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Mesada: dar ou não dar aos filhos?

Mesada: dar ou não dar aos filhos?

A decisão de dar mesada ou não aos filhos gera dúvidas em muitas famílias brasileiras. Alguns pais temem estimular o consumismo, enquanto outros questionam se estão preparando adequadamente os filhos para lidar com dinheiro na vida adulta. A verdade é que a mesada pode ser uma ferramenta poderosa de educação financeira — mas apenas quando utilizada corretamente.

Edgar Abreu, especialista em finanças e autor do livro “Pais que Educam, Filhos que Prosperam”, é categórico: a mesada é, sim, uma boa ferramenta para ensinar educação financeira às crianças. Porém, ele faz uma ressalva importante: “só se for bem usada”. Segundo o especialista, a mesada precisa ser entendida como uma ferramenta poderosa de aprendizado, não como um presente sem propósito.

Mesada é ou não é: entendendo a diferença fundamental

Antes de decidir se deve dar mesada ao seu filho, é essencial compreender um conceito que muitos pais desconhecem. Edgar Abreu explica que existe uma diferença fundamental entre mesada e “despesada”:

  • Mesada é o crédito, o dinheiro que entra
  • Despesada é o débito, o dinheiro que sai

“Quando a criança entende que parte do que ganha deve ser usada para pagar suas responsabilidades — como arrumar o quarto, cuidar do pet ou ajudar em casa — ela começa a desenvolver o senso de responsabilidade que vai guiá-la na vida adulta”, explica.

Nestes casos, a mesada deixa de ser apenas “dinheiro de graça”, que pode deseducar a criança, e passa a simular a vida real, ensinando que o dinheiro é fruto de troca, esforço e responsabilidade.

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Os maiores erros dos pais ao dar mesada

Muitas famílias cometem equívocos que transformam a mesada em algo prejudicial à educação financeira dos filhos. Edgar Abreu destaca os principais erros:

1. Dar dinheiro sem contrapartida

Este é o erro mais comum. Quando os pais dão mesada sem exigir nada em troca, ensinam que o dinheiro “nasce na conta”. O problema é que isso não educa — deseduca. Na vida real, precisamos trocar nosso tempo, esforço e habilidades por dinheiro.

Além disso, ao receber dinheiro sem contrapartida, as crianças não desenvolvem o senso de responsabilidade necessário para a vida adulta.

2. Não ensinar a gastar

“Muitos pais focam exclusivamente em poupar, mas esquecem que gastar bem também é educação financeira”, explica o especialista. As crianças aprendem a administrar melhor o dinheiro quando compreendem que cada gasto tem um propósito e consequências.

É fundamental ensinar o filho a pensar antes de comprar, questionando se realmente precisa daquilo ou se poderia esperar um pouco para conseguir algo maior.

3. Pagar tudo o que a criança quer

Quando os pais atendem a todos os pedidos dos filhos, eliminam o senso de escolha e prioridade. O valor do dinheiro só é aprendido quando a criança precisa fazer escolhas difíceis entre diferentes desejos. Nestes casos, ela desenvolve a capacidade de estabelecer prioridades e adiar gratificações.

Como evitar esses erros?

Edgar Abreu recomenda associar a mesada a pequenas responsabilidades e estabelecer metas claras. “Uma estratégia é ajudar seu filho a dividir o dinheiro seguindo o modelo 4S: Sobrevivência, Saber, Social e Surpresa. Assim, ele aprende que cada gasto tem um propósito”, diz o especialista. Desta forma, a criança desenvolve uma relação mais consciente com o dinheiro.

Em que idade começar a dar mesada?

A idade ideal para começar depende menos do número de anos e mais da maturidade da criança. Edgar Abreu explica que crianças por volta dos 5 a 7 anos já podem receber pequenas quantias simbólicas, mas o ideal é que a mesada cresça junto com o senso de responsabilidade.

“Aos poucos, a criança vai entendendo que o dinheiro serve para satisfazer desejos, cumprir deveres e realizar sonhos. O segredo é começar pequeno, o valor é menos importante do que o valor do aprendizado”, afirma.

Semanada ou mesada: qual escolher?

Para crianças mais novas, a semanada costuma funcionar melhor. O orçamento familiar pode ser dividido em períodos menores, facilitando o aprendizado. Quando as crianças aprendem a gerir valores menores num período mais curto, conseguem corrigir erros mais rapidamente.

