O comércio global de café é um dos setores mais aquecidos da economia mundial. Estimado em US$ 138,3 bilhões em 2025, deve atingir US$ 174,2 bilhões até 2030, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 4,72%, segundo a consultoria Mordor Intelligence. Outra projeção, da Strait Research, indica que o mercado de US$ 97,7 bilhões em 2024 saltará para US$ 156,8 bilhões até 2033, avançando a um ritmo de 5,4% ao ano.
Esse dinamismo tem atraído grandes corporações para disputas intensas. A Keurig Dr Pepper (KDP), por exemplo, anunciou a compra da holandesa JDE Peet’s por 15,7 bilhões de euros — cerca de US$ 18 bilhões. O negócio, considerado a maior aquisição na Europa em mais de dois anos, coloca a companhia em posição de rivalizar diretamente com a Nestlé.
Com a transação, a KDP formará uma empresa focada em café, reunindo marcas como Keurig, Jacobs, L’OR e Peet’s. O conglomerado terá cerca de US$ 16 bilhões em vendas anuais e presença em aproximadamente 100 países.
Quem são os líderes do comércio global de café
Apesar da ofensiva da KDP, a Nestlé (NESN) segue à frente no comércio global de café. A suíça, que também atua em alimentos, nutrição e água, consolidou ainda mais sua posição ao adquirir a Seattle’s Best Coffee da Starbucks (SBUX; SBUB34) em 2023. Com isso, expandiu o portfólio de cafés em grãos, torrados, moídos e cápsulas K-Cup.
Outros grandes players incluem a Starbucks, a norte-americana J.M. Smucker, a italiana Lavazza e a chinesa Luckin Coffee. Além deles, figuram entre os principais grupos Melitta, Tchibo, Strauss Coffee, Massimo Zanetti e Caribou Coffee. Cada um busca espaço em nichos específicos — seja com cafés premium, seja com soluções prontas para beber.
O mercado asiático tem ganhado destaque. A Luckin Coffee, após superar um escândalo contábil em 2023, retomou uma estratégia agressiva de expansão na China, enfrentando a Starbucks em seu maior mercado fora dos EUA. Já a Tata Coffee, da Índia, tem focado em plantações orgânicas desde 2023, alinhando-se à tendência de sustentabilidade.
A onda de fusões e aquisições
O ritmo de consolidação do setor é evidente. Em janeiro de 2023, a Nestlé concluiu a compra da Seattle’s Best Coffee. A Lavazza, por sua vez, desembolsou US$ 200 milhões em uma joint venture com a Yum China, mirando a abertura de mil cafeterias até o fim de 2025. No mesmo ano, também adquiriu a MaxiCoffee e lançou oferta pública pela IVS Group.
A Coca-Cola (KO; COCA34) também entrou no jogo em 2018, com a compra da rede britânica Costa Coffee por US$ 5 bilhões. Porém, atualmente avalia vender o ativo, segundo fontes ligadas ao setor. Esse reposicionamento mostra como mesmo as grandes precisam se adaptar às mudanças do mercado.
Crescimento, riscos e endividamento
O crescimento da KDP ilustra bem a fase atual do setor. A companhia registrou receita de US$ 15,8 bilhões nos 12 meses encerrados em junho de 2025, alta de 4,6% frente ao ano anterior. O café responde por 26% desse total, ou US$ 4 bilhões anuais. Com a aquisição da JDE Peet’s, esse peso tende a aumentar significativamente.
Mas o avanço vem acompanhado de riscos. A KDP contraiu uma dívida de US$ 18 bilhões para financiar a transação, elevando sua relação dívida/patrimônio para 37% — bem acima da média de 20% das empresas do S&P 500. Além disso, custos de integração podem pressionar os resultados por até três anos, enquanto a forte presença europeia da JDE Peet’s expõe o grupo a riscos cambiais.
O que esperar para os próximos anos
O futuro do comércio global de café será moldado pela busca por cafés premium, pelo consumo crescente de bebidas prontas e pela adoção de práticas mais sustentáveis. A taxa média de crescimento anual, acima de 4% até 2030, indica que a consolidação continuará a todo vapor, beneficiando os gigantes capazes de absorver concorrentes menores.
Ao mesmo tempo, redes locais e médias também estão se reorganizando. Na Austrália, a Retail Food Group adquiriu a CIBO Espresso em 2024, rebatizando as 22 lojas como Gloria Jean’s. No Reino Unido, o Nero Group comprou as redes 200 Degrees e FCB Coffee, reforçando sua presença no setor de viagens. Esses exemplos mostram como a expansão não é exclusividade das multinacionais.
Para os consumidores, a tendência é clara: mais opções de cafés especiais e prontos para beber, mas também um mercado cada vez mais concentrado. O café, segunda bebida mais consumida do planeta, segue como ativo estratégico e disputado no tabuleiro econômico mundial.
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