O novo primeiro-ministro da França, Sébastien Lecornu, assumiu o cargo nesta quarta-feira (10) prometendo mudanças profundas. Aos 39 anos, ele é o quinto chefe de Governo desde 2024 e chega ao poder em um momento de forte instabilidade política e social. A posse ocorre em meio a protestos contra o presidente Emmanuel Macron, que resultaram em dezenas de detenções nas principais cidades do país.
Lecornu herda um cenário complexo: precisa elaborar o orçamento de 2026 sem contar com maioria no Parlamento, enfrentar manifestações que pedem maior justiça social e ainda lidar com a pesada dívida pública, equivalente a quase 114% do PIB. Em seu discurso de posse, ele afirmou que “serão necessárias rupturas, e não só na forma (…) também no conteúdo”, sinalizando que pretende adotar uma linha de governo diferente da de seus antecessores.
Protestos e desgaste da presidência de Macron
Os protestos que marcaram a nomeação do novo primeiro-ministro da França refletem o descontentamento crescente da população com as políticas de Emmanuel Macron. Desde 2024, quando o presidente convocou eleições legislativas antecipadas que resultaram em uma Assembleia Nacional fragmentada, o país vive uma crise política sem precedentes.
A queda de François Bayrou, o antecessor de Lecornu, mostrou a fragilidade do governo. Bayrou tentou aprovar um plano orçamentário que previa 44 bilhões de euros em cortes e até a eliminação de dois feriados nacionais. A proposta foi recebida com rejeição e levou a novos protestos. Nesta quarta, bloqueios de estradas, interrupções de transportes e manifestações em cidades como Paris e Marselha evidenciaram a insatisfação popular.
“Estamos cansados de que os mais ricos se aproveitem (…) Queremos mais salário, trabalhamos o dobro ou até o triplo, mas não conseguimos sair dessa situação”, disse Stéphanie Sarai, funcionária administrativa de 41 anos, em meio às manifestações.
Desafios do novo governo e riscos à estabilidade
Apesar de ser considerado um aliado de confiança de Macron, o novo primeiro-ministro da França tenta se apresentar como um líder disposto a negociar. Lecornu afirmou que será “mais criativo” e “mais sério na forma de trabalhar com as oposições”, em busca de soluções que evitem novos bloqueios políticos.
Ainda assim, o clima é de desconfiança. A oposição de esquerda classificou a nomeação como uma “provocação”, enquanto a extrema direita, liderada por Marine Le Pen, já prometeu derrubar o governo se não houver uma mudança real nas políticas. O próprio Macron avalia abrir espaço para medidas defendidas pela esquerda, como o aumento da taxação sobre grandes fortunas, em uma tentativa de construir acordos.
Enquanto isso, o mercado financeiro observa com cautela. Na sexta-feira, a agência Fitch deve anunciar se rebaixará a nota de crédito da França, o que aumentaria a pressão sobre Lecornu logo no início de seu mandato. A incerteza política, combinada com o risco de novas greves — como a convocada para 18 de setembro —, indica que a estabilidade do governo dependerá da capacidade de conciliar interesses em um país cada vez mais polarizado.
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