A EQI Asset revisou a projeção para a Selic, taxa básica de juros, ao final de 2024, de 8,75% para 9,25%.
A revisão, explica Stephan Kautz, economista-chefe da gestora, se deve a três fatores: ata do Copom mais dura, incertezas no cenário internacional e aumento do risco fiscal.
A projeção anterior, de 8,75% ao ano, considerava que o Comitê de Política Monetária (Copom) iria acelerar o ritmo de cortes da Selic no primeiro trimestre do ano que vem, dos atuais 50 pontos-base a cada reunião para 75 pontos-base. Agora, diz Kautz, isso tende a não acontecer.
“A volta da dúvida sobre o que seria a meta fiscal no ano que vem e o resultado primário, com probabilidade de ser um déficit maior do que o Governo esperava inicialmente, somada ao risco de o Governo poder assumir outras medidas para estimular a economia jogam contra a política monetária do Banco Central, o que justifica essa revisão”, aponta.
“Além disso, o Banco Central falou na ata em hiato de produto mais alto, quando a expectativa era que estivesse negativo e abrindo. Hoje não falam exatamente onde está a medida, mas citam que está mais fechado, e por isso revisaram a inflação para 2025. Com isso, na medida em que a inflação de 2025 não volta aos 3% e há um horizonte longo até lá, isso traz uma preocupação para o Banco Central de até quanto pode ser o corte”, complementa.
A gestora trabalha agora com a expectativa de mais cortes sequenciais de 50 pontos-base, até que a Selic vá dos atuais 12,25% para 9,25%, o que deve acontecer até meados do ano que vem.
O Boletim Focus, divulgado toda segunda-feira, com a média das expectativas do mercado, também vê Selic a 9,25% em 2024, mas a tendência é que haja revisão nas próximas semanas.

Projeção para a Selic: O que disse a ata do Copom?
O Banco Central divulgou na terça-feira (7) a ata da 258ª reunião do Copom, com mais explicações sobre a decisão do último dia 1, quando a taxa Selic, taxa básica de juros da economia, foi reduzida de 12,75% para 12,25%, na terceira queda de 50 pontos-base promovida pelo comitê.
Novamente, o Copom deixou claro que o ritmo de cortes da taxa seguirá em 50 pontos-base, pelo menos nas próximas duas decisões – de 13 de dezembro e a primeira de 2024, em 31 de janeiro.
“Com relação aos próximos passos, os membros do comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, afirmou o documento.
De novidade em relação ao comunicado emitido no dia da decisão de juros, o Copom falou com mais detalhes sobre o peso do risco fiscal nas decisões futuras:
“O Comitê vinha avaliando que a incerteza fiscal se detinha sobre a execução das metas que haviam sido apresentadas, mas nota que, no período mais recente, cresceu a incerteza em torno da própria meta estabelecida para o resultado fiscal, o que levou a um aumento do prêmio de risco. Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”.
E complementou, reforçando que as expectativas para a inflação precisam de certezas fiscais para se ancorarem:
“As expectativas de inflação seguem desancoradas e são um fator de preocupação. O Comitê avalia que a redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira”.
Risco fiscal de volta com fala de Lula
O risco fiscal voltou a ser debatido recentemente, depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou que a meta de zerar o déficit das contas públicas em 2024 é de difícil alcance, o que gerou especulações sobre uma possível mudança na meta proposta para o próximo ano.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que não há descompromisso do presidente com o objetivo de equilíbrio fiscal, mas o tema permanece em aberto.
A questão é que o país tem regras para seguir para cumprir com os gastos acordados, dando certa previsibilidade ao mercado. Uma crise fiscal, com o não cumprimento das regras estabelecidas ou com mudanças repentinas, gera desconfiança, o que provoca alta dos juros futuros e impacta toda a economia, mudando, inclusive as decisões de política monetária.
Projeção para a Selic e incertezas no exterior
Além do fiscal, o Copom também voltou a citar o cenário internacional como principal ponto de atenção no cenário atual.
“O cenário internacional tem se mostrado mais volátil e adverso. Há múltiplos mecanismos de transmissão da economia internacional para a economia doméstica, financeiros e econômicos, que devem ser incorporados na tomada de decisão. Um membro avalia que o cenário externo introduz um viés assimétrico altista no balanço de riscos para a inflação. Os demais membros avaliam que o cenário internacional afeta primordialmente o grau de incerteza relativo ao balanço de riscos. O Comitê é unânime em avaliar que o aumento da incerteza no cenário global exige cautela”, destacou.
O Copom explica que, passado o primeiro movimento de desinflação decorrente da normalização das cadeias produtivas após pandemia, dos efeitos iniciais dos apertos de política monetária e do arrefecimento das pressões sobre commodities, o mercado de trabalho ainda segue aquecido nas principais economias, o que pode impactar a trajetória de juros no Brasil.
Quando serão as próximas reuniões do Copom?
O Banco Central já divulgou o calendário das reuniões do Copom em 2024. Em 2023, a última reunião acontece entre os dias 12 e 13 de dezembro. Para 2024, as datas são as seguintes:
- 30 e 31 de janeiro
- 19 e 20 de março
- 7 e 8 de maio
- 18 e 19 de junho
- 30 e 31 de julho
- 17 e 18 de setembro
- 5 e 6 de novembro
- 10 e 11 de dezembro
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