O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira (22) que a economia brasileira deve entrar em uma trajetória consistente de redução da taxa de juros a partir de 2026. A declaração foi feita durante o Macro Day 2025 do BTG Pactual, em São Paulo, em painel mediado pelo economista-chefe do banco, Mansueto Almeida, e aberto pelo chairman André Esteves.
“Os números dos juros nominais vão melhorar. Com inflação controlada e dólar caindo, as coisas vão começar a melhorar a partir do ano que vem. E vai ser uma trajetória sustentável”, disse Haddad, em resposta a questionamento sobre a persistência da taxa Selic em patamar elevado.
Fernando Haddad faz diagnóstico das contas públicas no Macro Day
O painel foi aberto por Esteves, que elogiou a atuação do ministro:
“Mesmo que haja críticas, nada melhor do que o debate, a transparência. Nesse sentido, Haddad tem sido um exemplo de debate com espírito público, de alguém que se coloca do lado do bom senso, da responsabilidade, das melhores práticas”, elogiou Esteves.
André Esteves abre painel de Fernando Haddad. Fonte: Reprodução/BTG
Antes de abordar a questão monetária, o ministro apresentou um diagnóstico detalhado das finanças públicas. E afirmou que as despesas atuais do governo, equivalentes a 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), foram contratadas ainda em 2021 pela administração de Jair Bolsonaro.
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Ao analisar o resultado de Bolsonaro em 2022, Haddad disse que o superávit primário foi artificial, sustentado por medidas extraordinárias, como a privatização da Eletrobras (cerca de R$ 30 bilhões), dividendos da Petrobras (R$ 60 bilhões) e o adiamento do pagamento de precatórios (R$ 15 bilhões). Sem esses fatores, haveria déficit.
“O governo Bolsonaro registrou superávit de 0,5% em 2022. Mas esse resultado foi consequência de três medidas excepcionais: a privatização da Eletrobras, que rendeu quase R$ 30 bilhões; os dividendos da Petrobras e a venda de subsidiárias, que somaram cerca de R$ 60 bilhões; e ainda R$ 15 bilhões obtidos com o não pagamento de precatórios — autorizado pela chamada PEC do Calote, aprovada no ano anterior. Se descontarmos esses fatores, o superávit de 0,5% se transforma, na verdade, em um déficit de 0,3%”, disse.
“Além disso, a proposta orçamentária enviada ao Congresso já previa um déficit reconhecido de 0,6%. Considerando o adiamento do pagamento de precatórios para 2024, as compensações pela redução do ICMS sobre combustíveis e a evolução do BPC (Benefício de Prestação Continuada, que confere um salário mínimo para idosos e pessoas com deficiência), o déficit real projetado na PLOA (Projeto de Lei Orçamentária Anual) seria de aproximadamente 1,8% do PIB, apenas para cobrir compromissos já assumidos. Em resumo, o que tivemos nesse período foi uma erosão das receitas, resultado direto dessas medidas extraordinárias.”
E enfatizou: “Precisamos tratar com seriedade o que foi contratado e entender porque atingimos os números que temos hoje. Para ter um debate real no próximo ano de eleição”, pontuou.
O ministro também alertou para o crescimento estrutural de despesas. O BPC, que somava R$ 67 bilhões em 2021–22, deve atingir R$ 131 bilhões em 2025, após mudanças de elegibilidade. Já o Fundeb, ampliado em 2021, adicionou cerca de R$ 40 bilhões anuais.
Arcabouço fiscal e gastos tributários
Haddad defendeu o novo arcabouço fiscal, mas admitiu que sua efetividade depende de negociação política.
“A arquitetura do arcabouço é boa, mas para ser fortalecida é preciso sentar com o Congresso e ajustar regras. Se for sustentável, o grau de investimento do Brasil vem naturalmente”, afirmou.
Ele também criticou o avanço dos chamados gastos tributários, que hoje equivalem a 6% do PIB, contra 2% duas décadas atrás. Medidas como a revisão da desoneração da folha, o fim do Perse e a tributação de offshores, ressaltou, não representam aumento de impostos, como muitos interpretam, mas corte de benefícios fiscais.
Responsabilidade fiscal com justiça social
Haddad buscou equilibrar o discurso de ajuste fiscal com o compromisso social.
“Estado forte não é o mais endividado. O forte é o que tem capacidade de agir em emergências e oportunidades. Eu acredito que estamos deixando como legado a maior reforma tributária já feita e a recomposição da base fiscal do país”, afirmou.
Ele ressaltou ainda a necessidade de diálogo com parlamentares e sociedade para que o Brasil avance em áreas como economia verde e digital.
“Temos muitas oportunidades de investimento, mas isso exige construção política. Eu quero sair do cargo podendo mostrar que ajudei a melhorar as contas públicas e tornar o país mais justo.”
Haddad e Mansueto Almeida, no Macro Day. Foto: Reprodução/BTG
Juros altos
O painel também teve Haddad defendendo que o esforço fiscal iniciado no atual governo criará condições para uma queda consistente dos juros.
“O fiscal é muito importante, mas não é a única explicação para os juros altos no Brasil. Se continuarmos o trabalho da Fazenda, vamos alcançar uma trajetória sustentável de crescimento e confiança”, concluiu.