é o momento ideal para plantar as sementes de uma relação saudável e consciente com o dinheiro.

O segredo, porém, não está em usar termos técnicos ou complexos, aponta Edgar. Quando falamos de investimentos com filhos, devemos adaptar a linguagem ao seu universo.

Em vez de “investimento”, fale em “plantar dinheiro”. Esta metáfora simples, mas poderosa, permite que a criança compreenda intuitivamente o conceito: “Quando você guarda um pouquinho, é como plantar uma semente. Se cuidar bem, ela cresce e dá frutos.”

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O método dos Três Porquinhos

Uma das estratégias mais eficazes para ensinar educação financeira desde cedo é o método dos três cofrinhos. Este sistema, que remonta aos ensinamentos das histórias clássicas, funciona de forma prática e visual.

“Cada “porquinho” tem um propósito e um tempo diferente para ser aberto, isso ensina sobre liquidez, paciência e planejamento“, afirma Edgar.

O primeiro cofrinho destina-se ao curto prazo, aqueles gastos imediatos que a criança deseja, como um gelado ou um brinquedo. O segundo é para o médio prazo, objetivos maiores que exigem poupança acumulada ao longo de semanas ou meses. O terceiro cofrinho representa o longo prazo, onde o dinheiro repousa e cresce, ensinando o valor da paciência e da espera.

Além destes, o especialista recomendam também um quarto cofrinho dedicado à doação, fomentando desde cedo valores de generosidade e responsabilidade social.

Como tornar a educação financeira uma brincadeira?

A verdadeira arte de ensinar investimentos aos filhos está em transformar este conhecimento numa brincadeira. “Infância não é planilha, é aprendizado disfarçado de diversão”, afirma Edgar. Por isso, a forma como apresentamos estes conceitos é primordial.

Comece com exemplos práticos e tangíveis do seu dia a dia. Se a criança quer um objeto específico, mostre como o dinheiro “se multiplica” com pequenas recompensas: “Se você guardar R$10 por semana, no final do mês terá R$40, e em três meses já dá para comprar aquele jogo que você queria”, exemplifica Edgar.

Histórias, jogos de tabuleiro e aplicações para crianças são ferramentas que geram conversa e reflexão. O Jogo Monopoly, por exemplo, ensina de forma lúdica sobre gestão de recursos, negociação e consequências das decisões.

Experiências práticas também funcionam muito bem: deixe a criança participar nas compras, simule transações, divida o troco do supermercado nos “porquinhos”, tudo isto são lições valiosas sobre o valor do dinheiro.

Responsabilidade sem ansiedade

Uma questão que preocupa muitos pais é: será que falar sobre investimentos com filhos cedo pode gerar ansiedade nas crianças? A resposta depende da forma como abordamos o tema.

Se o ensino financeiro for leve e lúdico, com o que se pode chamar de “PlayLearn Balance”, desperta responsabilidade. Contudo, se for uma cobrança constante ou uma fonte de medo, pode efetivamente gerar culpa e preocupação desnecessária.

O segredo é transformar o ensino financeiro em brincadeira, mantendo a infância intacta.

Falar de dinheiro não deve ser um tabu nas famílias, mas também não deve ser um peso. Assim que a criança compreender que guardar é positivo, que escolhas têm consequências, e que o dinheiro é uma ferramenta para alcançar sonhos, não uma fonte de stress, terá adquirido habilidade que a acompanhará por toda a vida.

Alguns recursos que podem ser usados com as crianças são os jogos de tabuleiro, aplicativos de finanças para crianças, histórias e livros, como por exemplo “Pais que educam, filhos que prosperam”, de Edgar Abreu, experiencias práticas como simular compras e trocas de figurinhas e até mesmo dividir o troco do mercado em porquinhos.

Construindo as bases: antes de investir

Muitos pais cometem o erro de querer ensinar investimentos antes de estabelecer as fundações necessárias. Mas investimento sem poupança é como plantar em solo seco. Antes de qualquer coisa, a criança precisa de compreender como sobrar dinheiro.

O processo deve ser gradual. Primeiro, ensinamos a educação financeira básica: a diferença entre necessidades e desejos, como o dinheiro surge do trabalho, porque é importante poupar. Depois, trabalhamos a poupança e a mesada, permitindo que a criança pratique gerir quantias pequenas.

Apenas quando estes conceitos estão bem consolidados é que podemos introduzir ideias de longo prazo e investimento propriamente dito.

