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Gerdau: do prego ao aço, uma história centenária

Gerdau: do prego ao aço, uma história centenária

Com mais de 120 anos de história, a Gerdau se consolidou como um dos maiores nomes da indústria siderúrgica mundial e a principal produtora de aço do Brasil. De uma pequena fábrica de pregos em Porto Alegre, no início do século XX, a companhia transformou-se em uma potência global com presença em dez países, mais de 30 mil colaboradores e um papel central na economia circular por meio da reciclagem de sucata metálica. A trajetória da Gerdau é marcada por pioneirismo, inovação e uma forte cultura familiar que atravessou gerações.

A história da Gerdau, hoje uma das principais siderúrgicas das Américas, começou com a chegada ao Brasil de um jovem imigrante alemão. Em 1869, aos 20 anos, João Gerdau desembarcou em terras brasileiras vindo de Hamburgo, na Alemanha. Estabeleceu-se na colônia de Santo Ângelo — atual município de Agudo, no Rio Grande do Sul —, onde abriu um armazém de secos e molhados. No local, conhecido como “a venda do João”, oferecia de tudo: sal, açúcar, azeite, velas, tecidos, cordas e até ferraduras.

Com espírito empreendedor, João rapidamente se destacou entre os colonos e ampliou seus negócios. Passou a investir também na compra e venda de terras, diversificando sua atuação. Em 1893, por insistência da esposa, Alvine, mudou-se para Porto Alegre com os quatro filhos — Hugo, Martha, Walter e Bertha — em busca de novas oportunidades em um Brasil que dava seus primeiros passos rumo à industrialização.

Na virada do século XX, o país começava a erguer edifícios e infraestrutura urbana, o que impulsionava a demanda por pregos — um insumo essencial para a construção civil. Foi então que João se interessou pela compra de uma pequena fábrica de pregos à beira da falência, chamada Pontas de Paris. Fundada em 1891, a empresa contava com cerca de 70 investidores, mas não resistiu às dificuldades financeiras e foi colocada à venda em 29 de dezembro de 1900.

Vendo ali uma oportunidade promissora, João Gerdau adquiriu a fábrica e, no dia 16 de janeiro de 1901, registrou oficialmente a nova firma na Junta Comercial de Porto Alegre sob o nome João Gerdau & Filho.

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Loja de pregos do fundador. Foto: Divulgação/Gerdau

A nova geração da família Gerdau e o nascimento de uma marca de confiança

O comando do negócio foi confiado ao filho mais velho, Hugo Gerdau, então com 25 anos. Hugo havia acabado de retornar de uma viagem de dois anos aos Estados Unidos, onde conheceu novas tecnologias e estabeleceu contatos comerciais que seriam fundamentais para o futuro da empresa.

A fábrica de pregos iniciou suas operações importando arames da Europa e dos Estados Unidos. As remessas, de cerca de 80 quilos a cada 20 dias, muitas vezes chegavam enferrujadas, o que exigia um processo de limpeza antes da produção. Mesmo assim, a empresa consolidou uma reputação sólida graças a um detalhe que se tornaria um símbolo de confiança: cada saquinho de pregos pesava exatamente 1 quilo, uma prática incomum para a época.

Essa precisão e honestidade comercial rapidamente conquistaram o mercado. Sob a gestão de Hugo, a Fábrica de Pregos Hugo Gerdau cresceu e se tornou sinônimo de qualidade e credibilidade — lançando as bases do que viria a ser, décadas depois, o Grupo Gerdau, um dos maiores conglomerados industriais do país e referência mundial no setor do aço.

A era de Curt Johannpeter e a expansão para a siderurgia

Em 1946, a Gerdau iniciou uma nova fase sob a liderança de Curt Johannpeter, que assumiu a direção da empresa ao lado da esposa, Helga Gerdau, filha de Hugo Gerdau. Ex-inspetor do Deutsche Bank na América do Sul, Curt trouxe à companhia uma sólida experiência financeira e uma visão empresarial moderna, que ampliou as fronteiras do negócio familiar fundado em 1901.

Logo nos primeiros anos de gestão, Curt promoveu mudanças estruturais profundas. Em 1947, transformou a empresa em uma sociedade anônima, registrando-a na Bolsa de Fundos Públicos de Porto Alegre — um passo importante para profissionalizar a administração e atrair novos investimentos.

Determinando-se a reduzir a dependência externa e verticalizar a produção, Curt decidiu dar o passo mais decisivo da história da companhia: a compra da Siderúrgica Riograndense, em 1948. Com a aquisição, a Gerdau passou a produzir seu próprio aço, garantindo o fornecimento de arames para a fábrica de pregos e libertando-se da dependência da Cia. Belgo-Mineira, então a principal produtora nacional da matéria-prima.

Foi o início da produção do aço Gerdau, que se tornaria símbolo de qualidade e solidez no mercado brasileiro.

A expansão exigia capital e coragem. Para financiar reformas técnicas e administrativas nas novas unidades, Curt hipotecou sua própria casa — uma decisão arriscada, mas que se mostraria fundamental para o crescimento da empresa. Sua gestão marcou o início de uma cultura de ousadia disciplinada, que combinava prudência financeira com visão de longo prazo.

