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Fim do tarifaço sobre o Brasil é “boa notícia”, mas de efeito limitado, diz Stephan Kautz

Fim do tarifaço sobre o Brasil é “boa notícia”, mas de efeito limitado, diz Stephan Kautz

Para Kautz, economista-chefe da EQI, a decisão americana é positiva, especialmente para setores que dependem de margens competitivas no comércio internacional.

Os Estados Unidos anunciaram na quinta-feira (20) a retirada da tarifa adicional de 40% aplicada desde julho a uma lista de cerca de 1.200 produtos agrícolas brasileiros, incluindo carne bovina fresca, resfriada ou congelada, café, cacau, frutas, vegetais, nozes e fertilizantes. A decisão, oficializada por uma nova ordem executiva assinada pelo presidente Donald Trump, representa um recuo parcial nas medidas punitivas impostas ao Brasil em 2025.

A reversão altera o decreto 14.323 — que havia declarado “emergência nacional” em relação ao Brasil e introduzido sobretaxas a diversas exportações, sob alegações de riscos à segurança nacional e à economia americana. A medida é retroativa e vale para produtos que entraram nos EUA desde o último dia 13.

Segundo a Casa Branca, o recuo foi possível após “progresso inicial” nas negociações entre Washington e Brasília, intensificadas após uma conversa telefônica, em outubro, entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O secretário de Estado, Marco Rubio, será o responsável por monitorar a implementação da mudança e poderá sugerir novas ações.

A retirada do tarifaço de 40% se soma a outra redução anunciada dias antes, que tratava de tarifas recíprocas de cerca de 10% sobre parte dos produtos agrícolas. Embora a nova ordem mencione apenas “certos produtos agrícolas”, autoridades confirmaram prioridade para itens ligados ao agronegócio brasileiro — que vinha pressionado pela competitividade reduzida no mercado americano.

Stephan Kautz: “Iguala o jogo, mas não muda projeções para PIB ou inflação”

Para Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Investimentos, a decisão americana é positiva, especialmente para setores que dependem de margens competitivas no comércio internacional. No entanto, ele ressalta que o impacto macroeconômico para o Brasil deve ser “muito pequeno”.

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Eles já tinham reduzido aquelas tarifas adicionais de 10% para produtos agrícolas, mas agora a gente teve uma redução adicional para aqueles produtos que tinham tarifas de 40%. Então, essa sim é uma boa notícia que equaliza diversos produtos brasileiros com os competidores internacionais”, afirmou.

Kautz explica que alguns exportadores brasileiros estavam em desvantagem diante de concorrentes que continuavam isentos ou enfrentavam tarifas menores. A retirada das sobretaxas, portanto, tende a restabelecer condições mais equilibradas no mercado americano.

Apesar disso, o economista destaca que não houve perda generalizada de participação de mercado — com exceção do café:

Em geral, não tem aí uma grande mudança, porque não houve uma perda tão significativa de market share, a não ser talvez no café, que vinha sofrendo um pouco mais. Mas o café estava compensando isso vendendo para outros países, especialmente a Europa, que vinha consumindo mais os cafés brasileiros, especialmente os de qualidade mais alta”, observou.

Sem efeito nas projeções de PIB e inflação

Kautz reforça que, do ponto de vista macroeconômico, a medida não altera as projeções já feitas pela EQI Investimentos. Isso porque a economia brasileira conseguiu redirecionar parte das exportações para outros mercados desde que as tarifas foram impostas.

Em termos de Brasil, o efeito para atividade é muito pequeno. A gente já não tinha considerado nenhum impacto significativo nas projeções de PIB por conta das tarifas, basicamente por esse efeito de diversificação da pauta. Os dados efetivos já mostravam que isso vinha ocorrendo desde a implementação das tarifas”, disse.

Com isso, a reversão tampouco deve produzir efeito relevante nas expectativas de inflação:
Para a inflação, também não. Só teria efeito se estivesse sobrando produto no mercado doméstico, e isso não estava acontecendo justamente pela diversificação. Então também não vamos revisar nada muito significativo.”

Ele lembra que impactos inflacionários só ocorrem quando há excesso de oferta no mercado interno, como no episódio do embargo à carne de frango anos atrás, que derrubou os preços domésticos. “Não é o que observávamos nos produtos tarifados pelos EUA”, afirma.

Alívio setorial e estabilidade no longo prazo

Embora não projete impactos macroeconômicos de curto prazo, Kautz vê a decisão americana como um ganho importante para empresas exportadoras:

Não deixa de ser uma boa notícia, dado que o mercado americano é o maior mercado consumidor do mundo. Ter esse acesso liberado dá uma certa estabilidade e um refresco para os setores que vinham tendo que reduzir preço lá fora ou buscar um esforço adicional de diversificação.”

O economista avalia que a diversificação tende a continuar, agora como estratégia estrutural — não apenas reativa. E conclui:

Deve ser um efeito positivo líquido ao longo do prazo. Mas, enfim, para o curto prazo, nada muda nas nossas projeções.”

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