Já a partir da pré-adolescência, quando os filhos demonstram capacidade de planejamento e já têm uma boa noção do tempo, pode-se fazer a transição para a mesada mensal. Edgar Abreu reforça que a periodicidade ideal é mensal, como na vida adulta, mas com os pequenos pode começar semanal para que o aprendizado seja mais rápido.

Como definir o valor da mesada?

Uma das perguntas mais frequentes dos pais é: quanto dar de mesada? Edgar é claro: o valor deve ser compatível com a realidade da família e com a idade da criança. O erro é querer transformar o filho em “executivo júnior”.

“O importante não é o quanto ele ganha, mas como administra”, explica.

Ele relembra que a mesada é uma simulação da vida real, a criança deve sentir o peso da escolha. Se gastar tudo na primeira semana, vai precisar lidar com a escassez até o próximo “pagamento”.

Fatores a considerar ao definir o valor

O valor da mesada deve levar em conta:

  • Orçamento familiar: a mesada deve ser uma despesa fixa compatível com as finanças da família;
  • Idade e necessidades: crianças menores precisam de valores menores; adolescentes têm mais despesas;
  • Despesas fixas: defina claramente o que a mesada deve cobrir (lanches, transporte, tarifa de celular);
  • Margem para escolhas: deve sobrar um valor além das despesas essenciais para que o filho aprenda a fazer escolhas.

Cada família é única, e o valor da mesada deve ser personalizado de acordo com as circunstâncias e valores familiares.

Ensinando educação financeira através da mesada

A mesada pode ser transformada em uma poderosa ferramenta de educação financeira quando bem utilizada. Edgar Abreu ensina uma metodologia simples e eficaz.

A metáfora dos três porquinhos

A melhor forma de ensinar noções de poupança, gasto consciente e doação é dividindo o dinheiro entre os “três porquinhos”:

  • Porquinho da Casa de Palha (curto prazo): para pequenos desejos imediatos
  • Porquinho da Casa de Madeira (médio prazo): para sonhos um pouco maiores
  • Porquinho da Casa de Tijolos (longo prazo): para grandes objetivos

Essa metáfora ensina sobre planejamento, paciência e propósito. E se quiser incluir um valor para doação, Edgar sugere criar um quarto porquinho: o Porquinho da Gratidão, que mostra que parte do que ganhamos pode (e deve) ser compartilhado com quem precisa.

O conceito de gestão do dinheiro

Além disso, é fundamental ensinar as crianças que o dinheiro é limitado e precisa ser distribuído entre diferentes necessidades. A gestão do dinheiro envolve entender que nem todos os desejos podem ser satisfeitos imediatamente. Nestes casos, as crianças aprendem a estabelecer prioridades e a fazer escolhas conscientes.

Transformando consumo em consciência

Muitos pais têm medo de que a mesada estimule o consumismo. Edgar explica que o segredo é transformar o consumo em consciência. Não se trata de proibir o gasto, mas de ensinar o filho a pensar antes de comprar.

“Uma boa técnica é o ‘PlayLearn Balance’: equilíbrio entre brincar e aprender. Na prática, isso significa usar as próprias experiências de consumo como aula: uma ida ao cinema, um pedido no iFood, ou um passeio no shopping podem se tornar momentos educativos.”

Perguntas que transformam o consumo em aprendizado

O especialista sugere fazer perguntas que estimulem a reflexão:

  • “Você realmente precisa disso?”
  • “Quanto tempo de esforço custaria esse gasto?”
  • “E se esperássemos um pouco, conseguiríamos algo maior?”

“Essas conversas leves transformam a mesada em um exercício de consciência, não de impulsividade”, explica. O valor do dinheiro é compreendido quando a criança percebe a relação entre esforço, tempo e poder de compra.

O papel do exemplo dos pais

Edgar Abreu é categórico ao afirmar que a forma como os pais lidam com o próprio dinheiro influencia diretamente a maneira como os filhos encaram a mesada. “Crianças não aprendem com o que ouvem, aprendem com o que observam”, afirma.

Se os pais vivem no limite, comprando por impulso ou reclamando de contas, o filho internaliza essa relação emocional com o dinheiro. Educar financeiramente é, antes de tudo, educar pelo exemplo. “Você é o espelho financeiro do seu filho, a mesada é só o reflexo do que ele vê todos os dias.”

