O chairman do BTG Pactual, André Esteves, afirmou nesta quarta-feira (13) que a taxa básica de juros no Brasil deve começar a cair entre dezembro deste ano e janeiro de 2026. A previsão foi feita durante um painel sobre macroeconomia no AgroForum, evento promovido pelo próprio banco, que também contou com a participação do economista-chefe da instituição, Mansueto Almeida.
Segundo Esteves, a atual taxa de juros no país — uma das mais altas do mundo entre economias estáveis — é resultado da “descoordenação entre a política fiscal e a monetária”, o que obriga o Banco Central a manter um nível elevado para conter os gastos do governo.
“É como dirigir um carro acelerando e freando ao mesmo tempo. Para andar, precisa pisar muito no acelerador; para parar, precisa pisar muito no freio. Isso custa para todos”, disse.
O executivo destacou que o Banco Central tem demonstrado independência e que as políticas implementadas já estão surtindo efeito na queda da inflação e das expectativas para os próximos anos.
“Estamos ganhando a batalha. Juros deve começar a cair em dezembro ou janeiro. É uma boa notícia para todos nós”, afirmou.
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André Esteves:Dólar mais fraco, real valorizado
No painel, Esteves também comentou o cenário cambial. Para ele, a valorização recente do real frente ao dólar não foi motivada por fatores internos, mas por uma desvalorização global da moeda americana. Ele citou como exemplo que o movimento do real foi semelhante ao de outras moedas emergentes, como o peso chileno e o mexicano, e ressaltou a estabilidade do câmbio entre o euro e o real.
A perda de força do dólar, segundo Esteves, está ligada a mudanças de percepção sobre os Estados Unidos. O entusiasmo do mercado com a agenda econômica mais liberal e pró-negócios após a eleição de Donald Trump foi ofuscado pela adoção de políticas tarifárias mais agressivas.
“A maneira como o governo americano lidou com aliados gerou insegurança. A percepção de segurança e previsibilidade mudou, e isso contribuiu para a desvalorização do dólar”, explicou.
Tensões comerciais e postura brasileira
Esteves também avaliou o impacto do chamado “tarifaço” americano, adotado de forma unilateral contra diversos países, inclusive o Brasil. Para ele, não faz sentido retaliar as tarifas em um contexto no qual o Brasil mantém déficit comercial com os Estados Unidos, e o efeito macroeconômico da medida para o país tende a ser nulo.
“Precisamos ter paciência e serenidade para que tensões baixem, e não aumentem. Ganho político com retaliação será pequeno, e a sociedade vai cobrar negociadores, não criadores de confusão”, disse.
“A politização indevida e a interferência em assuntos de outro governo não é devida e o Brasil deve ter sua soberania respeitada, porque somos uma democracia funcional – com defeitos, sim, mas funcional. Só que isso não significa não negociar ou escalar tensões”, avaliou.
“O efeito macro das tarifas é nenhum, vai atingir empresas específicas e o governo tem pacote para ajudar com isso. O efeito, na verdade, é deflacionário para o Brasil. Agora, certamente, a postura que temos que ter é construtiva. Operar para que tensões subam é um erro”, complementou.
Ambiente econômico e perspectivas
Apesar dos desafios, Esteves se mostrou otimista com o cenário de médio prazo, citando avanços estruturais recentes, como a reforma trabalhista, a da Previdência, a tributária, a independência do Banco Central e privatizações importantes, como as da Eletrobras, Sabesp e Copel.
“Se vier um vento a favor, vamos longe. Hoje, se bater uma brisa, já ganhamos muito”, afirmou.