Em uma das eleições mais parelhas da história, o candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva, foi eleito presidente com 50,9% e segue para o seu terceiro mandato.
O que pode mudar no mercado? Como ficam os investimentos com Lula?
Para responder a essa pergunta, Denys Wiese, head de Renda Fixa da EQI Investimentos, Ricardo Cará, gestor de Fundos Multimercados, Roberto Chagas, gestor de Equity, e Stephan Kautz, economista-chefe da da EQI Asset, comandaram o EQI Talks.
Acompanhe agora alguns insights dessa conversa.
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Dólar em baixa e Ibovespa em alta: o que aconteceu com o mercado no primeiro dia pós-eleições?
Roberto Chagas, gestor de Equity da EQI Asset, ressalta que viu uma movimentação natural, uma vez que o mercado já precificava uma eventual vitória de Lula.
“O que ainda restavam eram dúvidas sobre variáveis como o tamanho da diferença de votos entre os candidatos, o clima pós-eleições e a leitura do mercado internacional sobre o evento”, comenta.
“O mercado internacional tem uma visão positiva sobre a volta de Lula à presidência. No cenário pós-eleitorial imediato, o mercado entendeu que o horizonte está mais claro. Além disso, o Brasil está bem posicionado entre os países emergentes, sendo preferido para receber investimentos”, ressalta Ricardo Cará, gestor de Fundos Multimercados da EQI Asset.
Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, lembra que o mercado espera conhecer a próxima equipe de governo já nos próximos dias, a partir do processo de transição deve se iniciar com o relator do orçamento para 2023 se encontrando com a equipe do novo governo para iniciar os trabalhos.
Já Denys Wiese, head de renda fixa da EQI Investimentos, destaca que a tendência é de que o país deve passar por um período positivo nos próximos dois anos que serão sustentados por medidas que já vêm sendo tomadas em governos anteriores como o teto de gastos, reforma trabalhista, marco do saneamento e reforma da previdência.
“O estado vem sendo consertado e o Brasil está com as contas ajeitadas. Vamos ter um superávit primário interessante este ano, além de um PIB que está crescendo acima das expectativas. O investidor pode se sentir mais seguro nesse período imediato”, observa.
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Plano de governo de Lula: setores que podem ser beneficiados
Na visão de Denys Wiese, o atual plano de governo do candidato Lula não apresenta novidades em relação ao que já foi feito em seus dois mandatos anteriores.
“Todas as propostas já foram feitas antes, com destaque para a atuação do estado como indutor do desenvolvimento. Dentro deste plano, as áreas que irão receber investimentos como saúde, energia, alimentos e defesa devem ‘bombar’”, destaca.
Já Roberto Chagas, ressalta que, de modo geral, o mercado tem dúvidas sobre a capacidade de execução do plano como um todo.
“A natureza do plano de Lula é de um Estado mais intervencionista, contudo, é preciso analisar se existe ‘capital político’ para executar 100% dessas propostas.
Resumo plano de governo Lula
- O Estado como indutor do desenvolvimento;
- Maiores gastos públicos, direcionados para áreas prioritárias;
- Investimentos públicos em infraestrutura;
- Fomento ao mercado interno, com crédito barato;
- Fomento à indústria nacional, com crédito barato e política de proteção e de compras (pelo Estado) de produtos nacionais;
- Agenda ESG forte;
- Contrário às privatizações;
- Revogação de reforma trabalhista: volta da gratuidade da justiça trabalhista para o empregado;
- Outra reforma previdenciária, mais inclusiva;
- Melhoria da imagem e estabilidade institucional, evitar e acabar com a crise entre poderes através da conversa;
- Revogação do teto de gastos;
- Provável volta do imposto sindical;
- Fomento à construção civil e à habitação;
- Fomento ao Turismo;
- Fomento à Educação;
- Setores beneficiados com compras governamentais: saúde, energia, alimentos e defesa;
- Intervenção no mercado cambial (intenção de diminuir a volatilidade);
- Política de preços controlada de energia e fomento de produção de “bens de consumo críticos”: armas para o controle da inflação;
- Aumento da concorrência do setor bancário e desburocratização.
- Veja também: eleições presidenciais 2022, conheça a análise das possibilidades políticas e os impactos nos investimentos.
