O mercado de pagamentos digitais no Brasil caminha para uma fase de maturidade. Segundo o Morgan Stanley, o PIX, que foi o principal motor de crescimento do setor nos últimos anos, parece ter chegado ao seu limite, com indícios claros de estagnação. Esse cenário levanta preocupações sobre a sustentabilidade do modelo atual e pode pressionar os lucros de empresas do setor nos próximos anos.
Dados recentes mostram que o número de usuários do sistema parou de crescer. Em julho, pelo quarto mês consecutivo, a base permaneceu em 160 milhões — número que corresponde à totalidade da população adulta brasileira.
Essa estabilidade indica que o sistema atingiu seu mercado total endereçável. Desde o lançamento, o aumento de usuários foi um dos principais impulsionadores do crescimento das transações, mas agora esse motor perdeu força.
No acumulado de 2025, o volume transacionado por usuário cresceu apenas 1%, marcando o menor avanço da série histórica. Para efeito de comparação, o crescimento foi de 15% no mesmo período de 2023 e 2024.
Como consequência, o volume total de pagamentos (TPV) do PIX entre janeiro e julho subiu apenas 3%, o pior desempenho desde a criação do sistema, bem abaixo das altas anteriores de 21% em 2024, 23% em 2023 e 32% em 2022.
Em termos absolutos, o PIX movimentou R$ 3,1 trilhões nos 12 meses encerrados em julho de 2025, um salto expressivo em relação aos R$ 765 bilhões de 2021. Mas com a base de usuários estabilizada e o volume por pessoa praticamente estagnado, o potencial de crescimento acelerado parece ter ficado para trás.
O que o Morgan Stanley diz sobre o PIX
De acordo com o banco norte-americano, o PIX pode ser considerado a rede de pagamentos digitais patrocinada por governo mais bem-sucedida do mundo. No entanto, o relatório reforça que o sistema chegou ao seu ponto de saturação. A partir de agora, o crescimento tende a acompanhar o ritmo de expansão do consumo, atualmente em torno de 7% ao ano, bem distante das taxas anteriores de dois dígitos.
O Morgan Stanley acredita que essa nova fase exigirá um olhar regulatório mais atento. A expectativa é que o Banco Central passe a coibir práticas consideradas excessivas, como preços abusivos, o que tende a pressionar ainda mais as margens de lucro das adquirentes.
Além disso, o banco faz uma crítica às projeções de consenso do mercado, que ainda estimam um crescimento anual composto do lucro líquido entre 9% e 10% para os próximos cinco anos. Para o Morgan Stanley, essas expectativas estão desconectadas da realidade atual.
A instituição projeta um crescimento próximo de zero, refletindo um ambiente mais competitivo, comoditizado e com rentabilidade em queda.
Entre 2020 e 2024, empresas do setor conseguiram entregar um crescimento médio de lucro líquido de 15% ao ano, impulsionadas pela rápida adoção do PIX e por um volume transacionado que crescia em torno de 30% ao ano. Com o esgotamento desse ciclo e o avanço mais lento daqui em diante, a pressão sobre o setor deve aumentar significativamente.






