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Efeito El Niño: PIB deve ser de 1% em 2024, com crescimento zero do agro

Efeito El Niño: PIB deve ser de 1% em 2024, com crescimento zero do agro

O agronegócio deve ter contribuição próxima de zero ou até mesmo negativa para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil de 2024, aponta Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset. E isso deve ocorrer devido ao fenômeno do El Niño.

Em 2023, o agro apresentou surpreendente crescimento de 21,6% no primeiro trimestre, na comparação com o trimestre anterior. Esta foi a maior alta para o setor na comparação entre trimestres desde 1996. 

No segundo trimestre, o agro brasileiro recuou 0,9%. E caiu 3,3% no terceiro trimestre. Vale dizer que as safras se concentram no primeiro trimestre, o que explica a forte redução na comparação trimestre a trimestre.  

O dado oficial do quarto trimestre ainda não foi divulgado, mas acredita-se que, na totalidade do ano, o setor teve alta próxima a 16%, número bastante positivo.

Já para 2024, as expectativas não são tão positivas para o impacto do setor no PIB.

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Estamos com projeção de crescimento de 1% para o PIB do Brasil neste ano, abaixo do consenso do Boletim Focus, do Banco Central, que está com 1,6%”, aponta Stephan Kautz, citando o boletim semanal que o BC divulga toda segunda-feiras, com a média das projeções do mercado para os principais indicadores econômicos.

O principal ponto de atenção neste crescimento baixo do PIB será o agro, que teve crescimento de mais de 16% no volume da produção em 2023. Quando a gente pondera o peso do agro no PIB, estamos falando que dos 3% de crescimento do ano passado, 1,3% veio do setor. Se a gente considera os efeitos indiretos, que são a parte de consumo da renda do agronegócio, estamos falando de um patamar ainda mais alto, com o setor representando 1,7% do crescimento do PIB. Ou seja: estamos falando que metade do PIB de 2023 foi relacionado ao agro”, explica.

Segundo Kautz, se todos os demais setores tiverem o mesmo desempenho que em 2023 e o agro não tiver a mesma contribuição – o que já vem sendo dado como certo pelos analistas devido ao El Niño –, ainda assim o PIB cairia para próximo de 1,5%.

Temos um El Niño muito forte, com pico da mudança de temperatura acontecendo até o final de janeiro, pelo menos. Nas regiões produtoras do Centro-Oeste houve muita seca, justamente no período em que se precisava de chuva para que a soja, principal cultura brasileira, tivesse crescimento mais forte. Então, mesmo que se tenha uma produção grande em termos de área, a produtividade vai ser baixa este ano”, explica.

Além disso, ele aponta, o trigo, produto do qual o Brasil não é um grande produtor global, mas teve produção crescente e significativa nos últimos anos, pode ter queda de quase 20% no ano. O milho também foi outro produto afetado.

Kautz aponta que alguns produtores do Centro-Oeste acabaram retirando a soja que já tinham plantado, colocando algodão no lugar, produto que pode, na contramão, apresentar uma alta em 2023.

Com isso, ele diz, o setor agro terá produção muito parecida com a de 2023 em 2024. “Isso seria uma grande vitória, porque em 2023 a produção foi em patamar recorde e aponta que o agro conseguiu sobreviver ao impacto do El Niño”, diz. “Mas, sob a ótica do PIB, representa uma variação zero ou até negativa do setor”, conclui.

O agro teve contribuição de pelos menos 1,5% no PIB de 2023. E vai ter algo próximo de zero em 2024. Isso, por si só, significaria um PIB total de 1,5%. Nossa projeção é ainda menor, de 1%, porque entendemos que o setor externo, relacionado às exportações, teve um ano muito bom em 2023, o que também não vai se repetir em 2024, inclusive devido ao agro”, avalia.

Fora isso, a gente ainda tem o consumo em desaceleração, apesar de o Banco Central estar cortando juros, por conta do fim dos estímulos de políticas governamentais”, explica.

Kautz afirma que o desempenho do agro no primeiro trimestre terá impacto decisivo para confirmar as projeções para o PIB de 2024, mas também será bastante relevante acompanhar o desempenho do consumo ao longo do ano.  