Os três pilares da prosperidade financeira

Segundo o especialista, há três pilares fundamentais que devem guiar todo este processo de falar sobre investimentos com filhos:

  • Consciência: a criança deve saber de onde o dinheiro vem e para onde vai. Participe junto com os filhos do orçamento familiar. Explique que os pais trabalham todos os meses para ter rendimentos e que, com esse dinheiro, precisam de pagar despesas. Quando as crianças percebem esta realidade, começam a valorizar o dinheiro de forma diferente.
  • Autonomia: as crianças devem começar a tomar decisões com base no esforço e na troca, não na dependência. Quando uma criança ganha o seu próprio dinheiro, por pequeno que seja, e vê as consequências das suas escolhas, desenvolve um sentido de responsabilidade que não pode ser ensinado de outra forma. A frustração de gastar tudo e depois não conseguir comprar o que queria é uma ferramenta poderosa de aprendizagem.
  • Propósito: é essencial que a criança compreenda que o dinheiro é um meio, não um fim. A riqueza financeira não é o objetivo; o objetivo é usar o dinheiro como ferramenta para viver melhor, para concretizar sonhos, e para ajudar outros.

Quando começam os investimentos reais?

Se a criança tem entre 7 e 9 anos e já domina bem os conceitos de poupança e escolha consciente, está no bom caminho. Contudo, investimentos mais estruturados podem começar a ser introduzidos por volta dos 10 aos 12 anos, quando a criança consegue compreender conceitos como conta poupança, juros simples, e a ideia básica de que o dinheiro guardado no banco cresce.

A partir dos 13-15 anos, adolescentes com uma base sólida de educação financeira podem começar a conhecer diferentes produtos de investimento: depósitos a prazo, ações, obrigações, fundos de investimento. Nesta fase, também é apropriado introduzir conceitos como juros compostos, inflação e como estes fatores afetam o poder de compra do dinheiro ao longo do tempo.

O papel do exemplo parental

Não se pode exigir que as crianças aprendam a poupar e a investir se os pais vivem de forma irresponsável financeiramente.

O exemplo parental é o maior professor.

Se os filhos veem que os pais discutem o orçamento familiar, que poupam regularmente, que fazem escolhas conscientes sobre gastos, e que entendem o valor de gerir bem o dinheiro, eles naturalmente seguirão esse caminho.

Isto não significa ser “mão de vaca” ou negar prazeres. Significa ter inteligência financeira: compreender que hoje podia gastar muito dinheiro numa noite, mas que esse dinheiro seria mais útil investido no futuro.

É compreender o equilíbrio entre o agora e o amanhã, entre o prazer e a prudência.

Como pais pouco preparados podem ajudar?

Um dos receios mais comuns entre pais é não se sentirem suficientemente preparados para ensinar sobre investimentos com filhos. Muitos adultos tiveram uma infância sem qualquer educação financeira e agora, como pais, sentem a pressão de transmitirem conhecimentos que não têm.

Segundo Edgar, a solução é simples: “assuma a jornada de investimentos junto com o filho”.

Diga algo como: “Eu também estou aprendendo. Vamos descobrir juntos?”. Esta abordagem cria conexão, humildade e parceria. A educação financeira educa pais e filhos ao mesmo tempo. Muitos pais descobrem, enquanto ensinam os seus filhos, que precisavam aprender melhor estes conceitos para si próprios.

Ensinando o valor do dinheiro dia a dia

A educação financeira não precisa de momentos especiais ou aulas formais. Acontece naturalmente no dia a dia. Quando vai ao supermercado, envolva as crianças: peça-lhes para comparar preços, para ajudarem a calcular se há dinheiro suficiente para os itens da lista de compras. Mostre como o dinheiro “sobra” quando fazemos escolhas conscientes.

Quando a criança expressa um desejo de comprar algo, não diga automaticamente “não temos dinheiro”. Aproveite a oportunidade para negociar: “Isso custa 30 reais. Você tem 10 reais poupados. Se conseguir mais 20 reais em dois meses, conseguimos comprar.” Assim, a criança vê concretamente como o tempo e o ato de poupar funcionam juntos.

Investimento consciente desde cedo

À medida que a criança entra na vida adulta, aos 18 anos, se tiver tido uma educação financeira sólida, terá as ferramentas para fazer escolhas informadas. Mas, mais importante ainda, terá desenvolvido uma relação com o dinheiro baseada em consciência, autonomia e propósito.

“Filhos que prosperam sabem equilibrar o agora e o amanhã”, afirma Edgar. “No fim, o objetivo não é criar mini-investidores, mas grandes seres humanos financeiramente conscientes.”

O objetivo real

A verdade é que o objetivo de falar sobre investimentos com filhos não é transformá-los em gestores de carteiras ou traders. O objetivo é preparar seres humanos para a vida, para que compreendam o valor do dinheiro, aprendam a gerir recursos com sabedoria, e entendam que as escolhas financeiras têm impacto real na qualidade de vida.

Quando uma criança compreende que poupar exige paciência, que investir exige planeamento, que o dinheiro é fruto do trabalho, e que pode servir tanto para satisfações pessoais como para ajudar outros, essa criança está preparada não apenas para ter sucesso financeiro, mas para ser um adulto responsável e consciente.

A hora certa para começar a falar sobre dinheiro é agora. A hora certa para ensinar sobre investimentos é quando a criança demonstra curiosidade e maturidade para compreender a relação entre esforço, tempo e recompensa. E a hora certa para transformar isto numa jornada familiar é sempre hoje.

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