A crise financeira dos Correios deve levar o governo federal a promover uma mudança na meta fiscal das estatais para 2026, segundo apurou o Estadão.
Segundo o jornal paulista, integrantes da equipe econômica afirmam que o rombo bilionário da estatal – que vive a pior situação de sua história – continuará pressionando as contas públicas no próximo ano, ameaçando o espaço para gastos em pleno ano eleitoral.
De acordo com a reportagem, a discussão ainda não chegou à Junta de Execução Orçamentária (JEO), que reúne os ministros Rui Costa, da Casa Civil; Fernando Haddad, da Fazenda e Simone Tebet, do Planejamento, mas técnicos do governo já consideram inevitável rever o alvo fiscal das empresas públicas para evitar novos bloqueios de despesas ao longo de 2026.
Déficit maior que o previsto abre risco de contingenciamento
A meta das estatais está prevista no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO). O texto para 2026 — ainda não aprovado pelo Congresso — estima um prejuízo de R$ 6,752 bilhões, equivalente a 0,05% do PIB, para o conjunto das empresas públicas no próximo ano.
No entanto, como destacou o Estadão, o PLDO foi apresentado em abril, antes de a crise nos Correios se agravar publicamente. Técnicos avaliam que o déficit real deve ser bem maior do que o projetado.
Pelas regras fiscais, quando o prejuízo das estatais supera o valor previsto na LDO, o governo é obrigado a incorporar a diferença ao resultado primário. Isso pode forçar contingenciamentos adicionais, travando despesas em outras áreas.
Foi o que ocorreu em novembro: a estimativa de déficit das estatais em 2025 passou de R$ 5,5 bilhões para R$ 9,2 bilhões, muito acima da meta de R$ 6,2 bilhões. O aumento foi puxado, sobretudo, pelas perdas dos Correios. Como consequência, o governo precisou fazer um bloqueio extra de R$ 3 bilhões no Orçamento deste ano.
Risco de bloqueio logo no início de 2026
Segundo o Estadão, se a meta não for revista antes, o governo corre o risco de ter de alterar a previsão fiscal das estatais já no primeiro Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas de 2026. Isso poderia gerar um grande contingenciamento logo no início do ano — justamente quando a equipe econômica trabalha para entregar o primeiro resultado primário positivo após anos no negativo.
A meta para 2026 é de superávit de 0,25% do PIB, o equivalente a R$ 34,26 bilhões, com piso de déficit zero.
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Correios acumulam rombo e negociam empréstimo de R$ 20 bilhões
Entre janeiro e setembro deste ano, os Correios registraram prejuízo de R$ 6,05 bilhões, quase o triplo dos R$ 2,13 bilhões contabilizados no mesmo período de 2024. A diretoria trabalha em um plano de recuperação que inclui um empréstimo de R$ 20 bilhões garantido pela União, ainda pendente de aval do Tesouro Nacional.
O financiamento envolveria um consórcio de cinco bancos — Banco do Brasil, Citibank, BTG Pactual, ABC Brasil e Safra — com juros projetados em 136% do CDI, conforme apurou o jornal.
O Ministério Público junto ao TCU também pediu fiscalização do empréstimo, solicitando análise da taxa de juros, da garantia oferecida pela União e dos impactos sobre o déficit público.