Saiba mais: o El Niño e os riscos para a economia

Recentemente, as notícias sobre a extensão do fenômeno El Niño têm gerado preocupações nos mercados. Além do calor intenso associado a esse evento meteorológico, ele influencia as chuvas e os solos, impactando diretamente as safras.

Analistas apontam que, embora seja difícil prever as consequências exatas e a magnitude desse fenômeno, se sua duração se prolongar demais, ele pode afetar a inflação, repercutindo nos mercados financeiros e até mesmo nas taxas de juros.

Os riscos climáticos, incluindo eventos como o El Niño, não são novidade para o mercado, mas a intensidade e atipicidade recentes vêm chamado a atenção.

O El Niño, conhecido por trazer chuvas intensas ao Sul do Brasil e clima mais seco nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, está atualmente favorecendo esse padrão.

Isso porque dezembro e janeiro são períodos mais críticos para as safras e a baixa umidade no solo nessas regiões aumenta as preocupações. A falta de chuvas compromete o plantio, sendo particularmente arriscada para a produção de soja, milho, arroz e hortifruti no Centro-Oeste, Nordeste e Norte.

Ao mesmo tempo, o aumento das chuvas no Sul, enquanto pode impulsionar a produção de grãos como a soja, também traz consigo o risco de enchentes, o que pode prejudicar o plantio e reduzir a safra.

Em última análise, uma queda na produção de grãos não afeta apenas esse setor. Isso porque esses produtos são transformados em outros ativos, como biocombustíveis e ração para animais.

Uma escassez de grãos pode levar ao aumento de preços, afetando itens como óleo diesel, carne e frango. Esse aumento de preços das commodities tem um efeito inflacionário, impactando o consumidor final.

Como a inflação dos alimentos representa cerca de 16% do peso familiar, um aumento nas chuvas no final e início do ano pode resultar em preços mais altos, especialmente para produtos in natura como frutas e hortifruti.

O que é o El Niño

O El Niño é um fenômeno climático que ocorre periodicamente no Oceano Pacífico, influenciando o clima em diversas partes do mundo.

O El Niño é parte do fenômeno chamado ENSO, que significa Oscilação Sul El Niño (ENSO, na sigla em inglês). Esse fenômeno ocorre quando as temperaturas da superfície do mar no Oceano Pacífico central e leste ficam mais quentes do que o normal. Geralmente, o El Niño ocorre a cada 2 a 7 anos e pode durar vários meses.

Como o El Niño acontece?

Normalidade: Em condições normais, os ventos alísios sopram de leste para oeste, empurrando as águas superficiais quentes para o oeste do Pacífico. Isso faz com que as águas mais frias do fundo do oceano subam para substituir as águas superficiais.

Início do El Niño: Durante o El Niño, os ventos alísios enfraquecem, permitindo que as águas quentes se acumulem no Pacífico central e leste. Essa mudança altera os padrões climáticos globais.

Impactos na economia brasileira

  • Agricultura: O El Niño pode trazer chuvas intensas ao Sul do Brasil e clima mais seco nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Isso afeta diretamente a agricultura, podendo prejudicar safras de grãos como soja e milho, levando a uma redução na produção e aumento nos preços.
  • Energia: A mudança nos padrões de chuva afeta a produção de energia hidrelétrica. Com menos chuvas em certas regiões, os reservatórios de água podem diminuir, impactando a geração de energia e aumentando os custos.
  • Abastecimento de Água: Regiões que enfrentam secas mais intensas devido ao El Niño podem sofrer com a escassez de água, afetando o abastecimento para a população e a produção industrial.
  • Preços de Commodities: O Brasil é um grande produtor de commodities agrícolas. Alterações nas safras devido ao El Niño podem levar a variações nos preços desses produtos, afetando setores como biocombustíveis, ração animal e alimentos.
  • Inflação: A redução na produção agrícola e o aumento nos preços das commodities podem contribuir para a inflação, impactando o custo de vida e a economia como um todo.

Quer saber mais sobre as projeções para o PIB de 2024? Acompanhe aqui!