O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, enfrenta um dos momentos mais desafiadores de sua gestão recente. Em meio a uma inflação persistente, um mercado de trabalho enfraquecido e agora uma paralisação parcial do governo norte-americano — que interrompeu a coleta de dados econômicos oficiais —, a autoridade monetária se reúne terça e quarta-feira (29) para decidir o rumo da taxa de juros.
Para Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Investimentos, o cenário aponta para um corte de 25 pontos-base na taxa básica americana, movimento que, segundo ele, já foi “telegrafado” pelo presidente do Fed, Jerome Powell, em comunicações recentes.
“Deve ter um corte de 25 pontos-base na taxa, basicamente telegrafado pelo presidente do Banco Central, o Jerome Powell”, afirmou Kautz. “O CPI que saiu na semana passada veio melhor do que o esperado, mostrando que o repasse das tarifas continua bastante comedido. Isso permite que o Fed faça esse corte agora.”
O índice de inflação ao consumidor (CPI), divulgado na sexta-feira (24), apresentou alta de 0,3%, menor do que a prevista (0,4%), reforçando a percepção de que as pressões inflacionárias vêm perdendo força. Ainda assim, a taxa segue em torno de 3% ao ano, acima da meta de 2% perseguida pelo Fed.
Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Investimentos
Fed deve cortar juros: paralisação traz incerteza
O principal desafio para os formuladores de política monetária, no entanto, é a falta de informações econômicas confiáveis. Desde o início de outubro, a paralisação do governo dos EUA (shutdown) impediu a divulgação de diversos indicadores, como taxa de desemprego, vendas no varejo e produção industrial.
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“O Fed está sem visibilidade sobre a real saúde e trajetória do mercado de trabalho. Eles só devem ter esses dados novamente em novembro — e mesmo assim, com ruído, já que parte das estatísticas nem está sendo coletada”, explicou Kautz.
Diante da incerteza, o economista acredita que o ciclo de cortes será cauteloso, com mais uma redução de 25 pontos-base ainda neste ano, possivelmente na reunião de dezembro.
“Em geral, serão 25 pontos agora e provavelmente 25 na próxima também, por conta dessa dúvida sobre o ritmo da economia e o mercado de trabalho”, disse. “Essas entregas estão em linha com o que o Fed já vinha projetando — uma redução até o fim do ano e talvez mais uma no início de 2026, dependendo dos dados.”
Ouça o áudio de Stephan Kautz sobre a decisão do Fed:
Fed deve cortar juros: Histórico recente
Na última reunião do Fed, em setembro, o comitê de política monetária (Fomc) já havia cortado os juros em 25 pontos-base, levando a taxa para o intervalo entre 4,25% e 4% ao ano. A decisão não foi unânime: o diretor Stephen Miran, indicado por Trump, defendeu um corte mais agressivo, de 50 pontos-base.
Na ocasião, o comitê afirmou que continuaria monitorando atentamente as condições do mercado de trabalho e a trajetória da inflação, mantendo o compromisso de ajustar a política monetária conforme necessário.
Com a economia americana mostrando sinais mistos e a incerteza dos dados oficiais, a decisão desta quarta promete ser mais um passo cuidadoso de um Fed que tenta equilibrar o combate à inflação com a necessidade de evitar uma desaceleração mais profunda.