Além disso, quando os pais demonstram planejamento financeiro e consumo consciente, estão ensinando valores que vão muito além do que qualquer conversa poderia transmitir. O orçamento familiar gerido com responsabilidade serve de modelo para que as crianças aprendam a importância de viver dentro das próprias possibilidades.

Regras e estrutura: fundamentais para o sucesso

Para que a mesada cumpra seu papel educativo, é essencial estabelecer regras claras desde o início. Entre as recomendações, é importante que os pais definam:

Periodicidade fixa

A mesada deve ser paga sempre no mesmo dia. Isso ensina pontualidade e previsibilidade, simulando como funciona um salário na vida adulta. Quando a criança sabe exatamente quando vai receber, pode planejar melhor seus gastos.

Despesas cobertas

Deixe claro o que a mesada deve cobrir. Despesas fixas como lanches na escola, carregamento do telemóvel ou transporte devem ser claramente estabelecidas. O filho pode ter autonomia para decidir sobre gastos extras, mas precisa garantir primeiro suas obrigações.

Consequências naturais

Se o dinheiro acabar antes do tempo, o filho precisa esperar até o próximo pagamento. Nestes casos, a criança aprende sobre planejamento e consequências de suas escolhas. Não reforce a mesada no meio do período, isso ensinaria que sempre haverá um “resgate” financeiro.

Tarefas e responsabilidades

Edgar Abreu sugere associar a mesada a pequenas responsabilidades em casa. Isso pode incluir arrumar o quarto, cuidar de animais de estimação ou ajudar em tarefas domésticas. Porém, é importante diferenciar entre tarefas básicas (que fazem parte da vida em família) e tarefas extras que podem gerar um valor adicional à mesada.

Estratégias práticas para implementar a mesada

Confira algumas estratégias práticas que tornam a mesada mais efetiva:

1. Cofrinhos transparentes

Use recipientes transparentes para que a criança visualize o dinheiro crescendo. Ter três ou quatro cofrinhos (gastar, poupar, investir, doar) ajuda a concretizar os diferentes objetivos e torna o aprendizado mais tangível.

2. Objetivos claros

Ajude seu filho a definir metas concretas. Quer comprar um jogo novo? Quanto custa? Quanto precisa poupar por mês? Quantos meses levará? Essas conversas ensinam planejamento e dão propósito à poupança.

3. Reuniões financeiras familiares

Reserve um momento mensal para conversar sobre dinheiro. Pergunte ao seu filho como foi a gestão da mesada, o que aprendeu, o que faria diferente. Essas reflexões consolidam o aprendizado e mostram que finanças são importantes para a família.

4. Dinheiro físico primeiro

Especialmente para os mais novos, comece com dinheiro em notas e moedas. Manusear o dinheiro físico ajuda a entender valores, fazer contas e perceber quando o dinheiro está acabando. Apenas na adolescência considere a transição para cartão pré-pago.

5. Registro de gastos

Incentive seu filho a anotar onde gastou o dinheiro. Pode ser num caderno simples ou numa lista no celular. Esse hábito desenvolve consciência financeira e ajuda a identificar padrões de consumo.

O que fazer quando surgem problemas?

Mesmo com todas as orientações, situações difíceis podem surgir. Edgar Abreu sugere como lidar com os principais desafios:

  • Gastou tudo no primeiro dia: não dê mais dinheiro. Use a situação como aprendizado. Converse sobre o que aconteceu, ajude a identificar o erro e planejar melhor para o próximo mês. A frustração de ficar sem dinheiro é uma lição valiosa.
  • Quer comprar algo inadequado: estabeleça limites claros. Explique por que aquela compra não é apropriada para a idade dele. A mesada ao seu filho deve vir com orientação sobre escolhas saudáveis e adequadas.
  • Perdeu o dinheiro: acidentes acontecem, mas é importante que a criança assuma responsabilidade. Não reponha o valor integral. Talvez ofereça uma oportunidade de ganhar parte do valor de volta através de tarefas extras, mas sempre mantendo a lição sobre cuidado com o dinheiro.
  • Pede empréstimo aos pais: se for realmente necessário (uma emergência), pode emprestar, mas estabeleça um “contrato” simples: quanto foi emprestado e como será devolvido (descontando da próxima mesada, por exemplo). Isso ensina sobre crédito e compromissos financeiros.

