No sábado (7), o grupo extremista Hamas iniciou um ataque surpresa a Israel, que pegou desprevenidos o sistema militar e de segurança do país. Milhares de civis morreram ou ficaram feridos no conflito – que já dura cinco dias e é chamado de guerra. Segundo o analista político Oliver Stuenkel, a guerra entre Israel e Hamas é “mais um episódio de um conflito que ocorre há muitos anos”, disse na live semanal da EQI Research, realizada na terça-feira (10).
“Já havia uma contestação de quem deve controlar as terras onde Israel se encontra. Por isso, há tantos embates envolvendo Israel e Palestina, e até outros países da região, como Egito, Líbano e Síria”, explica o especialista.
Nesse sentido, o ataque de sábado não seria uma grande surpresa, mas um sinal de que todas as tentativas de negociação de um acordo de paz duradouro fracassaram até agora. “Há muitas lutas e mágoas históricas que dificultam essa aproximação ou negociações que possam levar a um acordo”, pontua Stuenkel.
As fatalidades desta guerra geraram uma reação forte ao redor do mundo. Diversos líderes de países, como Estados Unidos, Reino Unido, França e Turquia, condenaram os ataques e pediram o fim do conflito entre Israel e Hamas.
No mercado financeiro, a segunda-feira foi de forte reação por parte do petróleo, que avançou mais de 4%, adicionando US$ 3 a seus preços. Contudo, para Stuenkel, essa reação deve ser comedida e só deve escalar conforme um avanço da guerra – e envolvimento de outras nações decisivas. Acompanhe.
Israel e Hamas: entenda o conflito
Em um ataque inesperado no sábado (7) a partir da Faixa de Gaza, o Hamas lançou centenas de foguetes contra Israel e invadiu o seu território. Não apenas soldados, mas centenas de civis foram mortos e sequestrados.
Segundo especialistas, o grupo extremista levou o conflito a um patamar sem precedentes. O ataque foi considerado um dos maiores dos últimos anos.
No entanto, a tensão entre Israel e Hamas é antiga, com duração de pelo menos 70 anos, e mistura política e religião.
Oliver Stuenkel acredita que este é um sinal de que todas as tentativas de negociação de um acordo de paz duradouro fracassaram até agora.
“O auge dessas esperanças foi em 1993, nos Acordos de Oslo, que previam como seriam as fronteiras entre Israel e Palestina, divididas em duas áreas: a Cisjordânia de um lado e a Faixa de Gaza de outro. Esse acordo, no entanto, nunca foi implementado por uma série de motivos”, diz.
“Há dois grandes partidos palestinos: Fatah e Hamas. A Cisjordânia é governada pela Autoridade Nacional Palestina, sobre a facção Fatah, considerado um grupo mais moderado. Já o Hamas venceu as eleições em Gaza e é considerado por vários países ao redor do mundo, inclusive EUA e a União Europeia, como terrorista. O grupo não aceita a existência de Israel, o que dificulta a negociação entre as partes.”
O ataque, pondera o especialista, vem como forma de humilhação às forças armadas de Israel, consideradas mais sofisticadas, com inteligência e tecnologia de ponta.
“Devemos ver uma escalada de violência nos próximos dias. Acho pouco provável haver espaço para qualquer tipo de negociação”, avalia.
Envolvimento de outros países: qual o impacto
O envolvimento de Hezbollah, outro grupo extremista financiado pelo Irã, é o que preocupa neste momento. “A facção conta com uma sofisticação militar maior, com pelo menos 40 mil homens, do que o Hamas, que se limita à Faixa de Gaza e conta com limitações de tecnologia e equipamento em função do bloqueio que o território sofre de Israel. Por isso também a sofisticação do ataque da organização em Israel surpreendeu tanto”, observa Oliver.
Para o especialista, ainda não parece evidente que acontecerá um envolvimento, mas se for o caso, deve haver uma série de consequências. Israel pode se ver obrigado a responder os ataques, inclusive no Líbano, o que resultaria na divisão de suas tropas e maior demanda de equipamento militar por parte do país.
“Os EUA são um grande fornecedor bélico de Israel, e isso pode preocupar outros aliados, como a Ucrânia, que pede ajuda ao país desde o início do conflito com a Rússia, no ano passado”, avalia.
Por enquanto, a extensão do conflito não possui o potencial para abalar os mercados internacionais, segundo Stuenkel. “É importante pensar em quais momentos isso muda.”
O Irã tem grande capacidade de produzir petróleo e a possibilidade de fechar o estreito de Ormuz, uma das principais rotas de comércio da commodity, por isso tamanha preocupação de seu envolvimento ativamente.
“Ainda que não ache provável neste momento, sinais de um conflito direto entre Israel e Irã devem causar impacto maior nos mercados internacionais. Isso porque, também, a Rússia pode tentar proteger sua relação com o Irã, que é um grande fornecedor de armamento na guerra contra a Ucrânia.”
Causas imediatas
Stuenkel comenta que o Hamas pode ter iniciado esse ataque para enfraquecer o outro partido palestino, o Fatah.
“Ataques terroristas tendem a radicalizar o cenário, com o fechamento de espaço para diálogo e aumento de tensões. Entendemos que há uma batalha interna entre os dois partidos palestinos. Esta também pode ser uma espécie de ‘cilada’ para trazer as forças israelenses para dentro de Gaza”, diz.
Há, no entanto, uma perspectiva geopolítica mais ampla para este conflito: os EUA tentam reduzir sua presença no Oriente Médio há anos. A reação do país ao ataque de 11 de setembro, em Nova York, levou à chamada Guerra ao Terror, que envolveu uma série de conflitos de segunda ordem – sem impacto sistêmico.
“Foram guerras envolvendo países menores, que gerou muitas vítimas, gastos, e que não tiveram as consequências desejadas. Enquanto isso, os EUA perderam de vista as grandes mudanças no mundo, como a emergência da China”, pontua. Depois de 20 anos no país, Biden retirou as tropas do Afeganistão a fim de se concentrar no que realmente importa, na visão de Washington – a China.