Entre suas inovações mais notáveis, Johannpeter introduziu no Brasil o conceito das mini-mills — usinas siderúrgicas não integradas que produzem aço a partir da reciclagem de sucata ferrosa, em contraste com as usinas integradas que extraem o ferro do minério.

O modelo, que décadas mais tarde se espalharia pelo mundo, reduzia custos operacionais, aumentava a eficiência e representava um avanço ambiental e tecnológico. Segundo dados da World Steel, em 2021, cerca de 28,9% do aço bruto mundial já era produzido nesse formato — uma confirmação da visão pioneira de Curt.

A filosofia de gestão implantada por Curt Johannpeter — crescer com segurança, aliando ousadia e disciplina — permanece como um dos pilares da cultura corporativa da Gerdau. Após consolidar a Riograndense e a Usina Farrapos, o executivo passou a buscar novos locais para a expansão industrial, abrindo caminho para a consolidação da companhia como uma das maiores produtoras de aço das Américas.

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A força do aço e da reciclagem

Hoje, a Gerdau é a maior produtora de aço do Brasil e uma das líderes globais em aços longos e especiais. Com 29 unidades produtoras de aço, duas minas de minério de ferro e 250 mil hectares de base florestal, a companhia tem presença em sete países das Américas e mais de 70 lojas da Comercial Gerdau espalhadas pelo Brasil.

A empresa também se destaca como a maior recicladora de sucata ferrosa da América Latina. Anualmente, transforma cerca de 11 milhões de toneladas de sucata em aço, o que representa 73% da sua produção total. Esse modelo circular contribui para reduzir o impacto ambiental e reforça o compromisso da Gerdau com a sustentabilidade e a economia verde.

Além da produção de aços longos, utilizados na construção civil e em infraestrutura, a empresa também fabrica aços planos e especiais voltados para os setores automotivo, industrial e agrícola. Parte do minério de ferro utilizado é produzido em minas próprias, garantindo maior autonomia e controle de qualidade.

Em 2024, a Gerdau registrou receita líquida de R$ 14,7 bilhões, refletindo o desempenho consistente da companhia, mesmo diante de um cenário global desafiador para a indústria do aço. As ações da empresa são negociadas nas bolsas de São Paulo (B3), Nova York (NYSE) e Madrid (Latibex), reforçando sua solidez e relevância no mercado financeiro internacional.

Estrutura e governança

A estrutura societária da companhia é formada pela Metalúrgica Gerdau S.A., que atua como holding controladora da Gerdau S.A. Esta, por sua vez, coordena as operações de siderurgia do grupo em diferentes países. O modelo de gestão mantém a essência familiar, mas é aliado a práticas modernas de governança corporativa e transparência.

Herdeiros da família Gerdau: da esquerda para a direita – Klaus, Germano, Jorge e Frederico. Foto: Divulgação/Gerdau

O Conselho de Administração da Gerdau é atualmente presidido por Jorge Gerdau Johannpeter, enquanto Klaus e Frederico Johannpeter ocupam cargos de vice-presidência. A nova geração da família também vem assumindo papéis estratégicos, garantindo a continuidade da tradição empresarial iniciada há mais de um século.

Compromisso com a sustentabilidade e inovação

A sustentabilidade é um dos pilares da estratégia da Gerdau. A empresa tem metas de longo prazo voltadas à descarbonização e busca se consolidar como referência global em aço verde. A utilização de sucata como principal matéria-prima já reduz significativamente as emissões de CO₂, além de diminuir o consumo de energia e de recursos naturais.

A companhia também investe em florestas plantadas de eucalipto, que fornecem carvão vegetal renovável utilizado em parte do processo produtivo, e mantém extensas áreas de preservação ambiental. Os projetos de inovação tecnológica têm foco em aumentar a eficiência energética, ampliar o uso de fontes renováveis e desenvolver produtos que contribuam para a sustentabilidade de outras cadeias produtivas.

Nos últimos anos, a Gerdau vem ampliando seus investimentos em tecnologia digital, automação e inteligência artificial. A meta é transformar suas operações em “usinas inteligentes”, capazes de integrar processos e otimizar recursos em tempo real.

Legado e futuro

O legado da Gerdau ultrapassa fronteiras e setores. Mais do que uma empresa produtora de aço, ela é símbolo da industrialização brasileira e da capacidade empreendedora de imigrantes que ajudaram a moldar a economia nacional.

A trajetória da companhia reflete o equilíbrio entre tradição e inovação: de uma fábrica de pregos artesanal em 1901 à liderança global na siderurgia moderna e sustentável.

Ao completar mais de 120 anos, a Gerdau reforça seu compromisso com o futuro. A empresa segue investindo em tecnologia, sustentabilidade e na formação de novas gerações de profissionais, mantendo viva a essência de seu fundador — a crença de que o trabalho, o progresso e a responsabilidade social caminham juntos.

Na história da Gerdau, o aço não é apenas matéria-prima: é símbolo de resistência, evolução e construção coletiva. E, assim como seus produtos, a empresa continua moldando o futuro — firme, duradouro e em constante transformação.