A ata do Fomc revelada nesta quarta-feira mostrou um quadro de incerteza dentro do Federal Reserve sobre os próximos passos da política monetária. O documento indica que vários membros consideraram apropriado um novo corte de juros em dezembro, caso a economia avance conforme o esperado. Ao mesmo tempo, muitos dirigentes afirmaram que, diante das atuais perspectivas, seria adequado manter a taxa básica inalterada pelo restante do ano.
O registro também mostra que houve apoio relevante para uma redução dos juros já na reunião de outubro. Alguns integrantes defenderam essa medida, embora reconhecessem que poderiam igualmente sustentar a manutenção da taxa. O debate reflete a busca do Fed por calibrar estímulos num ambiente em que dados econômicos exibem sinais mistos.
A ata destaca que o risco de queda do emprego aumentou nos últimos meses, com a desaceleração na criação de vagas. No front inflacionário, o cenário também preocupa: a inflação subiu desde o início do ano e permanece ligeiramente elevada, com riscos de alta ainda presentes.
O documento mostrou ainda novos sinais de preocupação entre os dirigentes do Federal Reserve. Segundo o documento, as tarifas impostas nos últimos meses devem exercer pressão adicional sobre a inflação em 2025 e 2026, refletindo um repasse maior dos custos pelas empresas, especialmente no segmento de bens básicos.
O texto também indica inquietação quanto ao comportamento dos mercados financeiros. Alguns participantes mencionaram uma valorização excessiva de ativos, enquanto vários destacaram o risco de uma queda desordenada nos preços das ações caso o ambiente econômico se deteriore.
Ata do Fomc: perspectivas macroeconômicas inalteradas
No relatório apresentado ao comitê, o gestor responsável por avaliar as condições de mercado afirmou que os participantes mantiveram praticamente inalteradas suas perspectivas macroeconômicas entre as reuniões. Dados recentes seguiram consistentes com uma economia resiliente, o que contribuiu para a estabilidade nas expectativas de juros.
No mercado de Treasuries, os rendimentos tiveram pouca variação, acompanhando a estabilidade das expectativas para a taxa básica. A compensação da inflação diminuiu, especialmente nos prazos mais curtos, movimento que modelos internos atribuíram a fatores temporários.
Os principais índices acionários continuaram a subir, impulsionados pelo desempenho das grandes empresas de tecnologia e pelo otimismo crescente em torno da inteligência artificial. Spreads de crédito corporativo aumentaram ligeiramente, mas seguiram baixos em termos históricos. Ainda assim, falências recentes e perdas de crédito relatadas por alguns bancos elevaram o grau de atenção dos investidores ao mercado de crédito, especialmente nos segmentos mais arriscados, de acordo com relatório do colegiado.
No cenário internacional, o dólar comercial subiu moderadamente no período, embora siga mais fraco frente às principais moedas desde o início do ano. Analistas seguem projetando depreciação gradual da moeda norte-americana no médio prazo.
A ata do Fomc também abordou mudanças importantes nas condições do mercado monetário. As taxas de recompra subiram de forma significativa acima da taxa de juros sobre reservas, em meio à redução de liquidez e à emissão volumosa de dívida do Tesouro. Esse movimento elevou rapidamente a taxa efetiva dos Fed Funds, com sinais de que poderia avançar ainda mais. A utilização do programa de recompra reversa overnight caiu para mínimas recentes, enquanto a linha de recompra permanente passou a ser acionada com mais frequência.
Indicadores de disponibilidade de reservas também mostraram ajustes: pagamentos bancários passaram a ser feitos mais tarde e a participação de bancos domésticos no mercado de fundos federais aumentou. A elasticidade das taxas de repo em relação ao volume das operações subiu de maneira expressiva desde agosto, refletindo maior sensibilidade da liquidez do sistema.
O que é o Fomc
O Federal Open Market Committee (FOMC), sigla que pode ser traduzida como Comitê Federal de Mercado Aberto, é o órgão do Federal Reserve responsável por definir a taxa básica de juros dos Estados Unidos. Na prática, sua função é semelhante à exercida no Brasil pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central.
Assim como o Copom, o FOMC realiza reuniões periódicas para avaliar as condições econômicas e decidir os rumos da política monetária do país. Ao todo, são oito encontros anuais, nos quais o colegiado discute indicadores, tendências e projeções para estabelecer a melhor estratégia de atuação do Fed.
A composição do comitê é um dos pontos de destaque. O FOMC reúne 17 integrantes, dos quais 12 têm direito a voto. Entre os votantes estão o presidente do Federal Reserve de Nova York, sete conselheiros do Federal Reserve Board e quatro presidentes de bancos regionais escolhidos entre os outros 11 Federal Reserve Banks.
O comitê tem diversas responsabilidades, todas relacionadas ao controle da política monetária — ou seja, às decisões que influenciam o volume de dinheiro em circulação na economia. Entre suas principais tarefas está a definição de três taxas-chave que orientam o custo do crédito e afetam diretamente a atividade econômica.
Quando o objetivo é estimular a economia, o FOMC pode reduzir essas taxas, facilitando o crédito e ampliando a oferta de dinheiro no mercado. Em cenários assim, os títulos públicos tornam-se menos atrativos, o que também contribui para que os recursos circulem mais na iniciativa privada.
Esse movimento, no entanto, tem limites. Caso o consumo avance de forma acelerada, a pressão sobre preços tende a aumentar, elevando o risco de inflação — momento em que o comitê costuma reverter a estratégia e elevar os juros para conter o ritmo da economia.
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