Viajando pelo interior de São Paulo, uma curiosidade toma conta da paisagem: a energia solar. Além das plantações de cana e eucalipto, é cada vez mais comum avistar fazendas solares no horizonte — uma infinidade de painéis fotovoltaicos ocupa os telhados das grandes propriedades rurais às casas mais simples.
De fato, entre 2020 e 2022, um dos melhores investimentos para os brasileiros foi a instalação de placas solares em imóveis.
Com regras favoráveis (subsídios) e o aumento constante da conta de luz, a decisão era óbvia: instalar painéis solares, gerar sua própria energia e escapar dos reajustes na conta de eletricidade.
Não por acaso, muitos brasileiros aproveitaram essa oportunidade. O número de instalações de geração distribuída (em que o consumidor gera sua própria energia) cresceu de maneira acelerada.
Certamente você também percebeu na sua região o avanço retratado no gráfico abaixo, com a mudança de configuração dos telhados na prática para abrigarem os painéis solares.

O crescimento dessa capacidade de geração é impressionante, mas há um problema: as placas solares só geram energia durante o dia (quando há sol).
Assim como não conseguimos “estocar o vento”, como sugeriu a ex-presidente Dilma Rousseff em um discurso na ONU que acabou rendendo inúmeras piadas nas redes sociais, também ainda não descobrimos como armazenar a luz solar de forma eficiente.
O problema é que as pessoas continuam consumindo energia elétrica mesmo quando o sol não está brilhando — especialmente no horário de pico, entre 18h e 19h. É nesse momento que o sistema elétrico mais precisa de energia, mas as usinas solares não estão gerando.
Para piorar esse cenário, a demanda por energia (carga) tem crescido consistentemente nos últimos anos, como atesta a seguinte imagem:

O que o sistema elétrico precisa, portanto, são de usinas que possam ser ligadas ou desligadas rapidamente para atender aos picos de demanda e cobrir as falhas das usinas solares e eólicas.
No Brasil, as hidrelétricas, que representam 46% de toda a capacidade de geração, funcionam como baterias naturais, aumentando sua produção nos horários de pico.
Agora, o que aconteceria se as hidrelétricas fossem insuficientes, ou se uma nova seca reduzisse sua capacidade de geração?
Bem, já estamos vendo isso acontecer.
Energia solar: fragilidade estrutural no sistema
Desde 2016, não construímos usinas hidrelétricas relevantes, enquanto o consumo de energia segue aumentando.
Por sorte, desde 2021 não enfrentamos uma seca severa, o que tem evitado que o problema fique evidente — mas é claro que há uma fragilidade estrutural no sistema.
Dá uma olhada nestas tabelas:


Como podemos ver, a participação das hidrelétricas deve cair até 2029, enquanto a participação da geração solar — tanto no formato de geração distribuída quanto de solar centralizada — deve crescer para 21,7% e 9,1%, respectivamente.
Portanto, o problema de intermitência tende a se agravar, o que deve tornar as hidrelétricas ainda mais valorizadas.
Como isso afeta seus investimentos?
As hidrelétricas estão sendo cada vez mais necessárias para o equilíbrio do sistema, mas ainda não são remuneradas adequadamente por isso. É aí que surge uma nova oportunidade para os investidores.
Como a energia é abundante durante o dia e escassa à noite, há uma diferença de preço: o chamado PLD horário (Preço de Liquidação das Diferenças). As hidrelétricas vendem a maior parte de sua energia justamente nos horários de preços mais vantajosos, o que deve aumentar sua rentabilidade.
Então devo comprar ações de empresas geradoras de energia agora?
Como quase sempre, a resposta é: depende. Apenas algumas empresas vão se beneficiar dessa tendência — especialmente aquelas com grande participação de usinas hidrelétricas e térmicas na matriz de geração.
Outro fator importante é o contrato de venda da energia. Para capturar esse movimento de alta nos preços, a empresa precisa ter parte da sua energia “em estoque” para comercializar no futuro.
Quando analisamos as empresas listadas que atendem a esses critérios, encontramos dois nomes com grande potencial: Eletrobras ($ELET6; $ELET3) e Copel ($CPLE6), verdadeiras “empresas para ganhar com os preços de energia”.
Veja a alta dos preços da energia desde o início de 2023…

Só nos últimos 12 meses, o preço da energia negociada no mercado subiu mais de 21%.
Portanto, se uma empresa tem um produto (energia) que está se valorizando, é lógico esperar que ela venda esse produto por um preço maior e tenha uma rentabilidade superior.
É exatamente o que está acontecendo com algumas empresas do setor elétrico.
E as usinas eólicas e solares, como ficam?
As usinas eólicas e solares, por outro lado, estão sendo impactadas negativamente. Como produzem energia de maneira intermitente (ou seja, sem controle sobre o momento em que a energia será gerada), elas não conseguem suprir a demanda nos horários mais críticos.
Além disso, essas usinas estão enfrentando um problema chamado curtailment — quando a geração de uma usina (geralmente eólica ou solar) precisa ser reduzida ou até mesmo interrompida por sobreoferta de energia ou por falta de capacidade de transmissão para escoar a energia gerada.
Assim, os geradores deixam de vender energia, o que reduz a receita e afeta a rentabilidade dos projetos. Por isso, muitas empresas focadas em energia renovável (eólica e solar) têm sido impactadas negativamente, o que se reflete em suas cotações na bolsa.
A oportunidade: da teoria à prática
Em resumo, o crescimento do setor não é visível apenas nas fazendas solares que tomam conta das paisagens pelo interior de São Paulo – se dá também no mercado de investimentos, como não poderia deixar de acontecer.
Mas, dada a abrangência do setor, é importante ter em mente que apenas algumas empresas vão se beneficiar dessa tendência, enquanto outras ainda sofrerão mais com a sazonalidade e fatores estruturais.
Como no caso, por exemplo, das empresas que controlam usinas hidrelétricas e térmicas, que devem se beneficiar da diferença de preço de energia e da necessidade de flexibilidade no sistema elétrico.
Se você já cliente EQI, aproveite para contar com o auxílio do seu assessor dedicado, que poderá ajudá-lo em suas decisões. Se ainda não é cliente, clique aqui e fale com um assessor agora mesmo.
Por João Zanott, analista CNPI EQI Research
Você leu sobre energia solar. Para investir melhor, consulte os e-books, ferramentas e simuladores gratuitos do EuQueroInvestir! Aproveite e siga nosso canal no Whatsapp!