A campanha pela presidência da Argentina entrou em sua última semana marcada por equilíbrio nas pesquisas e por um paradoxo: ao mesmo tempo em que trocam farpas entre si, os candidatos Sergio Massa e Javier Milei sinalizam para opções menos radicais a fim de atrair votos de indecisos que podem ser decisivos na eleição de domingo (19).
As pautas dos dois candidatos para a economia são distintas. Num país marcado por um forte ciclo inflacionário que já passa de duas décadas, Sergio Massa defende uma mistura de ações ortodoxas, como o corte de gastos públicos, e o incentivo ao setor produtivo para movimentar a economia e reduzir o desemprego.
Pesa contra si, porém, o fato de ser o atual ministro da Economia, no governo de Alberto Fernández, e não ter conseguido colocar em prática tais pautas. Durante a campanha, Massa tem tentado se desvencilhar do peso de ser governo, sem usar a imagem do atual presidente ou da vice, Cristina Kirchner, sua madrinha política, com o tom de que agora poderá tomar todas as medidas que deseja para colocar a economia argentina nos trilhos.
Javier Milei, por sua vez, se apresenta como um “anarcocapitalista”, defensor das ideias liberais da escola austríaca, como Friedrich Hayek e Ludwing von Mises, e já prometeu ideias mais radicais, como a extinção do Banco Central, a saída do Mercosul e a dolarização da economia, com a retirada de circulação do peso, a moeda nacional,
Nos últimos dias de campanha, porém, Milei também amenizou seu discurso. No debate do último domingo (12), por exemplo, ele foi instigado por Massa a explicar melhor como colocará suas ideias em prática, mas desconversou. E, depois de dizer que não quer saber de papo com o “comunista” Lula, disse que dará total liberdade para que os empresários argentinos continuem negociando com empresas do Brasil ou da China, dizendo apenas que “o Estado não deve se meter”.
Presidência da Argentina: Milei recebe apoios regionais
As últimas pesquisas eleitorais na campanha para a presidência da Argentina têm apontado uma leve vantagem para Milei, mas geralmente em situação de empate técnico. E o candidato oposicionista tem se aproveitado da crise econômica para criticar o governo e o sistema político tradicional.
Ao mesmo tempo, vem coletando apoios de nomes importantes da política latinoamericana: no fim de semana, uma carta assinada pelo escritor peruano Mario Vargas Llosa, ex-candidato a presidente em seu país, e subscrita por uma série de ex-presidentes, como os colombianos Iván Duque e Andrés Pastrana; os mexicanos Felipe Calderón e Vicente Fox; o boliviano Jorge Quiroga; o porto-riquenho Luis Fortuño; e o chileno Sebastián Piñera.
O ex-presidente argentino Mauricio Macri, que governou o país entre 2015 e 2019 e já havia declarado apoio a Milei antes, também assina o texto, que afirma que a eleição de Massa representaria a continuidade de “um modelo econômico corporativo fracassado” e que, apesar de “muitas diferenças” com Milei, os políticos citados acreditam que ele tem “tem um diagnóstico muito correto sobre o problema da economia do país”.
Patricia Bullrich, candidata apoiada por Macri que representou a direita tradicional e ficou em terceiro lugar no primeiro turno, também declarou seu apoio a Milei, enquanto Massa recebeu, na semana passada, o suporte dos vários dos principais dirigentes de clubes de futebol, indignados com a fala de Milei de que defenderá a transformação obrigatória de todos os clubes em empresas.
As eleições para a presidência da Argentina ocorrem no próximo domingo, e o resultado deve ser divulgado ainda à noite. O processo de transição, por sua vez, é bem mais rápido que no Brasil: o candidato eleito será empossado já no dia 10 de dezembro.