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Liquidação global de títulos dos EUA: o que está acontecendo?

Liquidação global de títulos dos EUA: o que está acontecendo?

A liquidação global de títulos dos EUA ganhou força recentemente, após o rebaixamento da classificação de crédito do país pela agência Moody’s e a incerteza fiscal gerada pelo projeto de lei tributária proposto pelo presidente Donald Trump.

Esse movimento provocou uma onda de vendas nos mercados de dívida pública ao redor do mundo, refletindo o nervosismo dos investidores diante do risco fiscal elevado.

O estopim: crédito rebaixado e temores fiscais

Eventos como o rebaixamento da nota de crédito ou políticas que ampliam os déficits públicos costumam trazer à tona preocupações com a sustentabilidade fiscal. Segundo Rong Ren Goh, gestor de renda fixa da Eastspring Investments, essas situações forçam os investidores a “reprecificar o risco de longo prazo”.

O plano tributário de Trump, apesar de não ter avançado no Congresso, poderia aumentar a dívida americana entre US$ 3 trilhões e US$ 5 trilhões, alimentando ainda mais a insegurança no mercado. Como sintetizou Vishnu Varathan, diretor da Mizuho Securities, à CNBC: “Os mercados não acham nada bonito o ‘grande e belo projeto de lei tributária’ de Trump. Os títulos do Tesouro dos EUA foram derrotados em uma liquidação feia.”

Rendimentos disparam

O impacto dessa liquidação ficou evidente nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA. O yield dos papéis com vencimento em 30 anos superou os 5% pelo segundo dia consecutivo, atingindo 5,088%, um nível não visto desde novembro de 2023. O rendimento dos títulos de 10 anos também subiu mais de 15 pontos-base só nesta semana.

Esse movimento não é isolado. Ele ocorre na esteira de um êxodo de ativos americanos em abril, alimentado pela perda de confiança dos investidores nos fundamentos fiscais dos Estados Unidos.

O contágio global: Japão e Europa também sofrem

Diferentemente de outras ocasiões, a liquidação dos títulos dos EUA foi acompanhada por saídas em outros importantes mercados de dívida. No Japão, o rendimento do título do governo de 40 anos atingiu a máxima histórica de 3,689%, enquanto o papel de 30 anos se manteve próximo de seus recordes, em 3,187%.

A rápida inclinação da curva de rendimento japonesa se deve, principalmente, ao recuo das seguradoras de vida, que historicamente compravam esses papéis para cumprir regulamentações, mas agora já atingiram esses requisitos, segundo o Bank of America. Além disso, a expectativa de aperto monetário pelo Banco do Japão acentuou a pressão vendedora.

Esse cenário preocupa ainda mais os EUA, pois, como explicou George Saravelos, estrategista do Deutsche Bank: “Ao tornar os ativos japoneses uma alternativa atraente para investidores locais, incentiva-se um maior desinvestimento nos EUA”.

Na Europa, o quadro é semelhante. Os bunds alemães também foram fortemente vendidos. O rendimento da dívida de 30 anos subiu mais de 12 pontos-base, enquanto o de 10 anos avançou mais de 6 pontos-base.

Para Philip McNicholas, da Robeco, a decisão alemã de flexibilizar o freio da dívida e o movimento de rearmamento continental foram catalisadores importantes para essa onda de vendas. Além disso, Vishnu Varathan destacou que “os déficits maiores, provavelmente estruturais, pressionam ainda mais os títulos alemães”.

A aversão ao risco de longo prazo

A crescente aversão dos investidores a títulos de longo prazo se intensifica diante de preocupações fiscais e inflação. Como afirmou Steve Sosnick, estrategista-chefe da Interactive Brokers, à CNBC: “Os investidores não estão muito interessados em títulos de longa duração no momento”.

Ele acrescenta que a inflação global é um “assassino” para esses papéis, que são mais sensíveis às expectativas econômicas de longo prazo.

Mercados emergentes seguem caminho oposto

Curiosamente, alguns mercados emergentes desafiaram essa tendência. Índia e China viram os rendimentos de seus títulos de 10 anos recuarem levemente. Esse comportamento, segundo McNicholas, ocorre porque “investidores estrangeiros e fatores globais são determinantes muito menos relevantes para suas respectivas curvas de rendimento”, em função de seus mercados mais fechados e controles de capital.

O que esperar?

O cenário atual de liquidação global evidencia a sensibilidade dos mercados de dívida à política fiscal e monetária dos principais países. A trajetória dos títulos dos EUA seguirá sendo um termômetro essencial do apetite global por risco e da confiança na sustentabilidade fiscal americana.

Investidores e analistas continuarão atentos a novos desenvolvimentos que possam agravar ou aliviar essa crise de confiança.

De acordo com Marink Martins, analista internacional do EQI+, atualmente é possível observar as taxas dos bonds americanos de 10 anos com um aumento, acima de 4,5% e as de 20 e 30 anos acima de 5%.

“A dívida americana é a maior do mundo, é uma que precisa ser refinanciada continuamente e essa questão vai ficar com a gente, então quando essa taxa volta a subir, volta essa preocupação”, explica.

Segundo o analista, isso faz com que volte o receio de que o custo do endividamento americano pode ficar mais elevado e de quem vai comprar os títulos a serem emitidos.

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