O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) decidiu nesta quarta-feira (29) reduzir a taxa básica de juros dos Estados Unidos em 25 pontos-base, para o intervalo entre 3,75% e 4% ao ano.
A decisão do Fed veio em linha com as expectativas do mercado, que já precificava amplamente o movimento. Segundo a ferramenta CME FedWatch, 97,8% das apostas indicavam um corte de 25 pontos-base antes do anúncio oficial.
Em comunicado, o Federal Reserve afirmou que a atividade econômica tem crescido em ritmo moderado, enquanto os ganhos no mercado de trabalho diminuíram ao longo do ano e a taxa de desemprego subiu levemente, mas segue em níveis baixos.
O texto destaca ainda que a inflação voltou a subir em relação ao início do ano e permanece um pouco elevada.
“Em apoio aos seus objetivos e diante da mudança no balanço de riscos, o Comitê decidiu reduzir a meta para a taxa dos fundos federais em 0,25 ponto percentual, para o intervalo entre 3,75% e 4%. Na avaliação de novos ajustes, o Comitê analisará cuidadosamente os dados recebidos, as perspectivas econômicas e o balanço de riscos”, diz o comunicado.
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O Fomc também anunciou que encerrará o processo de redução de suas participações em títulos do Tesouro em 1º de dezembro, encerrando a política de enxugamento de liquidez (quantitative tightening).
Segundo o Fed, o Comitê segue fortemente comprometido em apoiar o máximo emprego e o retorno da inflação à meta de 2%.
Riscos e divergências na decisão
O comunicado reforça que a incerteza sobre o cenário econômico permanece elevada, e que o Comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu duplo mandato.
De acordo com o texto, os riscos de queda no emprego aumentaram nos últimos meses, o que também influenciou a decisão de corte.
A decisão não foi unânime:
- Stephen Miran votou por um corte mais agressivo, de 0,50 ponto percentual.
- Jeffrey Schmid preferiu manter os juros no intervalo anterior, de 4% a 4,25% ao ano.
Powell: “nova redução em dezembro não é um resultado dado”

Durante a entrevista coletiva, o presidente do Fed, Jerome Powell, reforçou que a nova redução dos juros em dezembro não está garantida, contrariando parte do mercado que apostava em cortes consecutivos.
“Uma nova redução em dezembro não é um resultado dado. Longe disso”, disse Powell.
Ele destacou que as próximas decisões dependerão dos dados de inflação, emprego e atividade, e que o banco central seguirá avaliando o balanço de riscos entre seus dois mandatos.
“No curto prazo, os riscos para a inflação estão inclinados para cima e os riscos para o emprego, para baixo. (…) Seguimos buscando equilíbrio entre nossos dois mandatos”, disse Powell.
O dirigente também avaliou que a política monetária norte-americana continua modestamente restritiva, mas mais próxima de uma postura neutra, o que dá ao Fed espaço para reagir rapidamente caso o cenário mude.
“Não há caminho isento de risco. Permanecemos bem posicionados para responder de forma oportuna a possíveis mudanças no cenário econômico”, afirmou.
Trabalho, inflação e balanço no centro do debate
Powell destacou que o mercado de trabalho segue em desaceleração gradual, com geração de empregos mais lenta e oferta reduzida de mão de obra, influenciada por menor imigração e queda da participação na força de trabalho.
Apesar disso, ele ressaltou que não há sinais de deterioração acelerada e que o Fed permanece pronto para agir caso o desemprego aumente.
Em relação à inflação, o presidente apontou que os preços ao consumidor subiram 2,8% nos 12 meses até setembro, pressionados pelas tarifas sobre bens importados, enquanto a inflação de serviços, especialmente em habitação, segue em processo de desaceleração.
Powell afirmou que o impacto das tarifas deve ser temporário, mas disse que o Comitê monitorará de perto para evitar que se torne persistente.
“Nosso dever é garantir que um aumento pontual no nível de preços não se torne um problema inflacionário contínuo”, afirmou.
O presidente também confirmou o fim do programa de redução do balanço patrimonial do Fed em 1º de dezembro, medida que interrompe o processo de venda de ativos iniciado em 2022.
Segundo ele, o banco central deve manter o tamanho do balanço estável por um período, reinvestindo os títulos de agências em Treasury Bills, para encurtar a duração média da carteira.
Cautela com falta de dados e dissenso no Comitê
Powell reconheceu que a paralisação parcial do governo norte-americano atrasou parte dos indicadores oficiais, o que aumenta a incerteza sobre o cenário econômico.
“Se você está dirigindo no nevoeiro, você reduz a velocidade”, disse o presidente, ao justificar uma possível postura mais cautelosa nas próximas decisões.
A decisão desta quarta-feira não foi unânime.
Stephen Miran votou por um corte maior, de 0,50 ponto percentual, enquanto Jeffrey Schmid defendeu manter os juros no intervalo anterior, de 4% a 4,25% ao ano.
Reação dos mercados
Logo após o anúncio, os principais índices de Nova York operavam em alta. O S&P 500 subia 0,12%, aos 6.899,36 pontos, enquanto o Dow Jones avançava 0,20%, aos 47.803,82 pontos.
O Ibovespa acompanhava o movimento positivo e avançava 0,94%, aos 148.810 pontos.
Durante a fala de Powell, o mercado reprecificou as apostas para a próxima reunião: segundo o CME FedWatch, as chances de novo corte em dezembro caíram para 68,5%.
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Para Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Investimentos, a decisão do Federal Reserve de cortar os juros em 0,25 ponto percentual veio dentro do esperado, mas o destaque ficou por conta do tom mais duro da comunicação e da ênfase do presidente Jerome Powell em não confirmar novos cortes à frente.
Segundo Kautz, o Fed reconheceu que a inflação continua elevada e que o mercado de trabalho não está se deteriorando, o que indica que o banco central ainda não vê espaço para acelerar o ciclo de afrouxamento.
“Powell foi bastante enfático ao dizer que não há nenhuma decisão tomada para dezembro, nem garantia de que o Fed vá continuar cortando juros”, destacou.
O economista lembrou que a decisão não foi unânime, o que reforça a divergência interna sobre o ritmo da política monetária.
“Houve um membro que queria cortar 0,50 ponto, mas outro, do Fed de Kansas, votou por manter as taxas estáveis. E, segundo Powell, há outros dirigentes com ressalvas sobre a continuidade dos cortes”, explicou.
Kautz também chamou atenção para o contexto de incerteza provocada pela paralisação do governo americano, que suspendeu a divulgação de parte dos indicadores oficiais.
“Powell comparou a situação a dirigir sob neblina — quando é preciso reduzir a velocidade para ser mais cauteloso”, observou o economista.
Na visão do especialista, o recado foi de alerta aos mercados, que antes da coletiva precificavam quase dois novos cortes até janeiro. Agora, o cenário ficou mais dependente dos próximos dados econômicos.
“Foi um Fed mais hawkish, sem garantir a continuidade dos cortes daqui para a frente. O discurso de Powell mudou o humor das apostas e deve continuar pesando nas curvas de juros e nos ativos de risco”, concluiu Kautz.
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