Mesada e adolescência: novos desafios

Quando os filhos chegam à adolescência, a mesada ganha nova dimensão. Além disso, surgem questões mais complexas que exigem conversas mais profundas sobre dinheiro.

Pressão social e consumo

Adolescentes enfrentam forte pressão para ter determinadas marcas ou produtos. Use a mesada para ensinar sobre marketing, influência social e consumo consciente. O filho pode escolher gastar todo o orçamento num tênis de marca, mas precisará abrir mão de outras coisas.

Primeiras experiências de trabalho

Incentive trabalhos leves adequados à idade (ajudar vizinhos, fazer trabalhos online). Isso complementa a mesada e ensina o valor do trabalho. Porém, não substitua a mesada pelo trabalho, ela continua sendo uma ferramenta educativa.

Preparação para a independência

A partir dos 16 ou 17 anos, envolva seu filho em discussões sobre custos reais da vida adulta. Mostre quanto custa manter uma casa, pagar contas, fazer compras. Isso prepara para a transição e dá contexto ao valor da mesada.

A mesada deve ser condicional?

Este é um debate importante. Edgar Abreu sugere vincular a mesada a responsabilidades, mas não a resultados escolares ou bom comportamento. A mesada simula um salário, você recebe se cumprir suas obrigações básicas, não por ser exemplar.

O que pode ser vinculado?

  • Tarefas domésticas básicas apropriadas à idade;
  • Cuidados pessoais (higiene, organização do próprio espaço);
  • Respeito às regras da casa.

O que não deve ser vinculado?

  • Notas escolares (estudar é obrigação, não trabalho);
  • Comportamento excepcional (a mesada não é prêmio);
  • Tarefas que são responsabilidade coletiva da família.

Nestes casos, se quiser recompensar bom desempenho escolar ou comportamento exemplar, crie um sistema separado de recompensas que não se confunda com a mesada regular.

Ensinando sobre doação e solidariedade

Reserve 10% da mesada para doação. Envolva seu filho na escolha de como e para quem doar. Pode ser:

  • Comprar alimentos para doar a instituições;
  • Contribuir para campanhas de arrecadação;
  • Ajudar um colega que está passando dificuldades;
  • Apoiar causas que a criança considere importantes.

Esse hábito desenvolve empatia, consciência social e senso de gratidão. Além disso, ensina que o dinheiro podem ser usado para fazer a diferença na vida de outras pessoas.

Ajustando a mesada ao longo do tempo

A mesada não deve ser fixa para sempre. Edgar Abreu recomenda revisões periódicas:

Quando aumentar?

  • Quando as responsabilidades aumentam;
  • Em aniversários (vinculando crescimento etário a crescimento de responsabilidades);
  • Quando demonstra gestão consistentemente boa;
  • Quando surgem novas despesas fixas.

Quando não aumentar?

  • Apenas porque pediu (sem justificativa de novas necessidades);
  • Como recompensa por algo específico;
  • Por pressão de comparação com amigos;
  • Se as finanças familiares estão apertadas.

Como fazer a revisão?

Marque uma “reunião” semestral ou anual. Revise juntos como foi a gestão do dinheiro, quais objetivos foram alcançados, o que pode melhorar. Discuta se o valor atual ainda faz sentido ou se precisa de ajustes. Esse processo desenvolve habilidades de negociação e argumentação.

Tecnologia e mesada: cartões e aplicativos

Na era digital, surgem novas ferramentas para gestão da mesada. Cartões pré-pagos e aplicativos específicos podem ser úteis, especialmente para adolescentes. Entre as vantagens da tecnologia estão:

  • Facilita o acompanhamento dos gastos;
  • Ensina sobre transações digitais;
  • Mais seguro que carregar dinheiro;
  • Prepara para o uso de ferramentas bancárias.

Quando fazer a transição?

Edgar Abreu recomenda começar com dinheiro físico e fazer a transição gradual. Por volta dos 12-13 anos, quando a criança já compreende bem os conceitos básicos, pode-se introduzir um cartão de crédito pré-pago. Porém, mantenha o acompanhamento próximo e continue as conversas sobre gastos.

Cuidados necessários

  • Configure limites de gasto diário;
  • Ative notificações de todas as transações;
  • Revise periodicamente os extratos juntos;
  • Ensine sobre segurança digital e senhas.