A tensão crescente entre Estados Unidos (EUA) e China, agravada por embates tecnológicos e decisões geopolíticas estratégicas, está expondo uma profunda mudança de paradigma no sistema financeiro global. Para o analista internacional Marink Martins, os Estados Unidos estão deixando de ser o principal destino do capital global para se tornarem uma fonte de capital — um movimento que pode redefinir os fluxos de investimento e impactar diretamente economias emergentes como o Brasil.
Historicamente, os Estados Unidos funcionaram como um “aspirador” de recursos globais. A solidez do dólar, o crescimento estável e a liderança em setores-chave como tecnologia mantinham os EUA como o lugar mais seguro para alocar capital. Mas isso está mudando.
De acordo com o analista, a pandemia da Covid-19 foi um divisor de águas. “Os Estados Unidos abusaram do seu crédito, do dólar e da emissão de dívida para fazer transferências de renda em escala inédita. Hoje, apesar do dólar ainda parecer forte em relação a outras moedas, ele está muito vulnerável em termos de valor real e de atratividade como ativo”, diz.
EUA x China e o novo destino do capital
Martins destaca que os últimos 15 anos foram marcados por um ciclo de empréstimos em moedas de juros baixos (carry trade) — como o iene japonês — que acabaram sendo redirecionados para os Estados Unidos. “Mas agora, com os níveis atuais de endividamento e um possível cenário de recessão, o país começa a perder sua posição como porto seguro do capital mundial.”
Segundo ele, países emissores de moeda de reserva global, como os Estados Unidos, Europa e Japão, estão enfrentando um dilema: não podem se permitir uma recessão profunda, pois isso impactaria diretamente sua capacidade de arrecadação tributária em um momento de dívida elevada. “É um jogo de alto custo fiscal. Nos Estados Unidos, por exemplo, fala-se muito em corte de impostos, mas isso pode elevar a dívida pública em cerca de US$ 6 trilhões nos próximos 10 anos. A pergunta que fica é: quem vai financiar isso?”.
Essa mudança estrutural no comportamento do capital global abre espaço para os mercados emergentes.
“Existe uma energia potencial no Brasil. Basta recuperar a confiança. O investidor pode começar a tirar recursos da renda fixa e colocá-los na renda variável. O momento é de oportunidade”, avalia.
Tecnologia: novo capítulo na guerra comercial
O governo norte-americano anunciou nesta quarta-feira (16) novas restrições à exportação de chips de inteligência artificial para a China, afetando diretamente a gigante Nvidia (NVDA; NVDC34). A empresa, que havia desenvolvido o chip H20 para contornar sanções anteriores, agora depende de uma licença especial para continuar vendendo ao mercado chinês. O impacto é bilionário: a Nvidia estima perdas de US$ 5,5 bilhões somente no último trimestre, devido a estoques e contratos comprometidos.
“O embate com a China escancara o novo reposicionamento dos Estados Unidos, que está cada vez mais olhando para dentro, em uma postura defensiva. Isso só reforça a tese de que o excepcionalismo americano está perdendo força”, conclui Martins. “Os Estados Unidos estão deixando de ser o destino final do capital global para se tornarem uma ponte. Uma fonte. E isso muda tudo.”
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