Após o ataque inicial de 7 de outubro, a guerra entre Hamas e Israel entra em sua segunda semana, e agora pode enfrentar uma possível escalada na fronteira com o Líbano.
O Hezbollah, uma organização política e paramilitar libanesa baseada no fundamentalismo xiita, tem trocado tiros com Israel pela fronteira há dias na escalada mais agressiva desde a guerra que travaram em 2006, ameaçando escalar ainda mais o conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas.
Na manhã de domingo (15), o grupo lançou um míssil em direção a Israel, matando uma pessoa e deixando oito feridos, no mais recente de uma série de retaliações que alimentaram o temor de uma maior guerra regional.
O ataque teria sido em resposta a um ataque anterior vindo da direção de Israel, que atingiu uma redação em Alma al-Shaab, no Líbano, e matou um cinegrafista da Reuters e deixou outros seis jornalistas feridos.
Apoiado pelo Irã, o Hezbollah afirma estar pronto para ajudar na guerra entre Israel e o Hamas quando chegar a hora, que também é apoiado por Teerã.
Segundo a Reuters, os ataques do Hezbollah até agora foram planejados para serem contidos e evitar outra guerra importante.
O ministro da Defesa de Israel disse em 15 de outubro que Israel não tem interesse em travar uma guerra em sua frente norte, e que se o Hezbollah se contiver, então Israel manterá a situação ao longo da fronteira como está.
Com uma incursão contra o Hamas na Faixa de Gaza sendo ensaiada pelas Forças Armadas de Israel, a ameaça do Hezbollah no norte ganha cada vez mais força.
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O que é o Hezbollah?
O Hezbollah, que significa “Partido de Deus”, é um grupo político xiita apoiado pelo Irã, com base no Líbano.
Inspirado pela Revolução Islâmica de 1979 no Irã, de maioria xiita, o grupo foi formado em 1982, durante a guerra civil libanesa de 15 anos, em resposta à invasão das forças israelenses no sul do Líbano.
Vendo uma oportunidade de expandir sua influência nos estados árabes, o Irã e a Guarda Revolucionária Iraniana (IRGC) forneceram fundos e treinamento à milícia em ascensão.
Compartilhando a ideologia islâmica xiita de Teerã, o Hezbollah recrutou muçulmanos xiitas libaneses.
Com o passar dos anos, o grupo passou de uma facção obscura para uma força altamente armada com grande influência sobre o estado libanês.
Os Estados Unidos e outros países do ocidente classificam o Hezbollah como um grupo terrorista. Já a União Europeia classifica a ala militar do Hezbollah como um “grupo terrorista”, mas não seu braço político.
Poder Militar
Enquanto outros grupos se desarmaram após a guerra civil do Líbano, o Hezbollah manteve suas armas para lutar contra as forças israelenses que ocupavam predominantemente o sul do país, habitado por xiitas.
Anos de guerrilha levaram Israel a se retirar em 2000.
Em 2006, o Hezbollah demonstrou seus avanços militares durante uma guerra de cinco semanas contra Israel, que teve início após uma invasão da fronteira irsaelence, sequestrando dois soldados e matando outros.
O Hezbollah disparou milhares de foguetes contra Israel durante o conflito, no qual 1.200 pessoas foram mortas no Líbano, a maioria civis, e 158 israelenses foram mortos, a maioria soldados.
O poder militar do Hezbollah cresceu ainda mais em 2012, após sua implantação na Síria, para ajudar o presidente Bashar al-Assad a lutar principalmente contra rebeldes muçulmanos sunitas.
Financiado pelo Irã, o Hezbollah se orgulha de possuir armas, incluindo foguetes de precisão e drones, e afirma ter capacidade de atingir todo o território de Israel.
Em 2021, o líder do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, afirmou que o braço armado do grupo tinha cerca de 100 mil combatentes.
Os Estados Unidos estimam que o Irã tenha alocado ao grupo centenas de milhões de dólares em dinheiro e armamentos nos últimos anos.
Papel do Hezbollah no conflito Israel x Hamas
O Hezbollah tem laços profundos com o Hamas, que controla Gaza, e a Jihad Islâmica, outra facção palestina apoiada pelo Irã.
O Hezbollah disse estar em “contato direto com a liderança da resistência palestina” em 7 de outubro, o dia em que integrantes do Hamas realizaram um ataque sem precedentes da Faixa de Gaza contra Israel. Desde então, o Hezbollah vem trocando tiros transfronteiriços com Israel.
O Hamas e a Jihad Islâmica, que têm presença no Líbano, realizaram ataques contra Israel a partir do Líbano pela primeira vez, incluindo uma infiltração transfronteiriça em Israel em 10 de outubro pela Jihad Islâmica.
Tzachi Hanegbi, conselheiro de segurança nacional do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse em 14 de outubro que as hostilidades pareciam estar contidas.
Hanegbi alertou o Hezbollah para não tomar ações que poderiam levar à “destruição” do Líbano.
Papel no Líbano
Como a maior milícia do país, a influência do Hezbollah é sustentada por seu sofisticado arsenal e pelo apoio de muitos xiitas libaneses que dizem que o grupo defende o Líbano de Israel.
O grupo também é politicamente ativo, tendo conquistado a maioria parlamentar em 2018 junto a seus aliados. Essa maioria foi perdida em 2022, mas o grupo continua a exercer uma grande influência política.
Partidos libaneses opostos ao Hezbollah afirmam que o grupo minou o Estado e o acusam de arrastar unilateralmente o Líbano para conflitos armados.
Antes do início da guerra civil na Síria em 2011, o Hezbollah se promovia como uma força dedicada a combater Israel e defender os oprimidos, independentemente de sua origem.
No entanto, desde seu envolvimento no conflito, muitos muçulmanos sunitas passaram a enxergá-lo como um grupo xiita que segue as ordens do Irã na região.
Além do braço armado, o Hezbollah gerencia uma extensa rede de serviços sociais, o que amplia seu apoio popular em meio à pior crise econômica que o país enfrenta em décadas.
Ataques a alvos ocidentais
Autoridades de segurança libanesas e inteligência ocidental afirmam que grupos ligados ao Hezbollah são responsáveis por ataques suicidas a embaixadas, alvos ocidentais e sequestros na década de 1980.
Os Estados Unidos responsabilizam o Hezbollah por um atentado suicida contra o quartel-general da Marinha dos EUA em Beirute, matando 241 militares, e por um ataque suicida no mesmo ano à embaixada dos EUA.
Ainda em 1983, foi realizado um atentado suicida contra um quartel francês em Beirute em 1983, matando 58 paraquedistas franceses.
Também são atribuídos ao Hezbollah o ataque em 1984 contra o anexo da embaixada dos EUA em Beirute e o sequestro do voo 847 da TWA em 1985.
Referindo-se a esses ataques e sequestros, o líder do Hezbollah, Nasrallah, afirmou em uma entrevista de 2022 que foram realizados por pequenos grupos não ligados ao Hezbollah.