O mercado de debêntures no Brasil vivencia um movimento atípico em 2024, com o resgate antecipado desses títulos atingindo níveis recordes. Entre janeiro e setembro, empresas brasileiras recompraram R$ 76,4 bilhões em debêntures, quase dez vezes o volume do mesmo período de 2023, que foi de R$ 8,3 bilhões.
Esse fenômeno tem gerado desafios para investidores, que precisam se adaptar a essa nova dinâmica do mercado de crédito, em que empresas aproveitam condições favoráveis para reestruturar suas dívidas.
Siga no texto e entenda o que acontece e como o investidor pode se proteger.
O que é o resgate antecipado de debêntures?
O resgate antecipado ocorre quando uma empresa decide recomprar seus títulos de dívida (debêntures) antes da data prevista de vencimento.
Esse movimento geralmente está vinculado a condições favoráveis no mercado, como queda nas taxas de juros ou melhoria nas condições de crédito, permitindo às empresas refinanciar suas dívidas a custos menores.
“As empresas estão aproveitando a oportunidade para pagar dívidas caras, emitidas em momentos de taxas mais elevadas, e substituí-las por dívidas mais baratas e longas”, explica Denys Wiese, estrategista da EQI Investimentos.
Mas, apesar de positivo para as empresas, o resgate antecipado de debêntures pode ser um golpe para o investidor, especialmente se ele esperava manter o título até o vencimento para garantir o rendimento.
Isso porque, quando a empresa decide resgatar antecipadamente, o investidor recebe o valor nominal do título ajustado pela correção acordada, mas perde a valorização extra de mercado que poderia ter ocorrido.
“Muitos investidores que compraram esses títulos em momentos de taxas mais altas podem enfrentar um deságio se esperarem pelo resgate”, afirma Wiese.
Para quem adquiriu títulos mais recentemente, a situação também pode ser desafiadora, já que os títulos podem estar pagando menos em comparação ao passado.

O que está acontecendo no cenário atual?
O cenário de 2024 é reflexo de uma conjuntura econômica marcada pela incerteza nas taxas de juros e uma série de mudanças regulatórias. Segundo Wiese, “está ocorrendo uma disfunção no mercado de crédito devido ao aumento da demanda por papéis isentos de impostos, como debêntures incentivadas, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs)”.
Com o governo limitando a oferta desses papéis em setores estratégicos, como o imobiliário e o agro, além de novas tributações sobre fundos exclusivos, muitos investidores migraram para a renda fixa, em busca de títulos isentos.
Essa migração em massa levou a uma alta demanda por debêntures, comprimindo suas taxas de retorno.
“O preço unitário dos títulos subiu, e a taxa de retorno caiu, pela simples regra de oferta e demanda”, aponta Wiese. Para as empresas, essa situação é ideal para resgatar suas dívidas antigas, que muitas vezes pagam juros altos, e emitir novas com condições mais vantajosas para elas.
No entanto, esse movimento de resgates antecipados afeta diretamente os investidores, especialmente os que adquiriram debêntures em momentos de taxas mais atrativas. “Se a empresa repagar o título, o investidor vai receber a marcação na curva e não a preço de mercado, o que pode causar perdas em relação ao valor atual do título”, alerta Wiese.
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Pegadinha da renda fixa?
É preciso explicar que a recompra antecipada de debêntures é prevista em lei e, nas regras da oferta, as condições já vêm especificadas, tanto a data a partir da qual poderá acontecer quanto o adicional a ser pago pelo emissor ao comprador sobre a correção e os juros estabelecidos na operação, uma espécie de “pedágio” pela antecipação, mas, até então, pouco utilizado pelas empresas. “Mas esse pedágio é geralmente baixo, de 1% ou 2%”, aponta Wiese.
Como o investidor pode se proteger?
Diante desse cenário, a proteção do investidor passa por uma estratégia que envolve conhecimento, diversificação e acompanhamento ativo do mercado. Wiese destaca três pontos principais:
- Buscar informação: O primeiro passo é entender as regras do resgate antecipado previstas no regulamento das emissões. Muitas debêntures possuem períodos de carência, o que pode oferecer maior segurança contra resgates antecipados. Também é importante estar atento ao pedágio pago quando a empresa opta pelo resgate antes do vencimento. Embora essa multa exista, ela nem sempre compensa totalmente as perdas.
- Diversificação: Evitar concentrar todos os recursos em um único papel ou tipo de ativo é fundamental. “Diversificar é a melhor maneira de reduzir o risco de impacto de um resgate antecipado”, afirma o especialista. Isso pode significar alocar parte dos investimentos em outras modalidades de renda fixa ou títulos de crédito privado, mas com características diferentes.
- Buscar gestão profissional: Contar com a expertise de gestores de fundos especializados pode ser uma solução eficaz. Fundos de investimentos com gestão ativa monitoram de perto as condições do mercado e podem tomar decisões rápidas para evitar perdas substanciais. “É mais seguro investir via fundos do que diretamente em um papel, já que o gestor avalia constantemente o cenário e as condições dos títulos”, ressalta Wiese.
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