O Produto Interno Bruto – PIB do Brasil teve alta de 0,1% na comparação do terceiro trimestre com o segundo. Em valores correntes, foram gerados R$ 2,741 trilhões no terceiro trimestre. De janeiro a setembro, o PIB acumulou alta de 3,2%, na comparação com o mesmo período do ano passado. Os dados foram divulgados nesta terça-feira (5) pelo IBGE.
A publicação teve os dados anuais definitivos de 2021, com revisões das séries das Contas Nacionais Trimestrais relativas a todos os trimestres do ano passado e dos dois primeiros deste ano.

“Com essa revisão, o resultado anual de 2022 variou +0,1%, explicado principalmente pela mudança de pesos do Sistema de Contas Nacionais. Já as revisões do primeiro e segundo trimestres de 2023 foram mais relacionadas à agropecuária, porque agora incorporamos as estimativas de novembro do LSPA (Levantamento Sistemático da Produção Agrícola), com o ano já terminando”, explica a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Dois dos três grandes setores econômicos avançaram no trimestre: Indústria (0,6%) e Serviços (0,6%). “Olhando por dentro do setor de serviços, os maiores destaques são as atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (1,3%), especialmente na parte ligada aos seguros, e as imobiliárias (1,3%), com o aumento no número dos domicílios”, analisou Palis.
Das sete atividades analisadas no setor de serviços, seis ficaram no campo positivo. Os maiores aumentos percentuais vieram das duas atividades citadas pela pesquisadora, seguidas pelo segmento de Informação e comunicação (1,0%). As demais variações positivas foram de outras atividades de serviços (0,5%), administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,4%) e comércio (0,3%).
Já o setor de transporte, armazenagem e correio recuou 0,9%. “Essa queda vem após oito trimestres de altas e está relacionada ao transporte de passageiros”, diz a coordenadora de Contas Nacionais. Como um todo, o setor de serviços representa cerca de 67% da economia.
PIB do Brasil: análise da indústria
Entre as atividades industriais, o único crescimento foi registrado pelo setor de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (3,6%), influenciado pelo crescimento no consumo de energia. “Está sendo um ano bom para o setor, sem problemas hídricos e com bandeira verde. Também foi muito quente, o que favoreceu o consumo de eletricidade e de água”, analisa Rebeca.
Já as indústrias extrativas (0,1%) e as indústrias de transformação (0,1%) ficaram praticamente estáveis. Na mesma comparação, a construção (-3,6%) foi a única atividade industrial a cair no trimestre. “Essa atividade cresceu nos dois anos anteriores, mas 2023 não está sendo um ano bom, com juros altos e queda na ocupação, na produção de insumos típicos e no comércio de material de construção”, diz a analista. No acumulado do ano, a construção recuou 0,9% frente ao mesmo período do ano anterior.
PIB do Brasil: recuo do agro
A agropecuária caiu 3,3% no trimestre. De acordo com os dados revisados na publicação, essa foi a primeira queda da atividade após cinco trimestres com taxas positivas.
“A agropecuária atingiu o seu maior patamar no trimestre passado e neste há a saída da safra da soja, a maior lavoura brasileira, que é concentrada no primeiro semestre. Então há a comparação de um trimestre em que há um grande peso da soja com outro em que ela não pesa quase nada. Portanto, essa queda era esperada, mas está sendo um bom ano para a atividade, que está acumulando alta de 18,1% até o terceiro trimestre”, avalia a pesquisadora do IBGE.
PIB do Brasil sob a ótica de demanda
Na ótica da demanda, houve queda de 2,5% nos investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) frente ao segundo trimestre. Essa foi a quarta queda consecutiva do indicador. “É um reflexo da política monetária contracionista, com queda na construção e também na produção e importação de bens de capital. Todos os componentes que mais pesam nos investimentos caíram neste trimestre”, analisa Rebeca.
Na mesma comparação, a Despesa de Consumo das Famílias aumentou 1,1% e a do Governo, 0,5%. “O crescimento do consumo das famílias é explicado por alguns fatores, como os programas governamentais de transferência de renda, a continuação da melhora do mercado de trabalho, a inflação mais baixa e o crescimento do crédito. Por outro lado, apesar de começarem a diminuir, os juros seguem altos e as famílias seguem endividadas. Houve também a queda no consumo de bens duráveis”, destaca a coordenadora.
PIB do Brasil cresce 2,0% frente ao 3TRI22
Quando a comparação é feita com o mesmo trimestre de 2022, o PIB cresceu 2,0%, impactado pelos resultados positivos dos três grandes setores. Nesse período, a agropecuária avançou 8,8%, com o aumento na estimativa de algumas culturas que têm safra relevante no terceiro trimestre, como o milho, a cana-de-açúcar, o algodão herbáceo e o café, e também da pecuária.
Na indústria, a alta foi de 1,0% frente ao terceiro trimestre do ano passado. Também nessa comparação, a maior variação positiva veio da atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (7,3%), com o impacto do maior consumo de eletricidade no ano. Houve alta nas indústrias extrativas (7,2%) e queda nas atividades de construção (-4,5%) e das indústrias de transformação (-1,5%).
Já o setor com maior peso no PIB, o de serviços, avançou 1,8% na comparação com o mesmo trimestre do ano passado. Todas as suas atividades ficaram no campo positivo: atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (7,0%), atividades imobiliárias (3,6%), informação e comunicação (1,6%), transporte, armazenagem e correio (1,6%), outras atividades de serviços (1,1%), comércio (0,7%) e administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,4%).
PIB do Brasil: entenda o cálculo
O Sistema de Contas Nacionais apresenta os valores correntes e os índices de volume trimestralmente para o Produto Interno Bruto – PIB do Brasil a preços de mercado, impostos sobre produtos, valor adicionado a preços básicos, consumo pessoal, consumo do governo, formação bruta de capital fixo, variação de estoques, exportações e importações de bens e serviços. No IBGE, a pesquisa foi iniciada em 1988 e reestruturada a partir de 1998, quando os seus resultados foram integrados ao Sistema de Contas Nacionais, de periodicidade anual.
Os números do PIB do Brasil vieram um pouco acima do esperado, diz o economista João Paulo Rabe, da EQI Asset. “A expectativa era de uma queda de 0,3% na comparação trimestral e veio essa pequena alta, mas a gente tem que olhar os números com algum cuidado porque no terceiro trimestre há as revisões, e elas acabam mexendo com as expectativas”, aponta o analista.
Ele destaca, entre os dados divulgados, um consumo resiliente, com média de crescimento trimestral perto de 1% “É um número muito forte, ainda mais diante da taxa de juros, mostrando que o mercado de trabalho continua sustentando esse crescimento”, aponta Rabe.
“Por outro lado a gente vê os investimentos caindo pelo terceiro trimestre consecutivo e isso é ruim, porque a queda no investimento significa uma possível queda do PIB no futuro, o que sugere que, neste caso, os juros muito altos estão batendo nas empresas, o que reduz a capacidade e a previsão de investimentos”, conclui o economista.
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