O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participou do CEO Conference, em entrevista conduzida por Murillo de Aragão, da Arko Advice. Durante a conversa, ele abordou cenário econômico, desafios fiscais e reformas estruturais no Brasil. E enfatizou a necessidade de participação do Congresso para que a agenda econômica avance.
Incertezas do mercado e reversão do cenário
Questionado por Murillo de Aragão sobre sua análise do final de 2024 e começo de 2025, quando o mercado vivia um período de forte incerteza, com alta do dólar e dos juros futuros, Haddad avaliou que, atualmente, o mercado se mostra mais sensível do que no passado. Ele comparou a situação atual com a transição econômica de 2002, destacando que, apesar das tensões, a economia brasileira tem condições de sustentabilidade.
“Tivemos uma transição em 2022 em que a dívida líquida era 60% do PIB, muito parecida com hoje. Selic era de 25%, dívida em dólar bastante apreciada, sem reservas cambiais. E ninguém dizia que o Brasil ia quebrar. Estou falando desse momento, porque vivi essa transição. O mercado está muito mais tenso hoje do que em outros tempos, as pessoas estão com mais ‘dedo no gatilho’, esperando notícia para se proteger, para especular, tudo dentro das regras do jogo, sim, mas em uma situação mais tensa”, disse.
O ministro ressaltou que o contexto geopolítico global também está mais desafiador, com muita tensão em diversos países, como México, Colômbia, China e Oriente Médio, tudo decorrente das incertezas em relação à política monetária dos Estados Unidos.
Haddad no CEO Conference: relevância das reformas estruturais
Haddad defendeu a continuidade das reformas estruturais e a importância de um debate econômico realista, à parte de preferências ideológicas ou políticas.
“Ninguém está proibido de ter preferencia ideológica e ter o seu candidato em 2026. A democracia foi salva e isso garante a liberdade de cada um fazer o que quiser com o voto em 2026. Mas precisamos reconhecer o que vem sendo feito e colocar a agenda correta para o país, reformas estruturais que vão melhorar o ambiente de negócio”, afirmou.
E complementa: “Não vai ser bom para o país ficar negando os avanços e falando de um passado exuberante que não aconteceu. Se formos negacionistas, não vamos avançar. Podemos melhorar as contas públicas e fazer deste momento uma oportunidade. A turbulência política acontece, mas o papel dos homens sérios é botar a agenda para andar”

Apelo ao Congresso
O ministro reconheceu que nem todas as suas propostas foram aprovadas pelo Congresso, mas enfatizou que houve avanços significativos.
“A agenda fiscal não pode perder ímpeto. Com a mudança de presidência nas casas legislativas, precisamos ver a disposição dos líderes para voltar a endereçar os temas importantes. Se recuperarmos os números pré-crise de 2015 e alcançarmos um patamar de receita de 19% e despesa de 18% do Produto Interno Bruto (PIB), teremos um horizonte de sustentabilidade”, afirmou.
Haddad destacou a reforma tributária como um grande avanço, classificando-a como a maior já realizada em um regime democrático, sem aumento da carga tributária.
Ele também criticou os lobbies existentes em Brasília e a influência de grupos empresariais que buscam manter privilégios.
“Os lobbies em Brasília existem, e isso não é novidade. Jogar luz sobre isso é obrigação da imprensa e dos investidores. 99% das pessoas sabem o que precisa ser feito, mas tem muita gente que atrapalha. Precisamos enfrentar essas pessoas.”
Prioridades econômicas
Em janeiro de 2025, Haddad apresentou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma lista com 25 metas prioritárias para os próximos dois anos, estruturadas em três eixos principais: estabilidade macroeconômica, melhoria do ambiente de negócios e transformação ecológica. Murillo de Aragão lembrou que, à época, o ministro foi criticado pela iniciativa, com analistas defendendo que “quem tem 25 prioridades não tem nenhuma na verdade”, ao que o ministro respondeu:
“Nós chamamos de 25 iniciativas, que são projetos de lei que tratam de temas importantes. É um erro pensar que a área econômica pode viver de uma iniciativa só. Regular inteligência artificial, por exemplo, é essencial para não perdermos oportunidades. O consignado privado também é uma grande oportunidade”, diz.
O ministro explicou que a nova regulamentação para o crédito consignado permitirá que trabalhadores com carteira assinada utilizem seus contracheques como garantia para empréstimos com juros mais baixos, como já acontece com o funcionalismo público, o que pode beneficiar empreendedores e a economia como um todo.
Ajuste fiscal e crescimento
Haddad reafirmou o compromisso do governo com o ajuste fiscal de forma socialmente justa. Ele destacou que não adianta propor cortes inviáveis pela Constituição, como eliminar o Fundeb, e que é necessário buscar soluções realistas.
“O presidente Lula me diz: ‘Vamos arrumar as contas, mas sem prejudicar os mais pobres’. O desafio é grande, mas combater o patrimonialismo e os privilégios é essencial. Sem crescimento econômico, o ajuste fiscal não é viável. Mas precisamos fazer a prosperidade chegar a mais pessoas”, enfatizou.
Unidade dentro do governo
Questionado sobre a suposta desunião dentro do governo, Haddad minimizou as divergências, afirmando que o debate econômico reflete a própria diversidade de opiniões da sociedade.
“Se compararmos com dois anos atrás, vejo mais convergência do que divergência. Eu leio na imprensa que eu e o presidente Lula estamos envolvidos em reforma ministerial, mas nunca conversei sobre isso, nem fui consultado. Esse é um assunto do presidente. Nunca sugeri nome para exonerar ou admitir. Não é papel de um ministro fazer isso”, disse.
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