Investimentos com Lula e o teto de gastos: manutenção ou queda?
Stephan Kautz lembra que o teto de gastos é uma importante âncora fiscal, um mecanismo que serve para balizar os investidores, economistas e empresários no direcionamento fiscal.
Para ele, a premissa de encerrar o teto de gastos é compreender o que será colocado no lugar.
“Pode ser criada uma solução boa ou ruim. Na nossa interpretação, a priori, é de que a proposta de Lula contempla metas anuais de superávit primário para fazer com que a dívida se estabilize ou caia daqui a quatro anos. Se for isso, aumenta a incerteza, pois as metas sofrem muitas pressões ano a ano dependendo do sabor da economia e dos planos políticos, o que aumenta o risco fiscal ao longo do tempo”, comenta o economista-chefe da EQI Asset.
No entanto, ele destaca que o teto de gastos permeia uma série de negociações junto ao congresso e senado para ser modificado. “Ele foi criado via PEC, uma emenda da Constituição, que não pode ser desfeita com uma ‘canetada’”, ressalta.
Juros futuros: o que esperar?
Denys Wiese lembra que os juros já estão no topo do estresse, com a taxa Selic em 13.75% e dados que apontam a inflação em queda. A dúvida é se os juros irão cair em 2023.
Para entender os prováveis cenários, o head da EQI fez um estudo do comportamento da Selic e do Ibovespa no cenário pós-eleições desde 1994, considerando o ano em que a eleição ocorreu, o ano seguinte e dois anos após o pleito.
Acompanhe abaixo:
“O ano anterior à eleição é, geralmente, marcado por estresse e incerteza. Já os dois anos seguintes são de calmaria, com política monetária expansionista”, destaca Wiese.
É possível esperar uma redução de juros no curto prazo?
Wiese destaca que, segundo as projeções da EQI Asset, a Selic deve começar a cair em junho de 2023, pouco depois da acomodação da subida dos juros americanos.
“A estatística está a nosso favor. Provavelmente, os próximos dois anos serão bons. O plano de governo de Lula, se for totalmente implementado, pode acarretar problemas fiscais, excesso de gastos, má alocação de crédito via BNDES no prazo de dois anos à frente. Até lá, devemos ter dois anos de calmaria”.
Roberto Chagas ainda destaca ainda que a composição do Banco Central deve permanecer nos próximos dois anos. “Isso nos traz otimismo em relação à continuidade do combate à inflação que tem sido feito”.
Renda variável ou fixa?
Para Roberto Chagas, é preciso lembrar que o mundo ainda está no combate à inflação. “Quanto à bolsa, é preciso estar em boas empresas para estar preparado para qualquer cenário”, ressalta.
“Um portfólio eficiente é aquele que tem as melhores aderências aos ciclos do mercado, seja na renda fixa, variável ou moedas. Estamos chegando perto do fim do ciclo de aperto monetário global. O Brasil já fez sua lição de casa. Isso dará o tom. Podemos ter à frente uma onda favorável aos países emergentes”, observa Cará.
Wiese lembra da importância de definir o quanto o investidor irá alocar do seu patrimônio em cada um dos ativos. “É importante manter a diversificação e ficar atento às oportunidades, manter pesos e contrapesos”, orienta.
É hora de dolarizar os investimentos?
Ricardo Cará prefere aguardar as sinalizações à frente para interpretar o próximo ciclo do dólar. “Podemos entrar em um ciclo de depreciação do dólar assim que chegarmos no fim da curva do aperto monetário”, alerta.
Fundos imobiliários: é um bom momento para investir?
“O setor imobiliário anda junto com a taxa longa de juros. Devemos ter um alívio nos próximos anos, o que seria bom para o setor imobiliário”, comenta Chagas.
Wiese observa que o setor imobiliário tem a ver com a renda das pessoas e o crédito disponível.
“Os Fundos Imobiliários têm relação com a Selic e o valor dos aluguéis. Lula irá pegar um país que irá crescer menos esse ano, em razão da taxa de juros ainda estar alta, causando impactos no tamanho do PIB. Mas, é esperado que o PT fomente a construção civil de baixa renda. No curto prazo, assim que a Selic começar a cair, o setor deve voltar a bombar”, diz.
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